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segunda-feira, 18 de julho de 2016

Não faças mal



Henry Marsh [1], um neurocirurgião inglês, é autor do livro cujo título inspirou o deste trabalho. De facto, muitas das suas afirmações são inspiradoras por serem verdadeiras e estimularem a pensamentos profundos e à tomada de atitudes responsáveis. A grande verdade, comum a todas as pessoas, é a de que os médicos cometem erros e, no caso dos neurocirurgiões, os seus erros poderem causar grandes sofrimentos aos seus pacientes. Segue-se o facto de os médicos não gostarem de dar a conhecer esses erros embora tais experiências pudessem ser úteis aos profissionais de saúde. Além disso, os próprios doentes e seus familiares devem ter consciência dos factos e “participar” no risco de tomar a decisão de avançar ou não para uma cirurgia, sabendo que, por vezes, podem ajudar os médicos em novas pesquisas e descobertas. Os heróis não se contam apenas entre os soldados que dão a vida pela sua Pátria. Eles estão presentes em cada episódio da vida.

O Dr. Marsh alerta ainda para o risco de os médicos se coibirem de tratar os doentes quando são frequentemente incriminados por insucessos e pouco elogiados nos bons resultados. O sofrimento e a dor, são companheiros habituais da vida humana, e esta acaba em data imprevisível e de forma desconhecida, mesmo para aqueles que, supostamente, já têm os dias contados. Uma coisa é certa: mesmo no final da vida, existe ainda, de modo misterioso, a possibilidade de fazer-se mal ou bem: a vontade de oferecer ou reter o bem.

Estas considerações podem ser aplicadas nas variadas circunstâncias da vida humana, e exclusivamente humana, pelo facto de  os homens serem pessoas, isto é, seres capazes de pensar e decidir o que fazer face à sua experiência e conhecimentos. Podem, é certo, agir mal e ferir ou magoar outras pessoas. Porém, se amam a verdade e se esforçam por praticar o bem, os benefícios alcançados pelos seus atos serão muito superiores, em qualidade e em número, aos dos malefícios. Só os preguiçosos e cobardes não cometem erros. Quantas vezes não são esses mesmos erros os que incentivam ao trabalho, à pesquisa, à persistência, à coragem, à esperança de encontrar soluções e novos modos de agir?

São vários os hagiógrafos que, certamente com boas intenções, tentam ocultar os defeitos dos santos cujas vidas descrevem. Perde-se então a possibilidade de entender como conseguiram chegar à santidade, pois pode cair-se no erro de pensar que a prática do bem lhes era natural e fácil, o conhecimento da verdade lhes fora oferecido sem o esforço do estudo e que os trabalhos não os cansavam. Que ingenuidade! Os santos, os heróis, os investigadores... as pessoas correntes, enfim, sempre terão no seu currículo progressos e recuos, alegrias e tristezas, saúde e doenças, vitórias e derrotas. E são os momentos duros que desafiam a vontade humana a insistir e a arriscar-se em novas aventuras. O resultado tem sido encorajador e inspirador. Nunca é tarde para “arregaçar as mangas” e voltar ao trabalho. A preguiça é um mal, mesmo em tempo de férias. Fujamos dele.

Isabel Vasco Costa


[1] Fonte: Entrevista em “O Observador” , 7 de Junho de 2016.


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