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sábado, 20 de janeiro de 2024

Número de cristãos perseguidos no mundo é o mais alto em 31 anos: ultrapassa os 365 milhões

Relatório Open Doors 2024

 | 19 Jan 2024

Jovem cristã reza no seu quarto. Foto Open Doors

No topo da lista de países com mais registos de perseguição, a Coreia do Norte surge em primeiro lugar pela 22ª vez, devido à política de “tolerância zero para os cristãos”. Foto © Open Doors

Mais de 365 milhões de cristãos estão atualmente sujeitos a perseguição. O número, só por si, impressiona. E pode impressionar ainda mais se pensarmos que corresponde a um em cada sete cristãos no mundo inteiro… ou seja: quase 15%. Os dados acabam de ser avançados pela organização americana Open Doors, que divulgou esta semana a sua “World Watch List 2024” (uma lista dos 50 países que mais discriminam os cristãos) e deixou o alerta: em 31 anos de registos de perseguição, a tendência tem sido para aumentar, e este foi um ano recorde.

O relatório, que se refere ao período de outubro de 2022 a setembro de 2023, entende por “perseguição” atos hostis como agressões físicas, tortura, sequestros e assassinatos. Mas não só: além da violência física, avalia também os casos de maus tratos e pressões diárias no local de trabalho, no acesso aos cuidados de saúde, à educação e aos locais de culto, e até da sujeição a uma burocracia que pode ser “debilitante”.

No topo da lista de países com mais registos de perseguição, a Coreia do Norte surge em primeiro lugar pela 22ª vez, devido à política de “tolerância zero para os cristãos” adotada pelo regime de Pyongyang. A Open Doors assinala ainda a nova política da China de “devolver” os fugitivos deste país, no qual “ser descoberto como cristão é, em todos os aspectos, uma sentença de morte”. Só em outubro, a China repatriou cerca de 600 norte-coreanos, e todos provavelmente enfrentaram um “inferno na Terra” ao regressar, refere o relatório.

Seguem-se, para completar o pódio, a Somália e a Líbia, duas nações “rigidamente islâmicas”. Eritreia, Iémen, Nigéria, Paquistão, Sudão, Irão e Afeganistão são os restantes Estados no “Top 10”. A Nigéria e o Paquistão surgem como as duas nações do mundo “onde ocorre mais violência anti-cristã”.

“Aumento sem precedentes” dos ataques contra igrejas

Mulher cristã vítima de ataque jihadista na Nigéria. Foto CSI

Mulher cristã vítima de ataque jihadista na Nigéria, país onde se registaram nove em cada dez assassinatos por motivação religiosa. Foto © CSI

De acordo com o relatório, são cerca de 100 os países “potencialmente afetados pelo fenômeno da perseguição”. Mas nesta lista da Open Doors, estão ‘apenas’ os 50 com as situações mais preocupantes de perseguição e discriminação contra cristãos pertencentes a todas as denominações e confissões. Os países que registam um “nível extremo” de perseguição aumentaram de 11 para 13 em comparação com o relatório anterior.

Quanto ao número de assassinatos de cristãos, este diminuiu ligeiramente (de 5.621 para 4.998). A maioria registou-se na África Subsaariana, tendo a Nigéria sido responsável por nove em cada dez assassinatos por motivação religiosa. A República Democrática do Congo, o Burkina Faso, os Camarões e a República Centro-Africana são apontados como os restantes países da região onde se verificaram mais mortes de cristãos.

Já o número de ataques contra igrejas, escolas, hospitais e cemitérios administrados por cristãos registou um aumento “sem precedentes” em 2023: de 2.110, no ano anterior, passou para 14.766, tendo sido impulsionado, em particular, pela violência na Índia, pelo encerramento de igrejas na China e pelos ataques registados na Nigéria, Nicarágua e Etiópia.

Foram pelo menos dez mil as igrejas encerradas na China, tendo o 7MARGENS dado conta de alguns desses casos. “A maioria eram igrejas domésticas, mas as igrejas oficiais também estão sob pressão. Novos regulamentos implicam que as igrejas exibam cartazes que dizem: ‘Ame o Partido Comunista, ame o país, ame a religião'”, refere o relatório.

Também a vigilância digital está a crescer neste país, sendo os cristãos obrigados a registar-se numa aplicação controlada pelo Estado antes de frequentarem os serviços religiosos em determinadas regiões, como de resto o 7MARGENS também noticiou.

Assim, se ao considerarmos o mundo inteiro, um em cada sete cristãos são alvo de perseguição, os números crescem quando a avaliação é feita a nível continental: um em cada cinco cristãos é perseguido em África; dois em cada cinco são perseguidos na Ásia.

Nicarágua piora muito, sinais positivos no Mali

Irmãs Missionárias da Caridade chegam à Costa Roca após terem diso expulsas pelo governo da Nicarágua, 6 de julho de 2022. Foto Direitos reservados, via Vatican Media.

Irmãs Missionárias da Caridade chegam à Costa Rica após terem sido expulsas pelo governo da Nicarágua, 6 de julho de 2022. Foto Direitos reservados, via Vatican Media.

O mais recente relatório da Open Doors destaca ainda que, em 2023, mais do dobro dos cristãos foram forçados a fugir das suas casas em comparação com o ano anterior: perto de 279 mil. A instabilidade política, a guerra, o extremismo e as catástrofes naturais expulsaram muitos crentes das suas terras natais, em particular no Médio Oriente e no Norte de África.

Quanto às vítimas de “abusos, violações e casamentos forçados”, também continuaram a aumentar e serão certamente mais do que as registadas no período em análise: 3.231 pessoas.

Os números são compilados a partir de relatórios de base feitos por equipas de colaboradores e parceiros da Open Doors em mais de 60 países. A metodologia deste relatório é auditada pelo Instituto Internacional para a Liberdade Religiosa.

A organização pontua cada nação numa escala de 100 pontos. Foram registados aumentos de mais de quatro pontos em Omã (4,2), Burkina Faso (4,8), Nicarágua (5,3), Argélia (6,1) e Laos (6,6). Omã subiu do 47º para o 31º lugar, embora as especificidades das suas estatísticas de violência tenham sido mantidas ocultas “por razões de segurança”.

Destaque ainda para a Nicarágua que, no seu segundo ano na lista, subiu do 50º para o 30º lugar, devido à hostilidade aberta do governo contra a Igreja, que o 7MARGENS tem acompanhado. A Argélia subiu do 19º para o 15º lugar, com as autoridades a  intensificarem uma campanha contra a Igreja Protestante no país, onde apenas quatro das 46 igrejas permanecem abertas.

A Colômbia foi o único país entre os 50 primeiros a registar uma descida de pelo menos dois pontos (2,5), caindo do 22º para o 34º lugar. Uma melhoria significativa foi observada também no Vietname (que caiu do 25º para o 35º lugar), na Indonésia (do nº 33 para o nº 42) e na Turquia (do nº 41 para o nº 50).

Outros sinais de esperança foram notados no Mali, onde os cidadãos aprovaram uma nova constituição que reconhece claramente a minoria cristã presente no país, e também no estado indiano de Karnataka, onde um partido da oposição destronou o BJP nacionalista hindu com a promessa de reverter as leis locais anti-conversão.

Mas, no geral, a Índia manteve o seu 11º lugar, tendo os ataques a lares cristãos duplicado para 180, as mortes de cristãos aumentado nove vezes, para 160, e os ataques a igrejas e escolas cristãs crescido de 67 para 2.228. Combinados com os cerca de dez mil encerramentos de igrejas na China ( que surge no nº 19 da lista), estas duas nações foram responsáveis ​​por quase 83 por cento de todos os incidentes violentos em igrejas em 2023.



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