Nesta
época de regresso às aulas pareceu-me pertinente e oportuno consultar um livro
sobre ensino/aprendizagem, dum autor que fosse claro, compreensível, de bom
senso e muito saber nesta área tão nobre, que nos últimos tempos tem sido alvo
de experiências ideológicas que pouco a têm beneficiado.
Todos
sabemos como é importante saber ensinar e saber aprender, proporcionar uma
adequada e completa formação aos jovens, quer no plano científico, quer no
humano, no social e no ético.
Tarefa
ambiciosa para discentes e docentes, na certeza de que é o futuro do jovem
aprendiz, o aluno, que está em jogo e não pode nem deve correr riscos.
As
últimas décadas foram pródigas em falácias de facilitismo demagógico e ideológico
na área da educação, com recurso a terminologia woke.
Todos
sentimos e percebemos que muitos estabelecimentos de ensino estão a atravessar
uma crise de valores, de formação total e integral dos nossos jovens.
Sem
mais delongas transcrevo algumas passagens muito elucidativas do livro em
questão:
«Aprender
porquê e para quê? Há décadas que se discute o que esperamos do nosso sistema
de ensino e se é possível melhorá-lo. Este ensaio regressa ao tema, mas a
partir dos desenvolvimentos científicos que podem ajudar a educação, na área
das ciências cognitivas, dos estudos estatísticos, da economia da educação e
das análises comparativas internacionais.
Nestas
páginas, defende-se um currículo ambicioso, centrado no conhecimento e não em
competências vagas. Explica-se a necessidade de uma avaliação válida, frequente
e rigorosa e defendem-se apoios aos alunos que revelam maiores dificuldades.
Elogiam-se os professores e a aprendizagem. Porque o amor ao saber ainda vive
entre nós, é possível avançarmos para um ensino informado pela experiência,
pelos dados e pela ciência.»
O
conhecimento é importante e conhecer não é fácil. É preciso conhecimento para
saber procurar mais conhecimento, “o homem aprende na proporção do que sabe,
sabe nada, nada aprende, sabe muito, muito mais aprenderá…”.
«Recordemos
que a memória é um recurso demasiado útil para ser desperdiçado, a memória
também ajuda a compreender. (…) Quanto mais se souber de uma matéria, melhor se
compreenderá outra. O conhecimento é, não só a base de outros conhecimentos
como também da capacidade de desenvolver competências. As “skills”, novas
competências nascidas nas últimas duas décadas do século passado, serão um
complemento prático do saber teórico, todavia basear um curriculum
exclusivamente em competências é muito redutor e insuficiente. O ensino básico
da formação dos estudantes deve ser o conhecimento e não as competências». (…)
Um
«facto curioso, no estudo PISA, que inclui mais de meio milhão de alunos e
representa 29 milhões de estudantes de 72 países, os fatores mais positivos
para os bons resultados são os associados à condução da aula pelo professor. Os
mais negativos são os associados à iniciativa dos alunos na exploração dos
conceitos científicos e na condução das experiências».
Porque
se fazem testes, para que servem os exames?
«A
resposta simples é esta: fazem-se testes para conhecer o estado da educação, ou
seja, os progressos alcançados pelos jovens. Centenas de estudos em sala de
aula têm confirmado a importância do efeito de teste. (…) Perguntar, testar,
perguntar de novo obriga o aluno a pensar, a recupera a informação que,
naturalmente, está meio perdida na sua memória de longo prazo e ainda não
consolidada. Essa recuperação é um fator de aprendizagem muito poderoso. Obriga
a olear o cérebro, a clarificar as ideias, a aprender. Afinal, a ideia da
inutilidade dos testes vai não só contra a racionalidade e a experiência
docente como também contra a ciência moderna.»
Nuno
Crato é um matemático e educador português, conhecido pelas suas contribuições
à matemática aplicada e à política educacional em Portugal.
Foi
presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (2004–2010), presidente do
Taguspark (2010–2011) e Ministro da Educação e Ciência (2011–2015).
É
um autor prolífico, tendo escrito mais de uma dezena de livros sobre matemática
e educação, além de colaborar com a imprensa, rádio e televisão.
Divulgador
científico e colaborador em educação, alguns dos seus livros estão publicados
em várias línguas e países, incluindo o Reino Unido, Espanha, Itália e Brasil,
nomeadamente A Matemática das Coisas (SPM/Gradiva 2008) e Figuring It Out
(Springer 2010). Pelos seus trabalhos, recebeu prémios da Sociedade Europeia de
Matemática (2003) e da Comissão Europeia (2007). Foi agraciado como Comendador
(2008) e Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2016), e com a Grã-Cruz da
Ordem da Instrução Pública (2022).
Nuno Crato continua a ser uma figura influente na promoção da ciência e da educação em Portugal, contribuindo para o debate sobre a melhoria dos sistemas educacionais e da formação de professores.
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