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segunda-feira, 15 de setembro de 2025

O último livro que li

“Aprender” de Nuno Crato, lançado em 2024, pela Fundação Francisco Manuel dos Santos.

Nesta época de regresso às aulas pareceu-me pertinente e oportuno consultar um livro sobre ensino/aprendizagem, dum autor que fosse claro, compreensível, de bom senso e muito saber nesta área tão nobre, que nos últimos tempos tem sido alvo de experiências ideológicas que pouco a têm beneficiado.

Todos sabemos como é importante saber ensinar e saber aprender, proporcionar uma adequada e completa formação aos jovens, quer no plano científico, quer no humano, no social e no ético.

Tarefa ambiciosa para discentes e docentes, na certeza de que é o futuro do jovem aprendiz, o aluno, que está em jogo e não pode nem deve correr riscos.

As últimas décadas foram pródigas em falácias de facilitismo demagógico e ideológico na área da educação, com recurso a terminologia woke.

Todos sentimos e percebemos que muitos estabelecimentos de ensino estão a atravessar uma crise de valores, de formação total e integral dos nossos jovens.

Sem mais delongas transcrevo algumas passagens muito elucidativas do livro em questão:

«Aprender porquê e para quê? Há décadas que se discute o que esperamos do nosso sistema de ensino e se é possível melhorá-lo. Este ensaio regressa ao tema, mas a partir dos desenvolvimentos científicos que podem ajudar a educação, na área das ciências cognitivas, dos estudos estatísticos, da economia da educação e das análises comparativas internacionais.

Nestas páginas, defende-se um currículo ambicioso, centrado no conhecimento e não em competências vagas. Explica-se a necessidade de uma avaliação válida, frequente e rigorosa e defendem-se apoios aos alunos que revelam maiores dificuldades. Elogiam-se os professores e a aprendizagem. Porque o amor ao saber ainda vive entre nós, é possível avançarmos para um ensino informado pela experiência, pelos dados e pela ciência.»

O conhecimento é importante e conhecer não é fácil. É preciso conhecimento para saber procurar mais conhecimento, “o homem aprende na proporção do que sabe, sabe nada, nada aprende, sabe muito, muito mais aprenderá…”.

«Recordemos que a memória é um recurso demasiado útil para ser desperdiçado, a memória também ajuda a compreender. (…) Quanto mais se souber de uma matéria, melhor se compreenderá outra. O conhecimento é, não só a base de outros conhecimentos como também da capacidade de desenvolver competências. As “skills”, novas competências nascidas nas últimas duas décadas do século passado, serão um complemento prático do saber teórico, todavia basear um curriculum exclusivamente em competências é muito redutor e insuficiente. O ensino básico da formação dos estudantes deve ser o conhecimento e não as competências». (…)

Um «facto curioso, no estudo PISA, que inclui mais de meio milhão de alunos e representa 29 milhões de estudantes de 72 países, os fatores mais positivos para os bons resultados são os associados à condução da aula pelo professor. Os mais negativos são os associados à iniciativa dos alunos na exploração dos conceitos científicos e na condução das experiências».

Porque se fazem testes, para que servem os exames?

«A resposta simples é esta: fazem-se testes para conhecer o estado da educação, ou seja, os progressos alcançados pelos jovens. Centenas de estudos em sala de aula têm confirmado a importância do efeito de teste. (…) Perguntar, testar, perguntar de novo obriga o aluno a pensar, a recupera a informação que, naturalmente, está meio perdida na sua memória de longo prazo e ainda não consolidada. Essa recuperação é um fator de aprendizagem muito poderoso. Obriga a olear o cérebro, a clarificar as ideias, a aprender. Afinal, a ideia da inutilidade dos testes vai não só contra a racionalidade e a experiência docente como também contra a ciência moderna.»

Uma imagem com Cara humana, pessoa, gravata, vestuário

Descrição gerada automaticamente

Nuno Crato é um matemático e educador português, conhecido pelas suas contribuições à matemática aplicada e à política educacional em Portugal.

Foi presidente da Sociedade Portuguesa de Matemática (2004–2010), presidente do Taguspark (2010–2011) e Ministro da Educação e Ciência (2011–2015).

É um autor prolífico, tendo escrito mais de uma dezena de livros sobre matemática e educação, além de colaborar com a imprensa, rádio e televisão.

Divulgador científico e colaborador em educação, alguns dos seus livros estão publicados em várias línguas e países, incluindo o Reino Unido, Espanha, Itália e Brasil, nomeadamente A Matemática das Coisas (SPM/Gradiva 2008) e Figuring It Out (Springer 2010). Pelos seus trabalhos, recebeu prémios da Sociedade Europeia de Matemática (2003) e da Comissão Europeia (2007). Foi agraciado como Comendador (2008) e Grã-Cruz da Ordem do Infante D. Henrique (2016), e com a Grã-Cruz da Ordem da Instrução Pública (2022).

Nuno Crato continua a ser uma figura influente na promoção da ciência e da educação em Portugal, contribuindo para o debate sobre a melhoria dos sistemas educacionais e da formação de professores.

Maria Susana Mexia


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