Papa canonizou jovens italianos, sublinhando devoção à Eucaristia e atenção aos mais necessitados
“Irmãos e irmãs, hoje é um dia de grande festa para toda a Itália, para toda a Igreja, para todo o mundo! E antes de começar a solene celebração da canonização, gostaria de saudar e dizer algumas palavras a todos vós, porque, se por um lado a celebração é muito solene, por outro é também um dia de grande alegria”, disse, antes da Missa, perante os peregrinos reunidos no Vaticano.
Leão XIV dirigiu-se, em particular, aos “muitos jovens” que quiseram participar nesta Missa.
“É realmente uma bênção do Senhor: encontrarmo-nos juntos com todos vós que viestes de diferentes países. É realmente um dom da fé que queremos partilhar”, referiu.
Prometendo passar em papamóvel entre a multidão, no final da celebração, o pontífice saudou os familiares dos novos santos, as delegações oficiais e os vários movimentos presentes.
“Preparamo-nos para esta celebração litúrgica com a oração, com o coração aberto, desejando receber verdadeiramente esta graça do Senhor. E sentimos todos no coração o mesmo que Pedro Jorge e Carlos viveram: este amor por Jesus Cristo, sobretudo na Eucaristia, mas também nos pobres, nos irmãos e nas irmãs. Todos vós, todos nós, somos chamados a ser santos. Que Deus vos abençoe”, concluiu, perante dezenas de milhares de pessoas que acorreram ao local, desde as primeiras horas da manhã, com cartazes e bandeiras de vários países.
A canonização é a confirmação, por parte da Igreja Católica, de que um fiel católico é digno de culto público universal e de ser dado aos fiéis como intercessor e modelo de santidade.
Este é um ato reservado à Santa Sé, desde o século XII, e é ao Papa que compete inscrever o novo Santo no cânone.
Pouco depois do início da Missa, o prefeito da Congregação para as Causas dos Santos, cardeal Marcello Semeraro, acompanhado pelos postuladores dos jovens beatos, pediu formalmente que sejam inscritos no “álbum dos Santos”.
“Em honra da Santíssima Trindade, para exaltação da fé católica e incremento da vida cristã, com a autoridade de nosso Senhor Jesus Cristo, dos Santos Apóstolos Pedro e Paulo e a nossa, após ter longamente refletido, invocado várias vezes o auxílio divino e escutado o parecer dos nossos irmãos no episcopado, declaramos e definimos como santos os beatos Pier Giorgio Frassati e Carlo Acutis, inscrevemo-los no Álbum dos Santos e estabelecemos que em toda a Igreja eles sejam devotamente honrados entre os Santos”, refere a fórmula de canonização, proferida em latim por Leão XIV.
Os relicários dos dois novos santos foram colocados junto ao altar, com as respetivas relíquias.
O Missal para a celebração apresenta a biografia dos dois novos santos.
“Carlo Acutis é o primeiro santo da geração millennial. Ele nasceu em Londres (Reino Unido) a 3 de maio de 1991. Naquela época, os seus pais, originários de Itália, viviam em Londres, onde o seu pai trabalhava”, começa por referir o texto relativo ao adolescente que, com poucos meses de idade, regressou a Milão, onde frequentou a escola primária.
O Vaticano destaca que, “na vida de Carlo nunca faltaram sinais concretos de sua profunda ligação com a Eucaristia: a participação diária na missa ou a ‘comunhão espiritual’ nos dias em que estava ocupado com a escola, os pequenos sacrifícios feitos em reparação às faltas de amor a Jesus Eucaristia e as histórias contadas aos amigos.”
“É famosa a sua frase: ‘A Eucaristia é a minha autoestrada para o Céu’”, acrescenta a nota biográfica.
O documento destaca o uso da informática, que usou na promoção da oração do Rosário.
Carlo era um adolescente de bom coração, alegre e sorridente. Ele não escondia sua fé e seu amor por Jesus. Preocupava-se em ajudar colegas da escola em dificuldade e, no bairro onde morava, ajudava com sua amizade e com parte de sua mesada os pobres que pediam esmola.”
O Papa Francisco reconheceu um primeiro milagre, ocorrido na Arquidiocese de Campo Grande (Brasil), em 2013, por intercessão de Carlo, o que tornou possível a sua beatificação a 10 de outubro de 2020, na basílica de São Francisco em Assis.
O reconhecimento de um segundo milagre, ocorrido em Florença, em 2022, abriu o caminho para a sua canonização.
Pier Giorgio Frassati foi canonizado 100 anos depois da sua morte, a 4 de julho de 1925.
O novo santo nasceu em Turim a 6 de abril de 1901, “filho de uma das famílias burguesas mais influentes” da cidade italiana.
“A sua profunda fé alimentava-se da Eucaristia diária, da oração e da confissão frequente”, recorda o Vaticano.
Frassati esteve ligado às Conferência Vicentinas e “passava a maior parte do seu tempo livre a visitar famílias pobres, sacrificando o seu dinheiro para ajudar os mais necessitados”.
“De temperamento alegre e expansivo, viveu no ambiente universitário o valor da amizade e da proximidade com todos, sem medo de manifestar a sua fé”, tendo integrado a Juventude Católica e recebido hábito da Ordem Terceira Dominicana.
O Vaticano sublinha que, durante os anos do fascismo, o novo santo “pagou várias vezes com a sua própria pele o seu envolvimento no associacionismo católico e nas fileiras do Partido Popular”.
“Antes de entrar em coma e falecer, recebeu os últimos sacramentos da fé. Muitas pessoas participaram no funeral e na sua última despedida”, conclui o texto.
A sua beatificação foi presidida por São João Paulo II, em 20 de maio de 1990, na Praça de São Pedro; em 2024, o Papa Francisco reconheceu um milagre atribuído à intercessão de Pier Giorgio Frassati, nos Estados Unidos da América.
O cardeal Marcello Semeraro, prefeito do Dicastério para as Causas dos Santos, destacou ao portal do Vaticano a importância de canonizar Pier Giorgio Frassati (1901-1925) e Carlo Acutis (1991-2006), apresentados como modelos de santidade para as novas gerações.
“Há santos que, como salientava a mística Madeleine Delbrêl, crescem em viveiros porque estão num instituto religioso, são consagrados. Há outros, como Acutis e Frassati, que estiveram no mundo, os santos da rua”, precisou.
OC
Notícia atualizada às 09h25 de 07.09.2025
No pontificado de Francisco (2013-2025) foram canonizados, entre outros, Francisco e Jacinta Marto, pastorinhos de Fátima; D. Frei Bartolomeu dos Mártires (1514-1590), arcebispo de Braga, arquidiocese que incluía na altura os territórios das dioceses de Braga, Viana do Castelo, de Bragança-Miranda e de Vila Real; o sacerdote português Ambrósio Francisco Ferro, morto no Brasil a 3 de outubro de 1645 durante perseguições anticatólicas, por tropas holandesas; o padre José Vaz, nascido em Goa, então território português, a 21 de abril de 1651, que foi declarado santo no Sri Lanka; e José de Anchieta(1534-1597), religioso espanhol que passou por Portugal e se empenhou na evangelização do Brasil. |
Sem comentários:
Enviar um comentário