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quarta-feira, 14 de dezembro de 2016

Quando Deus brinca e usa fraldas


" - Jesus é brincalhão?!!! Eu pensava que era muito sério.... "

Espanto do Guilherme, um dos meninos da catequese. Recontávamos o episódio dos discípulos de Emaús (Cfr Lc, 24, 13-35), um dos relatos mais divertidos do Evangelho (que parece nada ter a ver com o Natal, mas entra aqui que nem uma luva…) Eles, os discípulos, todos cabisbaixos, e Jesus vem, junta-se-lhes no caminho, e pergunta porque estão tristes. "- Então não sabes o que aconteceu com Jesus de Nazaré?" etc etc " E Jesus, como se não fosse com Ele próprio: "- Que foi? " E eles contam, contam, contam tudo...e escutam… e conversam... E Jesus a rir-se para dentro, sem se dar a conhecer, a jogar às escondidas, até chegarem ao cruzamento do "restaurante" (os miúdos atualizaram o relato...). Aí, brinca de faz de conta que vai na direção oposta à dos nossos amigos tristonhos.

"- Fica connosco, que se faz noite..." Sabemos o resto. Ficou.

É isso que é sempre incrível: ficou! Deus veio até este planetazito, até ao nosso restaurante de beira da estrada, até a um estábulo....e .... Ficou!!! ( - O que é um estábulo, catequista? - É a casa dos animais, dos bois, das vacas, das ovelhas... - A sério!? E não cheirava mal?! - Sim, cheirava mal.)

Uma amiga minha disse me uma vez que antropomorfizava (até custa a dizer...) Deus. Não tenho culpa! Deus fez - se Homem! Jesus é um verdadeiro ser humano e verdadeiro Deus. Ri, "brinca em toda a superfície da terra e faz as suas delícias entre os filhos dos homens (cfr Pr 8,31)" e suja fraldas como todos os bebés. Por isso é que, nos presépios, tem sempre uma lavadeira à beira do rio de papel de prata. É para lavar as fraldas de linho do Menino Jesus e pô las a corar no rosmaninho. (Rimou!) Assim, ficam branquinhas e a cheirar muito bem. Uma e outra vez, que ser Deus e Homem também tem destas coisas...

A estas horas, alguém poderá estar um tudo-nada escandalizado, agastado talvez, com estas considerações tão prosaicas. Também não tenho culpa. O cristianismo é, sem dúvida, algo sublime. Contudo, a Boa Nova que traz e anuncia é algo de escandaloso e provocante: que Deus encarnou. Com esta crueza, veio a este mundo com carne e ossos como os nossos. A encarnação não tem nada a ver com o vermelho do Benfica ou do Pai Natal. Também não significa que Jesus tivesse ficado corado, embora tivesse razões para isso, ao ver-Se metido nestas nossas alhadas.

Daí que, para espanto do Guilherme e nosso, esta época do Natal é óptima para contemplar o Menino Deus em qualquer bebé que chora, ri e brinca ao nosso lado, a quem temos de embalar, mudar fraldas ou entreter. E porque não? Em qualquer idoso ou doente a quem tenhamos de prestar os mesmos serviços. Sem contar aquela pequenas “partidas” quotidianas em que descobrimos a mão de um Deus que se diverte a brincar connosco.

Maria Amélia Freitas









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