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sábado, 8 de março de 2025

Turismo religioso pode ser “ferramenta poderosa” ao “criar momentos de partilha e escuta”

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Conferência em Fátima

 | 07/03/2025


O turismo tem capacidade para ser uma “ferramenta poderosa”, mas, para isso, “é preciso incluir itinerários que promovam o diálogo inter-religioso, criar momentos de partilha e escuta, e incentivar práticas de hospitalidade inter-religiosa”. Esta proposta foi lançada por Sandra Reis, presidente da Igreja Evangélica Presbiteriana de Portugal, que na manhã desta quinta-feira, 6 de março, interveio enquanto representante da Igreja Evangélica, na 12ª edição dos Workshops Internacionais de Turismo Religioso, que está a decorrer no Centro Pastoral Paulo VI, em Fátima.

Sandra Reis foi uma das participantes numa conferência inter-religiosa dedicada ao tema “Turismo religioso como caminho de paz e fraternidade humana”. A moderar este momento esteve Fabrizio Boscaglia, subdiretor do mestrado em Ciência das Religiões da Universidade Lusófona e docente no Turismo de Portugal, que ao apresentar um dos intervenientes – Shiv Kumar Singh, representante do hinduísmo – fez questão de deixar uma curiosidade.

“Sabiam que há turistas religiosos hindus que por vezes visitam Fátima? Eu próprio estive cá com um grupo multirreligioso, em que aprendi que há devotos do chamado hinduísmo que vão a Fátima porque têm curiosidade de sondar este tema do sagrado feminino, presente no hinduísmo, e que eles encontram em Fátima”, referiu Fabrizio.

Na sua intervenção, Shiv Kumar Singh, presidente da Associação Casa da Índia e diretor do Centro de Estudos Indianos, destacou os efeitos das viagens. “O que acontece é que, quando estamos a viajar, nós estamos sempre a aprender coisas novas. Há uma enorme diversidade em Portugal e essa diversidade atrai milhões de pessoas.”

Carlos Cabecinhas, reitor do Santuário de Fátima, interveio enquanto representante da Igreja Católica, destacando que “muitos turistas de outros credos religiosos, e sem outras adesões religiosas” visitam a Cova da Iria. “O tema da paz acompanha este lugar. Fátima é um lugar de paz. É minha convicção profunda que o turismo religioso pode ser, efetivamente, caminho para a construção da paz, e meio para fomentar uma efetiva fraternidade humana, e creio que é essa a experiência de muitos turistas e peregrinos que experimentam este lugar”, referiu.

Como representante do Islão, Khalid Jamal, membro da Comunidade Islâmica de Lisboa, destacou que o turismo religioso “é um caminho para a paz, pois cria espaço onde o diálogo e o entendimento mútuo podem florescer”. “Através das viagens, abrimos os ensinamentos divinos e enriquecemos a nossa experiência humana”, realçou.

A representar o judaísmo esteve Isaac Assor, antigo vice-presidente da Comunidade Judaica de Lisboa, que destacou que o turismo religioso, “ao ser praticado de forma respeitosa, pode ajudar a cultivar uma cultura de tolerância, e o respeito entre os grupos religiosos”. “Quando os turistas visitam locais religiosos com uma atitude de aprendizagem e não de julgamento, isso ajuda a desmistificar preconceitos, e a combater estereótipos sobre as diferentes religiões”, indicou, alertando depois para as guerras e um comércio desmedido, que podem afetar as experiências de quem viaja ou deseja fazê-lo. “É importante reconhecer que embora o turismo religioso possa fomentar o encontro pacífico, também existem desafios. Conflitos históricos e políticos podem influenciar as experiências dos turistas em determinadas regiões. Além disso, o comercialismo excessivo em torno de locais religiosos pode diluir o carácter sagrado desses lugares.”

Em representação do budismo, estava prevista a intervenção de Paulo Borges, antigo presidente da União Budista Portuguesa, que acabou por não acontecer por motivos de doença. No decorrer deste painel, o moderador Fabrizio Boscaglia lembrou aqueles que vivem em regiões do mundo onde decorrem conflitos, dando o exemplo da Faixa de Gaza, assim como todas as pessoas que se deslocam no mundo, mas que “viajam em pobreza e na miséria”, estando sujeitos aos “preconceitos” associados ao “fenómeno migratório”. O desejo de paz para o mundo e de melhoras para o Papa Francisco foram assuntos que marcaram as intervenções de quase todos os oradores. Os Workshops Internacionais de Turismo Religioso prosseguem em Fátima na sexta-feira, dia 7 de março, com o programa do encontro a estender-se também até à Guarda, no dia 9.

Imagem de destaque: A conferência inter-religiosa contou com as intervenções de Khalid Jamal, Isaac Assor, Sandra Reis, Fabrizio Boscaglia, Shiv Kumar Singh e Carlos Cabecinhas. © Juliana Baptista

Texto redigido por Juliana Batista/revista Fátima Missionária, ao abrigo da parceria com o 7MARGENS.



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