Henry Marsh [1],
um neurocirurgião inglês, é autor do livro cujo título inspirou o deste
trabalho. De facto, muitas das suas afirmações são inspiradoras por serem
verdadeiras e estimularem a pensamentos profundos e à tomada de atitudes responsáveis.
A grande verdade, comum a todas as pessoas, é a de que os médicos cometem erros
e, no caso dos neurocirurgiões, os seus erros poderem causar grandes
sofrimentos aos seus pacientes. Segue-se o facto de os médicos não gostarem de dar
a conhecer esses erros embora tais experiências pudessem ser úteis aos
profissionais de saúde. Além disso, os próprios doentes e seus familiares devem
ter consciência dos factos e “participar” no risco de tomar a decisão de
avançar ou não para uma cirurgia, sabendo que, por vezes, podem ajudar os
médicos em novas pesquisas e descobertas. Os heróis não se contam apenas entre
os soldados que dão a vida pela sua Pátria. Eles estão presentes em cada
episódio da vida.
O Dr. Marsh alerta ainda para o risco
de os médicos se coibirem de tratar os doentes quando são frequentemente
incriminados por insucessos e pouco elogiados nos bons resultados. O sofrimento
e a dor, são companheiros habituais da vida humana, e esta acaba em data
imprevisível e de forma desconhecida, mesmo para aqueles que, supostamente, já
têm os dias contados. Uma coisa é certa: mesmo no final da vida, existe ainda,
de modo misterioso, a possibilidade de fazer-se mal ou bem: a vontade de
oferecer ou reter o bem.
Estas considerações podem ser aplicadas
nas variadas circunstâncias da vida humana, e exclusivamente humana, pelo facto
de os homens serem pessoas, isto é,
seres capazes de pensar e decidir o que fazer face à sua experiência e
conhecimentos. Podem, é certo, agir mal e ferir ou magoar outras pessoas.
Porém, se amam a verdade e se esforçam por praticar o bem, os benefícios
alcançados pelos seus atos serão muito superiores, em qualidade e em número, aos
dos malefícios. Só os preguiçosos e cobardes não cometem erros. Quantas vezes
não são esses mesmos erros os que incentivam ao trabalho, à pesquisa, à
persistência, à coragem, à esperança de encontrar soluções e novos modos de
agir?
São vários os hagiógrafos que,
certamente com boas intenções, tentam ocultar os defeitos dos santos cujas
vidas descrevem. Perde-se então a possibilidade de entender como conseguiram
chegar à santidade, pois pode cair-se no erro de pensar que a prática do bem
lhes era natural e fácil, o conhecimento da verdade lhes fora oferecido sem o
esforço do estudo e que os trabalhos não os cansavam. Que ingenuidade! Os
santos, os heróis, os investigadores... as pessoas correntes, enfim, sempre
terão no seu currículo progressos e recuos, alegrias e tristezas, saúde e
doenças, vitórias e derrotas. E são os momentos duros que desafiam a vontade
humana a insistir e a arriscar-se em novas aventuras. O resultado tem sido
encorajador e inspirador. Nunca é tarde para “arregaçar as mangas” e voltar ao
trabalho. A preguiça é um mal, mesmo em tempo de férias. Fujamos dele.
Isabel
Vasco Costa
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