
Imãs acusados
7MARGENS | 06/03/2025
Uma jovem de 34 anos tem vindo a liderar um movimento de mulheres muçulmanas que se dizem abusadas por imãs com projeção pública, em países europeus. Os casos vieram a público, desde finais de 2023, em redes sociais como o TikTok e o Instagram. O La Croix International publicou esta quinta-feira, 6 de março, em vésperas do Dia Internacional da Mulher, um trabalho em que traça uma visão panorâmica sobre mais de um ano de lutas, sobretudo em contexto francês.
O desencadeador do movimento foi um jovem influencer muçulmano, na sua conta do TikTok, ao denunciar um pregador com muitas dezenas de milhar de seguidores nas redes sociais. Tendo por base o depoimento de uma jovem em quem disse confiar, o influenciador acusou o responsável religioso de ter pressionado a jovem a ter relações com ele com promessa de casamento e, ao mesmo tempo, de ter gravado esses encontros em vídeo, sem consentimento nem sequer conhecimento.
A jovem tem, neste momento, um processo a correr, no qual acusa o ex-parceiro de “pornografia de vingança”. Mas a divulgação de um caso levou a que outros casos tenham surgido. As redes sociais são o escape, depois de algumas das situações terem sido reportadas, sem resposta, a outros imãs. O Instagram, por exemplo, foi plataforma de um debate público aceso, com alguns milhares de seguidores, em finais de junho de 2024, durante o qual foi pedido que, no interior da fé muçulmana, fosse criada uma organização para tratar das questões da violência sexual, com poder para destituir os abusadores e orientar as vítimas.
A questão é que “nenhum imã tem autoridade oficial para sancionar outro imã” e alguns deles, interrogados diretamente durante o debate, alijaram responsabilidades, apesar de a situação redundar em quebra de confiança quer dos fieis quer de outras pessoas. Por outro lado, quem se atreve a denunciar publicamente corre riscos de campanhas difamatórias, como, de facto, já aconteceu.
A sucessão de casos de denúncia de violência sexual de imãs e os debates que se lhes seguiram têm levado alguns responsáveis muçulmanos a ver de que modo podem reunir os depoimentos das vítimas. As controvérsias acirradas entre os influenciadores surgem em torno de questões novas para o contexto em que ocorrem. O La Croix International enuncia algumas: “Um pregador religioso deve ser irrepreensível? Dever-se-ia denunciar publicamente as suas ações quando se toma conhecimento dos factos? A quem recorrer quando os líderes muçulmanos não respondem? Deve-se usar as redes sociais para quebrar a omertà (silenciamento cúmplice)? Quem tem autoridade para remover um imã das suas funções?”.
(Imagem de destaque: Mulheres muçulmanas com os seus smartphones. © Alessandro Biascioli)
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