Estudo revela
Um estudo encomendado pela Igreja Evangélica da Alemanha (EKD, na sigla em alemão), cujos resultados foram apresentados esta quinta-feira, 25 de janeiro, mostra que pelo menos 2.200 menores foram vítimas de abusos sexuais no seio daquela instituição, deste 1946. Os autores do estudo alertam que o número real pode ser muito maior.
O relatório, de 820 páginas, indica um total de 2.225 vítimas e 1.259 alegados abusadores, dos quais 511 são ou foram padres. De acordo com o documento, mais de metade das pessoas afetadas são homens e a idade média das vítimas, à data da primeira agressão, era de 11 anos.
Quanto aos abusadores, tinham uma idade média de 43 anos quando perpetraram os atos dos quais são acusados. Dois terços eram casados e 45% terão praticado mais do que um abuso.
“A ponta do icebergue”
Esta será, no entanto, apenas “a ponta da ponta do icebergue”, alertou o coordenador da investigação, Martin Wazlawik, durante a apresentação do relatório à imprensa, em Hannover.
Segundo a equipa de investigadores, uma contagem menos criteriosa, que inclui casos não documentados pela Igreja e que deve por isso ser vista com “muita cautela”, resultaria num total de 9.355 pessoas afetadas e 3.497 acusados.
Wazlawik, pedagogo e professor da Universidade de Hannover, destacou que o número de casos não reflete a magnitude do fenómeno, referindo que alguns registos terão sido destruídos e que muitas vítimas foram incentivadas a permanecer em silêncio.
O especialista criticou duramente os procedimentos da Igreja Evangélica Alemã na forma como lidou com os abusos no passado, sublinhando que esta o fez “com relutância e sem transparência suficiente ou uma abordagem sistemática”.
Até à realização deste estudo, que custou à EKD 3,6 milhões de euros, eram conhecidos “apenas” 858 casos de abuso sexual, na sequência do contacto das vítimas às autoridades responsáveis nas igrejas regionais ao longo dos últimos anos.
Um pedido de desculpas, que implica mudanças
A bispa Kirsten Fehrs, presidente do conselho da EKD, disse estar “chocada” com a imagem oferecida pelo relatório e com a “pérfida e brutal violência com que se cometeu uma injustiça inefável contra adultos, adolescentes e crianças” ao longo de todos estes anos.
Fehrs lembrou que a EKD encomendou o estudo em 2020 não para saber se ocorreram casos de violência sexual, mas para analisar os fatores e as estruturas de risco relacionadas com eles. “Queríamos este estudo. Iniciámo-lo e aceitamo-lo com humildade”, afirmou.
Agora, não restam quaisquer dúvidas. “Está claro: temos estruturas que protegem os perpetradores”, disse, destacando que “estes não são casos isolados” e que “muitas coisas devem mudar”.
Depois, pediu desculpas em nome da Igreja: “Como instituição, também somos culpados por prejudicar inúmeras pessoas. E só posso pedir desculpas do fundo do meu coração”, disse, acrescentando, porém, que o pedido de desculpas só pode ser crível se a igreja de facto agir.
Este relatório surge cinco anos depois de a Igreja Católica alemã ter divulgado um estudo que revelava a existência, no seu seio, de pelo menos 3.677 vítimas de abusos sexuais e 1.670 supostos abusadores, desde o pós-guerra.
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