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quarta-feira, 13 de abril de 2016

O Papa: “No Jubileu, abolir a pena de morte e cancelar a dívida dos Estados mais pobres”

Francisco escreve para o cardeal Turkson e aos participantes da Conferência Internacional sobre a não violência, em andamento em Roma até o dia 13 de Abril


Foto: CTV
Abolir a pena de morte, onde quer que ela esteja em vigor, junto com a possibilidade de uma amnistia, e o cancelamento ou a gestão sustentável da dívida internacional dos Estados mais pobres. É o que pede o Papa Francisco na sua mensagem dirigida ao cardeal Turkson e a todos os participantes do Congresso, em andamento em Roma até 13 de Abril, sobre o tema: Nonviolence and Just Peace: Contributing to the Catholic Understanding of and Commitment to Nonviolence (A não-violência e paz justa: Contribuir para a compreensão católica e compromisso com a não violência).

A reunião, que foi organizada conjuntamente pelo Pontifício Conselho Justiça e Paz e pelo Movimento Pax Christi – destaca o Papa – “assume um carácter e um valor totalmente particular no Ano Jubilar da Misericórdia”. A misericórdia, de fato, é “fonte de alegria, de serenidade e de paz”; paz antes de tudo “interior”, que “nasce da reconciliação com o Senhor”, escreve o Pontífice.

E oferece, no texto, a solução para combater aquela “singular e terrível ‘Guerra Mundial em pedaços” que, até hoje, grande parte da humanidade está vivendo de uma forma directa ou indirecta”. Ou seja “trabalhar para uma paz verdadeira através do encontro entre pessoas concretas e a reconciliação entre povos e grupos que se confrontam por posições ideológicas contrapostas” e “comprometer-se para realizar aquela justiça na qual as pessoas, as famílias, os povos e as nações sentem ter direito, no plano social, político e económico para fazer a sua parte no mundo”.

Junto do “sábio esforço daquela superior fantasia criativa, que chamamos diplomacia que deve ser continuamente alimentada”, e “à promoção, no mundo globalizado, da justiça”, o Bispo de Roma convida, portanto, a “renovar todos os instrumentos mais adaptados para concretizar a aspiração à justiça e à paz dos homens e das mulheres de hoje”.

Neste sentido, afirma, “a reflexão para relançar o caminho da não violência, e especialmente da não violência activa, constitui um necessário e positivo contributo”. Premissa fundamental “é que o objectivo último e mais digno da pessoa humana e da comunidade é a abolição da guerra”.

O Papa repete, portanto, o Concílio Vaticano II cuja única condenação expressa “foi precisamente aquela da guerra, mesmo na consciência de que, não sendo esta erradicada pela condição humana, uma vez esgotadas todas as possibilidades de um pacífico acomodamento, não se poderá negar aos governos o direito de uma legítima defesa”.

Outro ponto firme que o Pontífice ilustra aos participantes do encontro de Roma é a constatação de que “o conflito não pode ser ignorado ou dissimulado”, mas “deve ser aceito para não permanecer presos perdendo a perspectiva geral e o sentido da unidade profunda da realidade”. De fato, “só aceitando o conflito, é possível resolver e transformar em um anel de ligação daquele novo processo que os que trabalham pela paz colocam em acto”.

Além disso, enfatiza Francisco “como cristãos, sabemos que somente considerando os nossos semelhantes como irmãos e irmãs, poderemos superar as guerras e conflitos”. E a Igreja “não se cansa de repetir o que vê não só a nível individual mas também a nível dos povos e das nações”, tanto que ela considera comunidade internacional como a “Família das Nações”.

Nesta óptica, Bergoglio identifica como “grande obstáculo a ser removido” aquele “erguido pelo muro da indiferença”, que “investe não só os seres humanos, mas também o ambiente natural com consequências muitas vezes desastrosas em termos de segurança e de paz social”. Demonstra-o claramente o registo dos tempos recentes.

“O compromisso para superar a indiferença será bem sucedido, só se, na imitação do Pai, formos capazes de usar misericórdia”, salienta Francisco. Ou seja, “aquela misericórdia que encontra na solidariedade a sua expressão, por assim dizer, ‘política’”, porque a solidariedade “constitui a atitude moral e social que melhor responde à tomada de consciência das chagas do nosso tempo e da interdependência entre a vida do indivíduo e da comunidade familiar, local ou global”.

Então, é “grande” no nosso mundo “complexo e violento”, a tarefa que espera aqueles que trabalham pela paz vivendo a experiência da não violência. “Conseguir o desarmamento integral ‘desmonta os espíritos’, criando pontes, combatendo o medo e levando adiante o diálogo aberto e sincero, é verdadeiramente árduo”, admite o Papa.

“Dialogar, de fato, é difícil”, acrescenta: No entanto “é necessário estar prontos a dar e também receber, a não partir do pressuposto de que o outro esteja errado, a partir das nossas diferenças, procurar, sem negociar, o bem de todos e, encontrado, finalmente um acordo, mantê-lo com firmeza”.


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