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sábado, 10 de dezembro de 2016

A propósito do dia 10 de Dezembro…

Os prémios Nobel foram fundados por Alfred Nobel, químico, engenheiro e industrial sueco (1833-1896) que em 1895 doou a sua fortuna à Fundação que tem o seu nome, definindo o objectivo de distinguir personalidades que durante o ano anterior tenham prestado um valioso contributo à humanidade, nos sectores da Física, da Química, da Fisiologia e Medicina, da Literatura, da Paz e da Economia, independentemente de critérios como a nacionalidade, a raça, a religião e a ideologia. Começaram a ser distribuídos a 10 de dezembro de 1901, cinco anos após a morte do fundador e ainda hoje é neste dia que se homenageiam os premiados. 

A Declaração Universal dos Direitos Humanos foi proclamada pela Assembleia Geral da Organização das Nações Unidas a 10 de dezembro de 1948 em consequência das atrocidades cometidas durante a 2ª Guerra Mundial, especialmente, pelos nazis. Neste documento são enunciados os direitos individuais e coletivos considerados fundamentais para a vida do ser humano, sem discriminação de raça, género ou nacionalidade.
 

“Acabei de perder o Prémio Nobel”.

Jérôme Jean Louis Marie Lejeune nasceu em Montrouge, França, no ano de 1926. A sua adolescência foi marcada pela 2ª. Guerra Mundial, queria ser médico pediatra de aldeia e começou a interessar-se pelo mongolismo. Em 1952 decidiu dedicar-se à pesquisa científica e o resultado do seu trabalho foi, em 1960, objecto da sua tese de doutoramento. Descobriu a trissomia 21 (patologia cromossómica responsável pelo síndrome de Down) - um terceiro cromossoma adicionado ao par 21 (dos 23) produz determinados elementos químicos em excesso, que causam desequilíbrios funcionais. Nunca desistiu da ideia de “desligar” (desactivar) este cromossoma excedentário (supranumerário). Com a sua equipa, descobriu muitas outras doenças cromossómicas. Foi também dos primeiros cientistas a provar que a vida humana começa na concepção e não na nidação. 

Em 1962, é-lhe atribuído o prémio Kennedy, nos Estados Unidos. Em 1965, é titular da primeira cadeira de Genética Fundamental, em Paris. O seu trabalho científico constituiu o alicerce sobre o qual se passou a assentar a citogenética, pelo que foi considerado internacionalmente como o Pai da Genética Moderna.

Em Agosto de 1969, a Sociedade Americana de Genética Humana concede-lhe a mais alta distinção que se pode atribuir a um especialista em genética – o “William Allen Memorial Award”.

No discurso de agradecimento, foi longamente aplaudido pela nata dos cientistas presentes. No entanto, estes aplausos deram lugar a um silêncio sepulcral, quando Jérôme Lejeune afirmou que a pessoa humana já existe por inteiro no embrião, pelo que era contrário à lei moral usar o diagnóstico pré-natal de síndrome de Down para abortar tais embriões afirmando que a sociedade não deve lutar contra a doença suprimindo o doente. Nessa mesma noite desabou com sua mulher: “Acabei de perder o Prémio Nobel”. E assim foi…

A convite do Papa Paulo VI, em 1974, aceitou ser membro da Pontifícia Academia das Ciências e, em 1994, João Paulo II nomeou-o como primeiro presidente da recém criada Pontifícia Academia para a Vida. No sábado da Páscoa de 1994, faleceu em Paris. Nas orações fúnebres, os seus colegas não deixaram de afirmar que lhe era devido um Prémio Nobel, que só não lhe foi atribuído por preconceitos ideológicos… 

O Papa João Paulo II enviou uma mensagem ao arcebispo de Paris aquando da morte do cientista e rezou no seu túmulo, em 1997, por ocasião das Jornadas Mundiais da Juventude na capital francesa. Nessa mensagem João Paulo II classificou-o como “um grande cristão do século XX”, “um homem para quem a defesa da vida se tornou um apostolado”. E sobre ele escreveu ainda: “Na sua função de cientista biólogo, ele apaixonou-se pela vida. Na sua área de trabalho, foi uma das maiores autoridades a nível mundial. Vários organismos o convidavam para fazer conferências e solicitavam o seu parecer. Era respeitado até mesmo por aqueles que não compartilhavam as suas convicções mais profundas. Desejamos hoje agradecer ao Criador, de quem toda paternidade recebe o seu nome (Ef 3,15), o carisma especial do defunto. Devemos falar de carisma, porque o professor Lejeune sempre soube utilizar o seu profundo conhecimento da vida e dos seus segredos para o autêntico bem do homem e da humanidade, e tão-somente para isto. Tornou-se um dos ardentes defensores da vida, particularmente da vida dos nascituros, que em nossa civilização contemporânea é muitas vezes ameaçada, a ponto de se poder pensar em ameaça programada.”

Casado e pai de 5 filhos, foi um homem sábio que mostrou com a sua vida de família e o seu trabalho competente que não há contradição entre a fé e a ciência, se uma e outra se mantiverem honestamente na esfera que lhe é própria.
Após a sua morte, uma Fundação com o seu nome dá continuidade ao trabalho em favor dos pacientes com síndromas de origem genética e tem como lema: Chercher, soigner, défendre. Conhecida e reconhecida pelo rigor científico dos seus trabalhos e pela defesa da dignidade da vida humana esta Fundação editou um Manual de Bioética para Jovens, pais e educadores, o qual se encontra traduzido em português. 

No momento crucial em que na nossa sociedade se continuam a discutir os limites no controlo da vida e da morte é fundamental reflectir se tudo o que é legal será necessariamente justo e se tudo o que é científica e tecnicamente possível, será eticamente correcto.
Maria Susana Mexia





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