Como ajudar os filhos a serem misericordiosos?
A pergunta acima pode passar pela cabeça de vários pais que querem
aproveitar ao máximo esse tempo de graças proclamado pelo Papa
Francisco, afinal, o Ano Santo da Misericórdia é um convite para todos
os cristãos, de todas as idades. À procura de algumas respostas para
essa questão, conversamos com um casal experiente, que tem muita riqueza
para compartilhar sobre o tema.
Edson e Rosângela Pieralise são de Londrina/PR, são do Instituto de
Famílias de Schoenstatt e pais do Gabriel (19), do Rafael (17) e da
Beatriz (14). Por meio de exemplos bem práticos do seu dia a dia, eles
dão várias ideias que ajudam a inserir os filhos na corrente de
misericórdia que inspira e inquieta a Igreja.
Para viver bem, em família, este Ano Santo, o casal indica três
pontos chave para reflexão, repletos de exemplos simples que podem ser adoptados por muitos lares. Acompanhe:
1º Peregrinar, em família, às Portas Santas
Peregrinar, cruzar a Porta Santa da Misericórdia nada mais é do que o
colocar-se no coração de Jesus, do Bom Deus. Podemos dizer que é
encontrar-se com o olhar misericordioso de Deus que nos espera. É muito
forte isso. Eu me deixo abraçar por Deus, deixo-me olhar por ele.
Certa vez eu (Edson) estava no Santuário rezando. Chegaram então
várias crianças e a Irmã (de Maria) que as acompanhava começou a falar:
“Aqui dentro chove, chove muito”. As crianças olharam para todos os
lados, procurando onde estavam os buracos. “Mas, como Irmã?”. Ela
respondeu: “Aqui chovem muitas graças e muitas bênçãos. Cada vez que
vocês vêm ao Santuário, saem empapados, encharcados de graças”. Com essa
história podemos dizer que cada vez que cruzamos a Porta Santa, ficamos
empapados, encharcados com a misericórdia de Deus.
Algo que devemos notar é que há uma diferença muito grande entre um
peregrino e um turista. A gente PEREGRINA à Porta Santa. Isso é muito
bonito para mostrar aos nossos filhos que somos todos peregrinos, pois
viver é peregrinar e peregrinar é viver. Para o peregrino, o percurso é
importante, ele se deixa tocar, se deixa transformar, ele vivência a
jornada e não somente exteriormente, mas permite que ela lhe toque o
coração.
É também importante perceber que ao atravessar a Porta Santa vamos
aprendendo a sair de nós mesmos, pois rezamos pelo Papa, pelas intenções
da Santa Igreja. Há ainda um incentivo para os sacramentos da Confissão
e da Eucaristia, já que para receber a indulgência plenária é
necessário passar por eles. Precisamos vivenciar tudo isso em família,
não ele ou ela mais que o outro, mas todos juntos, incluindo os filhos.
2º O meu Santuário Lar e o meu Santuário Coração se tornem um oásis de misericórdia
Isso envolve se deixar tocar e transformar por Deus. Para ser misericordioso é preciso ter uma experiência de misericórdia.
Uma vez nós fizemos uma vivência de lava-pés em casa, algo que
aprendemos com nossos irmãos de Curso. Foi celebrada uma Missa de Perdão
entre nós, pai e filhos, no nosso Santuário Lar. Um sentava na cadeira e
os outros lavavam seus pés, pedindo perdão por tudo que tinha feito,
pelas coisas que o magoaram, muitas vezes sem perceber. Era bonito
porque quem lavava os pés pedia perdão e quem sentava na cadeira
perdoava, depois trocávamos de lugar. Outra coisa que fazemos juntos é
perdoar um ao outro em toda Missa que participamos. No ato penitencial a
gente pede perdão a Deus, mas também entre nós, seja pelo olhar ou por
um toque de mão, sempre sabemos que ali vivenciamos o perdão.
Por que contamos tudo isso? Qual a importância do perdão no contexto
da misericórdia? É que o perdão garante a manutenção da vida familiar,
faz a nossa casa ficar sempre nova. Então para que o meu Santuário Lar e
o meu Santuário Coração sejam um oásis de misericórdia é preciso passar
pela experiência do perdão.
É importante ainda se atentar para as obras de misericórdia
que o Papa nos fala. Por exemplo, o dar de comer. Nós moramos num
prédio, então algumas vezes que fazemos nossas refeições, levamos um
prato de comida para o porteiro. São os nossos filhos que levam e eles
já sabem, não estão levando a comida somente para o porteiro, mas para
Jesus. Sempre que eles ganham roupa nova, doam as mais velhas, eles
mesmos doam. Os três também vão visitar a avó doente, cantam e rezam com
ela; as obras de misericórdia estão muito perto, não é preciso buscar
atitudes distantes. Uma vez nós estávamos passeando e passou uma
ambulância perto de nós, aí meu filho, pequeno, falou: “Vamos rezar por
essa pessoa”. Agora, toda vez que vemos uma ambulância, um motoqueiro
caído ou um acidente, nós rezamos por essa pessoa. Isso foi se
incorporando e nem nos demos conta de que são obras de misericórdia. Em
casa nós temos uma caderneta de oração para as pessoas que pedem para
rezarmos, ela fica no Santuário Lar e nós anotamos o nome do todos. É
interessante que muitos actos de misericórdia são coisas que todos já
fazemos, o que muda é que agora tomamos mais consciência e damos um
sentido maior a isso.
Uma dica é aproveitar as coisas que temos no dia-a-dia para
transformar nosso Santuário Lar e nosso Santuário Coração num oásis de
misericórdia. Por exemplo, a música. Tem uma canção lindíssima que fala:
“Todo o teu pecado, em toda a tua vida, é uma pequena gota que se
derramou no mar da misericórdia infinita de Deus” (Misericórdia
Infinita, Walmir Alencar). O filme e o musical ‘Os Miseráveis’ são muito
bonitos também, porque mostram como a misericórdia é decisiva para o
personagem principal, como transforma a vida dele. A gente pode também
descobrir a misericórdia por meio de leituras, várias vezes partilhamos
trechos da Bula do Ano Santo, Misericordiae Vultus, do Papa Francisco, e
como ela há vários outros livros. É um incentivo para ler com os
filhos, em família.
3º Ser imagem do Pai de Misericórdia para os filhos
Os pais são o primeiro rosto de Deus para os filhos. Este é um ano
para nós nos questionarmos, como pais, se nossos filhos estão levando
uma imagem boa de Deus Pai misericordioso. Nesse ano especial é tempo de
pedir graças para curar as feridas do nosso coração para que eu possa
ser um pai melhor, pois quanto mais filho eu for diante de Deus, melhor
pai eu serei para os meus filhos.
Podemos dizer que é um ano de cura, para que o meu coração seja mais
parecido com o Sagrado Coração de Jesus, um ano especial de graças para
que a gente possa ver esse Deus da vida presente em nossa história, nos
mistérios gozosos, luminosos, dolorosos e gloriosos da nossa vida. Que
nesse ano nossos filhos possam ver em nós o rosto de Deus e que também
levemos o desafio de olhar para trás, para nossa história e encontrar
Deus nela, para assim curar nossas feridas e tentarmos ser pais e mães
melhores.
(Texto enviado à ZENIT por Karen Bueno)
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