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sábado, 6 de fevereiro de 2016

Carta a quem sofre

Soube há pouco que o meu tio, a quem estava diagnosticado um carcinoma, recebeu ontem a notícia de que se soma ao quadro clínico já anunciado, uma leucemia. É sempre difícil quando o sofrimento “bate à porta”, à nossa ou à de quem amamos (arrisco-me a dizer que neste caso, até mais difícil). E como as palavras ditas, às vezes, não se encontram, decidi escrever esta “carta”, ao meu tio, à minha tia e a todos os que sofrem, na Esperança de acender uma chama de calor, por mais pequena que possa ser, na alma de cada um.
 
Tenho a convicção profunda que nada nesta vida se perde. De tudo o que nos acontece se pode tirar algo. O mal, o sofrimento, a dor, não são a última palavra deixada ao Homem. De todo o mal podemos tirar Bem. O caminho não é fácil e requer que nos acolhamos a aceitar a vida como ela se nos depara, sem revoltas (infrutíferas e causadoras de dores ainda maiores), mas antes com uma aceitação serena e eficaz, trabalhada dentro do nosso coração, onde tudo se passa afinal.
 
Um dia ouvi e retive: “as circunstâncias da nossa vida são o abraço que Deus nos dá e de tudo o que nos acontece podemos fazer tesouro. Não regateemos a vida que Ele nos dá e tomemo-la com amor”.     
 
Deus É Pai. Por Amor e no respeito da Liberdade que Ele mesmo nos concedeu, não interfere no decurso normal da vida, afetada pelas circunstâncias pessoais e sociais de cada história humana. Contudo, pode interferir e, na medida da nossa Fé, recebemos tantas graças extraordinárias. Os milagres continuam a acontecer, sim, em pleno século XXI.
 
Gosto de contar com os amigos e por isso recorro à sua intercessão, sobretudo à dos que já se encontram em Deus. Há santos que foram e serão sempre desconhecidos e outros que, pela dimensão da sua vida e pela influência que tiveram na vida de tantos, a Igreja nos dá constantemente a alegria de proclamar como tal (depois dos devidos processos de canonização). Todos foram homens e mulheres como nós. E todos foram muito amigos de Deus e dos homens, seus irmãos. Recorramos aos que tivermos mais carinho, pessoal, humano porque humanos somos todos, também nas amizades que temos.
 
Todos sabemos o “peso” de um pedido cheio de carinho fraterno, de um irmão que intercede por outro irmão (que poderá ter feito algum traquinice) junto do pai ou da mãe, que finge estar muito renitente em perdoar a travessura. Se, pelo amor ao filho transgressor já se dispunha a passar por alto a “ofensa”, quanto mais comovido (a) se sente com a intercessão do irmão preocupado e atento. Se é assim entre nós, homens, cheios de malícia e ressentimentos, como não será no coração do nosso Deus, Pai amoroso que não se cansa de perdoar e acolher. Mas, Deus sabe mais e vê do alto da montanha, onde não há “ângulos mortos” e, por isso, na Sua Misericórdia infinita, saberá conceder-nos segundo o que for realmente melhor.
 
No fim, o coração sereno sorrirá, como a criança ao colo da mãe, sabendo que ali, naquele refúgio seguro, “aconteça o que acontecer, não acontece nada”.







Cristina Berrucho Figueiredo,
professora


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