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domingo, 16 de março de 2025

Papa convoca a Igreja Católica para uma Assembleia Eclesial em 2028

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Decisão histórica

 e  | 15/03/2025

O Papa Francisco convocou uma assembleia eclesial de toda a Igreja Católica no Vaticano, em outubro de 2028, para avaliar o estado da concretização da sinodalidade nas igrejas locais e em todas as comunidades religiosas. A notícia foi divulgada este sábado num comunicado assinado pelo cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos.

Já comunicada a todos os bispos e presidentes de conferências episcopais nacionais e internacionais, a decisão pontifícia, presumivelmente preparada nos últimos meses, foi tomada no passado dia 11 de março.

A decisão significa que, pela primeira vez na história, será realizada uma assembleia deste género, congregando representantes de todo o mundo, e de todos os setores eclesiais do catolicismo – clero, consagrados e leigos.

O comunicado da Secretaria-geral do Sínodo informa que, por ora, não há a intenção de convocar um novo sínodo dos bispos, “optando-se, em vez disso, por um processo de consolidação do caminho já percorrido”, em torno da construção de uma Igreja sinodal.

A mobilização de toda a Igreja inicia-se com a presente convocação e desenvolve-se através de um conjunto de etapas seguintes:

  • maio de 2025: publicação do Documento de apoio para a fase de implementação com orientações para essa fase;
  • junho de 2025até dezembro de 2026: percursos de implementação nas Igrejas locais e nos seus agrupamentos;
  • 24-26 de outubro de 2025: Jubileu das equipas sinodais e dos órgãos de participação;
  • primeiro semestre de 2027: assembleias de avaliação nas dioceses e eparquias (equivalente das dioceses nas Igrejas orientais);
  • segundo semestre de 2027: Assembleias de avaliação nas conferências episcopais nacionais e internacionais, nas estruturas hierárquicas orientais e em outros agrupamentos de Igrejas;
  • primeiro semestre de 2028: assembleias continentais de avaliação;
  • junho de 2028: publicação do Instrumentum laborispara o trabalho da Assembleia eclesial de outubro de 2028;
  • outubro de 2028: realização da Assembleia Eclesial no Vaticano.

“É de fundamental importância – refere a carta – garantir que a fase de implementação seja ocasião para envolver novamente as pessoas que contribuíram e para devolver os frutos da escuta de todas as Igrejas e do discernimento dos pastores na Assembleia sinodal”. “Dessa forma, o diálogo já iniciado na fase de escuta terá continuidade”, acrescenta o documento.

 

Renovar equipas, reativar as que estão suspensas

O cardeal Mario Grech, secretário-geral do Sínodo dos Bispos, assina o comunicado que dá conta da decisão histórica. Foto © Wikimedia Commons

Não se esperem “diretrizes vindas de cima” para esta fase, refere ainda a missiva aos bispos. Tal como o Papa já deixou claro na intervenção que fez no encerramento da XVI Assembleia Geral do Sínodo dos Bispos e num documento posterior, o referencial para a concretização da Igreja sinodal continua a ser o Documento Final então aprovado em Roma.

Para esta nova fase, sugere-se que as equipas sinodais (diocesanas) sejam “eventualmente renovadas” e as que estiverem suspensas devem ser reativadas. As dioceses que até agora “investiram menos no caminho sinodal”, têm agora “uma oportunidade de recuperar” do atraso e, mesmo, “formar suas próprias equipas sinodais”. A informação sobre a constituição dessas equipas deve ser dada à Santa Sé e todas elas serão convidadas a participar, de 24 a 26 de outubro próximo, no Jubileu das equipas sinodais e dos órgãos de participação.

Este processo de realização continuará a ser dinamizado nas igrejas locais, pedindo-se aos bispos “o cuidado de envolver institutos de vida consagrada, sociedades de vida apostólica, associações de leigos, movimentos eclesiais e novas comunidades presentes nos seus territórios”.

O caminho a percorrer até à Assembleia Eclesial de 2028 permitirá o intercâmbio de experiências e percursos entre as diferentes Igrejas, e a avaliação conjunta das escolhas feitas ao nível local, reconhecendo os progressos realizados em termos de sinodalidade.

O objetivo é tornar concreta a perspectiva do intercâmbio de dons entre as Igrejas e na Igreja inteira (cfr números 120-121). Ao longo do caminho, todos poderão beneficiar-se da riqueza e da criatividade dos percursos realizados pelas Igrejas locais, colhendo os frutos nos seus agrupamentos territoriais (províncias, conferências episcopais, reuniões internacionais de conferências episcopais, etc.). O percurso será também uma oportunidade para avaliar conjuntamente as escolhas feitas a nível local e reconhecer os progressos realizados em termos de sinodalidade (nº 9). Graças a tal percurso, o Papa poderá escutar e confirmar as orientações consideradas válidas para a Igreja inteira (nºs 12 e 131). Por fim, esse processo constitui o quadro no qual se situam as diversas iniciativas para a realização das orientações sinodais, em particular os resultados do trabalho dos Grupos de Estudo e as contribuições da Comissão de Direito Canônico, cujos trabalhos deverão ser apresentados daqui a cerca de três meses.

Foto de grupo dos sinodais na conclusão da assembleia do Sínodo dos Bispos, 26 outubro 2024. Foto Clara Raimundo

Foto de grupo dos membros do Sínodo na conclusão da assembleia, em outubro de 2024: o Papa Francisco quer um debate ainda mais alargado. Foto © Clara Raimundo/7MARGENS.

Comentário

Uma iniciativa de grande alcance

Texto de Manuel Pinto

A iniciativa do Papa de convocar uma Assembleia Eclesial no Vaticano, dentro de três anos e meio é, a muitos títulos, surpreendente e de grande significado para a Igreja Católica.

Destacaria duas razões.

A primeira é que gera uma dinâmica que visa dar aconchego àquelas igrejas que se lançaram na implementação da sinodalidade e desinquietar aqueloutras que, de forma mais ou menos clara, aguardavam que a “moda” acabasse por passar, ainda para mais com o Papa Francisco a atravessar preocupantes problemas de saúde.

A segunda é que possibilita uma dinâmica de interação e interconhecimento entre as igrejas locais e nacionais, apelando, uma vez mais, ao envolvimento de todos e à troca de dons e de experiências, abrindo processos que dão densidade e expressão à prática da sinodalidade enquanto modo de viver e construir a experiência cristã”, significativa para a sociedade.

Poder-se-á perguntar se o Papa, nos seus 88 anos e internado com problemas graves há um mês, tem reais condições para assumir as implicações de tal decisão. A mensagem divulgada este sábado, ao referir que Francisco deu “aprovação final” a este plano, dá claramente a entender que ele estava já gizado quando o bispo de Roma foi internado, sendo que a “luz verde” para avançar se acendeu no último dia 11 de março – ou seja, no dia em que ele abandonou o quadro clínico de prognóstico reservado. Em todo o caso, com o processo conducente à Assembleia Eclesial universal, o Papa, mais do que dizer que está vivo e se recomenda, quer sinalizar que as mudanças na Igreja são para continuar.

Neste sentido, convém prestar atenção a um aspeto que é referido de modo não muito claro na mensagem enviada aos episcopados de todo o mundo: o dos dez grupos de estudo que estão desde há um ano a trabalhar, em espírito sinodal, outras tantas questões relevantes e até polémicas da vida da Igreja, e cujos resultados deverão ser entregues ao Papa até ao fim de junho próximo. São matérias que foram identificadas como carecendo de aprofundamento na primeira assembleia do Sínodo dos Bispos e que podem, agora, ser retomadas, a diferentes níveis, na fase de implementação da sinodalidade. Numa entrevista explicativa desta fase de implementação, dada pelo cardeal Grech ao Vatican News, sublinha-se que esses resultados serão um contributo para as decisões que caberá ao Papa tomar e que poderão ser amadurecidas nos fóruns que vão ter lugar, em especial a própria assembleia eclesial de 2028.

https://www.vaticannews.va/pt/vaticano/news/2025-03/entrevista-cardeal-grech-carta-papa-caminho-sinodal-tornielli.html

Dado que nem todos os grupos conseguirão ter o trabalho finalizado até junho, como assume nessa entrevista o responsável pela secretaria geral do Sínodo, pode-se antever que as “bases” da Igreja poderão vir a ter, também relativamente a essa matéria, algum tipo de iniciativa.

(Foto de destaque: O Papa Francisco no encerramento do Sínodo dos Bispos, no final de Outubro de 2024. Foto © Vatican Media.)



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