Relatório Open Doors 2024
Mais de 365 milhões de cristãos estão atualmente sujeitos a perseguição. O número, só por si, impressiona. E pode impressionar ainda mais se pensarmos que corresponde a um em cada sete cristãos no mundo inteiro… ou seja: quase 15%. Os dados acabam de ser avançados pela organização americana Open Doors, que divulgou esta semana a sua “World Watch List 2024” (uma lista dos 50 países que mais discriminam os cristãos) e deixou o alerta: em 31 anos de registos de perseguição, a tendência tem sido para aumentar, e este foi um ano recorde.
O relatório, que se refere ao período de outubro de 2022 a setembro de 2023, entende por “perseguição” atos hostis como agressões físicas, tortura, sequestros e assassinatos. Mas não só: além da violência física, avalia também os casos de maus tratos e pressões diárias no local de trabalho, no acesso aos cuidados de saúde, à educação e aos locais de culto, e até da sujeição a uma burocracia que pode ser “debilitante”.
No topo da lista de países com mais registos de perseguição, a Coreia do Norte surge em primeiro lugar pela 22ª vez, devido à política de “tolerância zero para os cristãos” adotada pelo regime de Pyongyang. A Open Doors assinala ainda a nova política da China de “devolver” os fugitivos deste país, no qual “ser descoberto como cristão é, em todos os aspectos, uma sentença de morte”. Só em outubro, a China repatriou cerca de 600 norte-coreanos, e todos provavelmente enfrentaram um “inferno na Terra” ao regressar, refere o relatório.
Seguem-se, para completar o pódio, a Somália e a Líbia, duas nações “rigidamente islâmicas”. Eritreia, Iémen, Nigéria, Paquistão, Sudão, Irão e Afeganistão são os restantes Estados no “Top 10”. A Nigéria e o Paquistão surgem como as duas nações do mundo “onde ocorre mais violência anti-cristã”.
“Aumento sem precedentes” dos ataques contra igrejas
De acordo com o relatório, são cerca de 100 os países “potencialmente afetados pelo fenômeno da perseguição”. Mas nesta lista da Open Doors, estão ‘apenas’ os 50 com as situações mais preocupantes de perseguição e discriminação contra cristãos pertencentes a todas as denominações e confissões. Os países que registam um “nível extremo” de perseguição aumentaram de 11 para 13 em comparação com o relatório anterior.
Quanto ao número de assassinatos de cristãos, este diminuiu ligeiramente (de 5.621 para 4.998). A maioria registou-se na África Subsaariana, tendo a Nigéria sido responsável por nove em cada dez assassinatos por motivação religiosa. A República Democrática do Congo, o Burkina Faso, os Camarões e a República Centro-Africana são apontados como os restantes países da região onde se verificaram mais mortes de cristãos.
Já o número de ataques contra igrejas, escolas, hospitais e cemitérios administrados por cristãos registou um aumento “sem precedentes” em 2023: de 2.110, no ano anterior, passou para 14.766, tendo sido impulsionado, em particular, pela violência na Índia, pelo encerramento de igrejas na China e pelos ataques registados na Nigéria, Nicarágua e Etiópia.
Foram pelo menos dez mil as igrejas encerradas na China, tendo o 7MARGENS dado conta de alguns desses casos. “A maioria eram igrejas domésticas, mas as igrejas oficiais também estão sob pressão. Novos regulamentos implicam que as igrejas exibam cartazes que dizem: ‘Ame o Partido Comunista, ame o país, ame a religião'”, refere o relatório.
Também a vigilância digital está a crescer neste país, sendo os cristãos obrigados a registar-se numa aplicação controlada pelo Estado antes de frequentarem os serviços religiosos em determinadas regiões, como de resto o 7MARGENS também noticiou.
Assim, se ao considerarmos o mundo inteiro, um em cada sete cristãos são alvo de perseguição, os números crescem quando a avaliação é feita a nível continental: um em cada cinco cristãos é perseguido em África; dois em cada cinco são perseguidos na Ásia.
Nicarágua piora muito, sinais positivos no Mali
O mais recente relatório da Open Doors destaca ainda que, em 2023, mais do dobro dos cristãos foram forçados a fugir das suas casas em comparação com o ano anterior: perto de 279 mil. A instabilidade política, a guerra, o extremismo e as catástrofes naturais expulsaram muitos crentes das suas terras natais, em particular no Médio Oriente e no Norte de África.
Quanto às vítimas de “abusos, violações e casamentos forçados”, também continuaram a aumentar e serão certamente mais do que as registadas no período em análise: 3.231 pessoas.
Os números são compilados a partir de relatórios de base feitos por equipas de colaboradores e parceiros da Open Doors em mais de 60 países. A metodologia deste relatório é auditada pelo Instituto Internacional para a Liberdade Religiosa.
A organização pontua cada nação numa escala de 100 pontos. Foram registados aumentos de mais de quatro pontos em Omã (4,2), Burkina Faso (4,8), Nicarágua (5,3), Argélia (6,1) e Laos (6,6). Omã subiu do 47º para o 31º lugar, embora as especificidades das suas estatísticas de violência tenham sido mantidas ocultas “por razões de segurança”.
Destaque ainda para a Nicarágua que, no seu segundo ano na lista, subiu do 50º para o 30º lugar, devido à hostilidade aberta do governo contra a Igreja, que o 7MARGENS tem acompanhado. A Argélia subiu do 19º para o 15º lugar, com as autoridades a intensificarem uma campanha contra a Igreja Protestante no país, onde apenas quatro das 46 igrejas permanecem abertas.
A Colômbia foi o único país entre os 50 primeiros a registar uma descida de pelo menos dois pontos (2,5), caindo do 22º para o 34º lugar. Uma melhoria significativa foi observada também no Vietname (que caiu do 25º para o 35º lugar), na Indonésia (do nº 33 para o nº 42) e na Turquia (do nº 41 para o nº 50).
Outros sinais de esperança foram notados no Mali, onde os cidadãos aprovaram uma nova constituição que reconhece claramente a minoria cristã presente no país, e também no estado indiano de Karnataka, onde um partido da oposição destronou o BJP nacionalista hindu com a promessa de reverter as leis locais anti-conversão.
Mas, no geral, a Índia manteve o seu 11º lugar, tendo os ataques a lares cristãos duplicado para 180, as mortes de cristãos aumentado nove vezes, para 160, e os ataques a igrejas e escolas cristãs crescido de 67 para 2.228. Combinados com os cerca de dez mil encerramentos de igrejas na China ( que surge no nº 19 da lista), estas duas nações foram responsáveis por quase 83 por cento de todos os incidentes violentos em igrejas em 2023.
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