Recente estudo norte-americano revela com mais clareza os efeitos negativos
Roma, 30 de Setembro de 2013
Os jogos de azar em casinos estão se tornando cada vez mais
populares entre os norte-americanos e vêm causando inúmeros problemas,
como, por exemplo, o aumento da desigualdade económica.
Esses dados foram apresentados em uma pesquisa publicada na semana
passada, intitulada “Por que os casinos são um problema: trinta e uma
provas baseadas nas ciências sociais e da saúde”. A pesquisa é do
Conselho de Casinos dos Estados Unidos, um grupo independente formado
por especialistas convocados pelo Instituto de Valores Americanos, cuja
sede fica em Nova Iorque.
Até 1990, os únicos casinos legais no país ficavam em Las Vegas e em
Atlantic City. Ao longo das últimas duas décadas, porém, surgiram casinos em todo o território dos Estados Unidos, cobrindo um total de
23 estados.
O relatório ressalta que também tem havido uma transformação no poder
de atracção que os casinos exercem sobre o público. Os casinos do
“velho estilo” dependiam muito dos grandes jogadores que empenhavam
somas vultosas nas mesas de jogo. Hoje, os casinos estão de olho nos
jogadores médios e pequenos, que apostam pequenas quantidades de
dinheiro em máquinas caça-níqueis e são propensos a voltar a jogar
muitas vezes.
Em 1991, havia 184 mil máquinas caça-níqueis nos EUA. Em 2010, elas
chegaram a 947.000. Em 2013, entre 62% e 80% da receita dos casinos
proveio das máquinas caça-níqueis.
Os modernos caça-níqueis, diz o dossier, "são programados para apostas
contínuas, rápidas e repetidas". Eles ficam ligados a um computador
central que recolhe informações sobre as preferências do jogador e
programa cada máquina para um determinado estilo de jogo. "As máquinas
são projectadas para fazer os apostadores jogarem mais e perderem mais",
diz o relatório.
As pessoas que têm a primeira experiência de jogos de azar nas
máquinas caça-níqueis apresentam maiores chances de se tornar
dependentes da jogatina. O relatório cita um estudo australiano que
demonstra que quase a metade das pessoas que usam as máquinas
caça-níqueis revelam sintomas de vício.
O jogo excessivo tem impacto significativo sobre as famílias,
prossegue o relatório. Além dos problemas financeiros, os cônjuges dos
jogadores correm alto risco de violência doméstica. Jogadores
patológicos apresentam alta probabilidade de divórcio ou separação. Os
filhos também são afectados e se vêem frequentemente privados do direito a
férias ou até mesmo a cursar a faculdade.
O relatório admite que há benefícios económicos de curto prazo para
uma comunidade quando um casino é aberto em seu território. No longo
prazo, porém, os custos sociais são significativos, embora difíceis de
quantificar.
Um caso especial é o de Atlantic City. Há cerca de 40 anos, quando os casinos foram autorizados pela primeira vez na cidade, a publicidade
os anunciava como um meio para melhorar a situação económica da região.
Hoje, apesar da ajuda do governo, Atlantic City "continua a ser uma
cidade economicamente atrasada".
Além disso, se o jogo frequente é incentivado, o resultado é que
somas de dinheiro cada vez mais abundantes não são injectadas, mas
subtraídas da comunidade, com todos os danos que a economia local sofre
em decorrência desse empobrecimento.
Em Atlantic City, por exemplo, havia 242 restaurantes e bares em 1977. Em 1996, o número tinha caído para 142.
Os promotores do casino, diz o dossier, afirmam trazer entretenimento
para os muitos americanos que gostam de jogos de azar ocasionalmente.
Os autores da pesquisa, no entanto, salientam que a receita dos casinos
depende significativamente dos jogadores patológicos.
"As evidências dos estudos científicos sobre a relação entre a
receita dos casino e a problemática dos jogadores patológicos leva à
conclusão de que os casinos lucram de modo desproporcional com esse
tipo de pessoas", afirma o relatório.
O dossier cita uma variedade de estimativas obtidas de várias fontes.
O percentual de receitas derivadas de jogadores patológicos varia de um
terço à metade das receitas totais.
As estimativas vêm de onze estudos, publicados não só nos Estados Unidos, mas também no Canadá e na Austrália.
Um estudo canadense descobriu que os jogadores casuais são 75% do
total, mas eles contribuem com apenas 4% do total das receitas dos jogos
de azar.
O arcebispo de Toronto, cardeal Thomas Collins, se manifestou
recentemente sobre o assunto. Em sua carta pastoral sobre o jogo e os casinos, ele conta que, durante o seu ministério, tornou-se
dolorosamente consciente dos problemas que afectam indivíduos e famílias
devido ao jogo patológico.
Os governos são tentados pela perspectiva de lucrar com os impostos
do sector. No entanto, o impacto social negativo do aumento do jogo
excede significativamente os benefícios de mais dinheiro para os cofres
do governo, afirma o cardeal.
O jogo ocasional pode ser uma forma legítima de entretenimento, diz
Collins, mas "os indivíduos, governos e organizações de caridade podem
se tornar escravos do lucro advindo do jogo, e isso, obviamente, é
prejudicial".
"O jogo se baseia essencialmente em uma ilusão: a promoção da
fantasia, especialmente sedutora para os mais fracos e desesperados, um
jeito fácil de tentar achar uma solução rápida para os problemas
financeiros", prossegue o cardeal.
"É uma ilusão cruel e não é sensato que os governos a promovam, muito
menos mediate uma extensa publicidade". O lembrete do cardeal é de
fundamental importância: o papel do governo se estende para além do
equilíbrio fiscal e o bem comum deve ser a maior prioridade.
in
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