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quinta-feira, 12 de maio de 2016

“Sonhar! Mas não ficar aquém”

Conta-se que um jovem, cuja imaginação não tinha limites, sonhava mudar o mundo!
 
Conforme foi crescendo, ia reconhecendo que afinal, seria mais razoável, mudar apenas o país...
 
Mas, com o tempo, pareceu-lhe também impossível. Quando chegou à velhice, já se conformava em tentar transformar a família, os que lhe estavam mais próximos.
 
Com o aproximar da doença que o impedia de se movimentar, reconheceu, finalmente, que tinha sido tudo em vão; muito pouco ou quase nada, tinha conseguido!
 
Agora, no seu leito, em que a vida tentava ir – se escapando, compreendeu uma coisa: “Ah, se pelo menos tivesse tentado começar por modificar-me a mim mesmo, talvez a minha família seguisse o meu exemplo e, com a sua inspiração e alento, talvez tivesse sido capaz de mudar o meu país e – quem sabe – talvez tivesse podido mudar o mundo”!...
 
Este relato recolhido num registo da Abadia de Westminster, pode servir-nos de reflexão, acerca do sentido crítico e do desejo de transformação que todos temos no nosso interior.
 
O sentido crítico, para ser eficaz, é necessário experienciá-lo em primeiro lugar, em nós próprios. Só quando sabemos o que custa melhorar e como é importante e libertador, só então poderemos observar os demais com alguma objetividade e ajudá-los realmente. Apenas aquele que tem experiência e é capaz de dizer as coisas a si mesmo, sabe depois como e quando dizê-las aos demais, e é capaz também de escutá-las dirigidas a si próprio, com boa disposição...
 
Deixar dizer as coisas com oportunidade, saber ouvir e agradecer, é sinal de grandeza espiritual e inteligência clara. Aprender da crítica construtiva é decisivo para fazer render os próprios talentos. Porque temos sempre muito a aprender, sempre poderemos melhorar!
 
Deste modo, reconhecemos que, como também advertiu com lucidez aquele homem no final dos seus dias, a chave da nossa capacidade para ajudar os outros, está sempre ligada à nossa capacidade de modificar-nos a nós mesmos.
 
Mas para a consecução de tão importantes objetivos, é imprescindível uma boa formação que exige, em primeiro lugar, um conjunto de conhecimentos que permita uma modificação qualitativa na nossa existência: uns amplos conhecimentos da própria especialidade profissional a par de um desejo universal de ter um mínimo de iniciação a outros saberes.
 
Em segundo lugar, é preciso procurar a formação do juízo: esse juízo que em ciência significa espírito crítico e método, que em arte se chama gosto, e que na vida prática se traduz em discernimento e lucidez. Paralelamente a essa formação, é necessário acrescentar, o exercício das virtudes individuais e sociais, assim como o cultivo de outras dimensões humanas, porque bem sabemos que para viver com acerto não basta o conhecimento. As pessoas de bem não se identificam simplesmente com as que sabem ética, mas sim com as que a põem em prática.
 
A formação deve despertar no mais profundo do coração humano, uma atração consistente para os valores. Deve descobrir a vida como um projeto que parte de uma plataforma que nós não escolhemos, mas que decorrerá pelos trilhos que nos propusemos. Como afirmava Ortega, a vida foi-nos dada, mas não nos foi dada feita.
 
Platão, por outro lado, assegurava que o objetivo da educação é a virtude e o desejo de converter-se em um bom cidadão; e insistia em que não pode classificar-se de educativa uma tarefa orientada a transmitir conhecimentos que não vão acompanhados da razão e da justiça.
 
Séneca, também assinalava que uma boa educação deve dotar a pessoa de uma sólida contextura moral, que a faça avançar na aquisição da ciência do bem e do mal.
 
Uma formação adequada, deve ajudar, necessariamente, a orientar retamente o uso da liberdade. Isto exige em primeiro lugar o ensino do bem, a seguir o alento para pô-lo em atos, mediante um responsável compromisso pessoal.
 
Lucidez para ver o que devemos fazer e força para querer fazê-lo, porque não somos como as máquinas que basta programar...
 
É evidente que a par do desenvolvimento da inteligência, deve estar a consolidação da vontade e a educação dos sentimentos, concretizados em compromisso pessoal.
 
Um compromisso para avançar por um caminho que requer esforço, sentido do dever, disciplina pessoal e sacrifício, porque sem ele, nada ou quase nada valioso pode conseguir-se, nem na vida intelectual, nem na vida moral.







Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário


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