Ataques de conhecidas empresas contra a Carolina do Norte, que quer
manter as casas de banho públicas separadas pelo sexo biológico. Mas a
atitude muda quando tais empresas fazem negócios no exterior
Gender Neutral Toilet - Wikimedia Commons |
Pecunia non olet, diziam os latinos. O dinheiro não tem
cheiro, nem sequer quando é sujo de sangue inocente. Ainda estão
espalhados pela terra da Carolina do Norte, nos Estados Unidos, os
fragmentos das roupas rasgadas dos directores de algumas das mais
importantes multinacionais mundiais.
O escândalo suscitado em alguns novatos defensores dos direitos civis
tem sido uma lei desse Estado, que proíbe as pessoas de usar casas de banho reservadas para o sexo oposto registado na certidão de nascimento.
Portanto, um homem não pode entrar na casa de banho das mulheres, embora ele
“se sinta” uma mulher. E vice-versa. Um impedimento que pareceria óbvio
e de bom senso até pouco tempo atrás.
Dessa forma levantou-se um alarido mediático, que envolveu várias
figuras públicas e algumas grandes empresas, todos juntos apontando o
dedo para a Carolina do Norte. Pay Pal, por exemplo, decidiu cancelar a
abertura de uma sede sua neste Estado. Uma escolha que – de acordo com o
que foi anunciado pela própria empresa – custa a renúncia de um
investimento de 3,6 milhões de euros e a criação de mais de 400 postos
de trabalho.
Na mesma linha da Pay Pal, uniram-se também as conhecidas indústrias
de hi-tech, como Facebook, Google e Apple. Esta última até publicou um
comunicado no qual condena a decisão do Governador da Carolina do Norte
de ter assinado a lei em questão. “A nossa empresa e a Apple Sotre – diz
a empresa – são abertas a qualquer um, independentemente de onde
cheguem, de como apareçam, das suas religiões ou de quem amam”. E depois
ainda, eis a reprimenda moralista: “O nosso futuro como americanos
deveria ser centralizado na inclusão e na prosperidade, não na
discriminação e divisão”.
Pena que os cabeças da marca com a maçã mordida, e os cabeças de Pay
Pal, não apresentem tantos problemas éticos quando fazem investimentos
em Países que não são precisamente “abertos a qualquer um”.
Quem fez notar a trave nos olhos desses puritanos gay-friendly foi o
Washington Times. O jornal publicou, de facto, que Pay Pal abriu um
centro de operações globais na Malásia. Um País – ressalta-se – que no
próprio código penal prevê punições severas contra qualquer um que tenha
uma “conduta homossexual”. Varia das 20 chicotadas à prisão até 20
anos.
John McCabe, vice-presidente sénior para as operações globais de Pay
Pal, declarou quando foi aberto o centro na Malásia, em 2013, que teria
dado trabalho para 500 pessoas e que a escolha de escolher o País
asiático foi motivada pela força de trabalho altamente qualificada,
competitiva e multilingue, bem como por infraestrutura tecnológica.
“Mas nem Pay Pal, nem a Malásia são casos isolados”, observou o
Washington Times. Muitas das empresas que ameaçaram cortar os laços com a
Carolina do Norte, esforçam-se para construir canais comerciais com
Países liderados por regimes extremamente repressivos contra as pessoas
homossexuais.
A sede internacional de Pay Pal está localizada em Singapura, onde as
relações entre pessoas do mesmo sexo são punidas com dois anos de
prisão. A empresa tem, também, um centro de desenvolvimento de software
em Chennai, na Índia, onde certamente há tantos informáticos preparados,
mas onde ao mesmo tempo existe o artigo 377 do código penal, que pune
as relações sexuais “contra a natureza”, entre as quais a sodomia e a
felação. Matt Sharp, consultor jurídico da organização cristão sem fins
lucrativos Alliance Defending Freedom, destacou que as acções de certas
empresas no estrangeiro fazem mais barulho do que as suas palavras
pronunciadas em casa.
Barulho que vem da boca flamejante do dragão. A Apple possui muitas
fábricas na China, onde os homossexuais até o ano de 2001 eram
considerados enfermos mentais destinados a uma “terapia de cura” com
cargas eléctricas. Terapia que – como revelou algumas pesquisas – ainda
está em uso hoje em algumas clínicas chinesas.
A própria Apple abriu lojas recentemente na Arábia Saudita. No País
do Golfo não se consome energia eléctrica para “curar” as pessoas
homossexuais porque são eliminadas com métodos brutais e rápidos. O
jornal saudita Ozak anunciou que Riade queria aplicar a pena capital
também a quem somente se declara homossexual, sem que houvesse a
necessidade de evidências de que a homossexualidade tivesse sido
praticada.
É o paradoxo do capitalismo. No Ocidente, agitam a bandeira do
arco-íris, consciente do grande negócio que gira em torno do estilo de
vida homossexual, dos lucros potenciais derivantes das biotecnologias
aplicadas à reprodução humana, à venda de ovócitos, ao útero de aluguel e
à tecnociência. Em outro lugar se ajoelham ao emir ou ao ditador do
momento, que, com a mão direita acena dólares e com a esquerda reprime
os homossexuais. Bem diferente de casas de banho lgbt…
in
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