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domingo, 25 de dezembro de 2016

Cinema: Filme «Silence» levou atores a praticarem durante meses os «exercícios espirituais» jesuítas


Padre consultor de Martin Scorsese revela pormenores acerca da rodagem desta obra, que estreia esta sexta-feira nos EUA

Lisboa, 23 dez 2016 (Ecclesia) – O padre jesuíta James Martin, consultor de Martin Scorsese para o filme “Silence” (Silêncio), que estreia hoje nos Estados Unidos, destaca um projeto que “interpela profundamente a fé e a vida” e que desafiou os atores na sua “espiritualidade”.

A nova obra do realizador norte-americano, baseada em factos reais, conta a história dos missionários jesuítas portugueses no Japão e a perseguição movida aos cristãos naquele país, durante o século XVII.

Numa entrevista difundida através das redes sociais pela Companhia de Jesus em Portugal, o padre James Martin aponta três questões fundamentais presentes na nova obra de Martin Scorsese.

Em primeiro lugar “o que é que Deus pede” a cada pessoa e como lidar quando esta pergunta parece ter apenas como resposta “o silêncio”.

O enredo do filme parte da figura do jesuíta Cristóvão Ferreira (1580-1650), interpretada por Liam Neeson, um missionário português que terá renunciado à fé cristã depois de ter sido torturado.

Acompanha ainda o percurso de outros dois missionários que a Companhia de Jesus envia à procura de Cristóvão Ferreira, nesta caso duas personagens fictícias, Sebastião Rodrigues e Francisco Garupe, assumidas pelos atores Andrew Garfield e Adam Driver.

“ A apostasia não é uma coisa boa”, mas aqui “aparece como expressão de compaixão”, diz o padre James Martin, lembrando que “os inquiridores japoneses diziam aos jesuítas que se não negassem a fé eles fariam mal aos cristãos”.

Sebastião Rodrigues, a personagem principal do filme, interpretada por Andrew Garfield, é a expressão mais visível desta luta interior, deste esforço em perceber o que Deus pede em determinada situação, neste caso na situação limite de “renunciar à fé”.

“Rodrigues chega a um ponto em que a coisa certa a fazer parece ir contra tudo aquilo que lhe foi ensinado, contra aquilo que a cultura cristã diria ser a atitude correta a tomar, e até os seus colegas jesuítas em Portugal”, refere o padre James Martin.

Daí que o filme ‘Silence’ também coloque questões essenciais relacionadas com a “fidelidade” e a “missão”.

“Hoje em dia o trabalho missionário é frequentemente denegrido e mesmo atacado. Mas eu costumo perguntar às pessoas; deixariam tudo para trás para viajarem para o outro lado do mundo, para proclamarem com risco de vida o Evangelho a pessoas que, na vossa pátria, a maioria pensa que nem são dignas de evangelização? Para mim os missionários continuam a ser grandes heróis”, sustenta o padre James Martin.

O sacerdote jesuíta ajudou o realizador Martins Scorsese e o argumentista Jay Cocks no aperfeiçoamento do guião original.

“Basicamente o que queriam saber era o que é que um jesuíta pensaria em determinada situação, o que é que faria, o que diria e mesmo como rezaria”, explica o membro da Companhia de Jesus, que partilha o desafio que este projeto representou para os atores e sobretudo para Andrew Garfield.

Para ajudá-los a entender o seu papel, o sacerdote trabalhou com eles os chamados ‘Exercícios Espirituais’, uma prática de oração criada por Santo Inácio de Loiola, o fundador da Companhia de Jesus.

“Percorremos todas as etapas dos exercícios, desde o início ao fim, durante vários meses, o que permitiu ao Andrew entender o seu papel mas também foi uma experiência muito pessoal para ele. Uma vez mergulhando nos exercícios deixa de ser apenas um projeto a fazer mas também algo entre nós e Deus”, frisa o padre James Martin.

Com um orçamento de cerca de 50 milhões de dólares, o novo filme de Martin Scorsese, estreia esta sexta-feira nos Estados Unidos da América e tem lançamento previsto em Portugal no dia 19 de janeiro.

A propósito desta obra, a Fundação do Oriente em parceria com a Companhia de Jesus em Portugal e a NOS Audiovisuais promovem a realização de uma conferência e de visitas guiadas temáticas, centradas no contexto histórico e religioso do relacionamento Portugal-Japão.

A conferência acontece a 11 de janeiro de 2017, com entrada livre mas sujeita a inscrição; as visitas guiadas ao Museu serão nos dias 14, 21 e 28 de janeiro.

JCP/OC

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