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segunda-feira, 18 de julho de 2016

A real “Beleza do Ser”

É bem visível que o fenómeno do belo apresenta várias vertentes, de tal modo diferenciadas, que não é possível oferecer uma definição precisa e exaustiva do conceito de beleza sem corrermos o risco de unilateralidade. A beleza, como a verdade, é sempre polifónica, harmonicamente complexa e dinâmica. Consequentemente, é imprescindível, conceder a tal conceito, uma certa margem de liberdade, de modo a poder saturar-se de sentido à medida que se submetem a uma pormenorizada análise as diversas formas do belo. Ao dispor de um conceito rico de significado, é possível precisar o seu sentido radical e, por conseguinte, o seu alcance. Mas mais que enumerar as múltiplas definições que se têm dado da beleza, é importante considerar os fenómenos dos diferentes géneros da mesma e tentar descobrir as suas fontes à luz que brota no interior da experiência estética.
 
A beleza não é noção construída  a priori, de onde se possa partir como fundamento de construção sistemática. É verdade que, diante de certos seres, naturais ou artificiais, nos sentimos particularmente atingidos. Podendo concluir que o belo proporciona, normalmente, um conhecimento gozoso, embora considerado apenas no seu caráter relativo...
 
É do conhecimento geral que a beleza continua a ser uma grande preocupação feminina, mas apraz--nos perguntar neste momento, o que é que é realmente belo? E de entre todas as tentativas para definir a beleza, recordamos como a Antiguidade baralhava outros elementos tais como a proporção, o ordenamento das partes e as inter-relações que se estabelecem entre elas. Na Idade Média associavam-se, com frequência, a bondade e a beleza. Mas é indiscutível que o conceito de beleza tem mudado conforme mudam as culturas e as épocas. Por isso muitas mulheres deixam-se enredar na armadilha que as obriga a encaixar no molde de “beleza”, segundo os parâmetros estabelecidos pelas tendências sociais de cada época. O objetivo desta busca interminável e a finalidade que se procura, costumam ser esquecidos.
 
Afinal, que beleza se procura? A do parecer ou a do ser? A quem se destina essa conquista da beleza, para si próprio ou para os outros?
 
Andando por aí, cruzamo-nos com frequência com sorrisos artificiais, operações cirúrgicas para evitar as rugas, lipoaspiração, injeções de silicone para moldar corpos que não têm outro defeito que o desgaste natural do tempo. Têm-nos vendido uma imagem de mulher onde se valoriza a sua aparência, mas se esquece o “ser” dela, da mulher como pessoa.
 
Assim sendo, devemos ter presente que o rosto de uma mulher que foi marcado pelos numerosos tormentos da vida pode ser também formoso. Seja qual for a sua idade, a beleza de uma mulher que foi resistindo às dificuldades da existência, brilha com um esplendor que se destaca. Encontramo-nos muitas vezes com rostos de anciãs que irradiam algo que não se vende neste apetrechado século XXI: uma beleza pacífica, serena, que emana de uma interioridade enriquecida pelo objetivo sentido dos outros e o esquecimento pessoal. Essa beleza que transparece, cresce com o tempo, porque o tempo aquilata, purifica e dilata o que nos faz grandes: a capacidade de amar que possui o ser humano. A inevitável passagem silenciosa e constante dos anos engrandece a mulher que viveu para dar-se constantemente aos que tem à sua volta e não para “procurar-se” a si mesma.
 
Por tudo isto, um rosto velhinho, enrugado, pode ser muito atrativo. Talvez se escondam muitas lágrimas por detrás desses olhos compassivos; detrás dessas rugas, não escondidas pela maquilhagem, oculta-se muita dor, muito sofrimento, porque o amor verdadeiro é doação, é procurar o bem objetivo do outro, e por isso, com muita frequência, o amor dói...
 
Deste modo, jamais poderemos esquecer que aquilo que frequentemente classificamos como simplesmente belo, bonito, gracioso, são graus de beleza que se medem pelos respetivos graus de ser, de que são o esplendor proporcional…








 
Maria Helena Marques
Prof.ª Ensino Secundário


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