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domingo, 7 de fevereiro de 2016

A fraternidade: um antídoto para a alienação, para a crise e para o terror

A fraternidade é um nobre princípio que afirma que todo ser humano, imagem do Criador, deve ser solidário, procurar compreender e ajudar o seu semelhante



A sociedade contemporânea é marcada por uma série de graves problemas, entre eles é possível citar: os diversos níveis de alienação individual e social, as diversas crises que se abatem sobre os indivíduos e as instituições (crise ética, crise política, crise financeira, etc) e as diversas ondas de terror (terror religioso, terror no quotidiano, terror oriundo das políticas do Estado, etc) que, a cada dia, tornam a vida das pessoas mais ameaçadas.

Em muitos aspectos, as primeiras décadas do século XXI foram uma repetição de políticas autoritárias, do desejo de conquista e de vingança, de ideologias políticas alienadas (nazismo, socialismo, marxismo, etc) que marcaram o final do século XIX e a primeira metade do século XX. Parece que o ser humano não aprendeu com todo o horror vivido no século XX e, por isso, no século XXI ele está repetindo, em níveis e escalas diferentes, os mesmos erros e as mesmas políticas autoritárias desse século.

Não se deseja apresentar uma solução mágica, fácil e rápida para esse complexo sistema de crises, erros e de problemas. No entanto, apresenta-se a fraternidade como uma real possibilidade de ser um antídoto para o amplo conjunto formado pela alienação, pela crise e pelo terror. Um conjunto que, como uma sombra negra e maligna, assombra o século XXI.

A fraternidade é um nobre princípio que afirma que todo ser humano, imagem do Criador, deve ser solidário, procurar compreender e ajudar o seu semelhante. Essa ajuda vai desde as tarefas do quotidiano, passando por problemas (doença, prisão, loucura, viúves, criação dos filhos, aconselhamento matrimonial, etc) até chegar aos níveis mais distantes do quotidiano, como, por exemplo, os refugiados das guerras do Oriente Médio, a fome na África, a juventude drogada e alienada na Europa e nos EUA e outros. Trata-se de um princípio, o ser fraterno, que está estabelecido desde os gregos antigos, com a noção de ajuda mútua dentro da Pólis, passando pela pregação de Jesus Cristo e pelo cristianismo, até chegar à modernidade com a revolução francesa (1789-1799), a qual tinha como lema a celebre frase: “Liberdade, igualdade, fraternidade”.

Como demonstra o jurista Lafayette Pozzoli “Liberdade, igualdade, fraternidade” foram princípios interpretados pela revolução francesa politicamente, marcando a história do Ocidente moderno. Enquanto a liberdade e a igualdade foram assumidas como categorias políticas, a fraternidade teve outro destino. Enquanto a liberdade foi o tema político do século XIX, a igualdade foi o tema central das preocupações das políticas e das ideologias do século XX, a fraternidade foi reduzida a um segundo ou terceiro plano, não sendo central nos debates políticos, filosóficos e jurídicos do mundo moderno. É por isso que o pensador Antonio Maria Baggio afirma que a fraternidade é o princípio esquecido dentro do mundo moderno.

Por si só a fraternidade não poderá resolver os graves problemas e crises vividos pelo homem e pela sociedade moderna. No entanto, é necessário que a fraternidade deixe de ser o princípio esquecido. O mundo moderno só irá superar a alienação, a crise e o terror se tiver a coragem de voltar a pensar, a reflectir e, acima de tudo, experimentar novamente a fraternidade. O clamor do Apóstolo Paulo, quando afirma que o ser humano deve ter e estar cheio de “misericórdia, de bondade, de humildade, de mansidão, de longanimidade. Suportai-vos uns aos outros” (Colossenses 3, 12), deve novamente ecoar dentro do coração do ser humano. Sem a experiência da fraternidade será difícil construir um mundo melhor, melhor do que foi as duas grandes guerras mundiais e todo horror vivido ao longo do século XX.


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