“Ninguém chega a velho sem ter sido primeiro jovem. Todos os velhos já foram jovens, mas nem todos os jovens têm o privilégio de chegar a velhos. (…) Tudo indica que a velhice é, de facto, a fase decisiva do desenvolvimento humano. Sim, do desenvolvimento, porque o homem não está na Terra senão para se desenvolver. (…) Há uma obra humana a realizar até à hora da morte”. Jacques Leclercq
“(…) a vida e a morte são sempre dignas na sua essência, independentemente dos contextos, pelo que se torna estranha a consideração de que há vidas e mortes que não o serão, necessitando algumas pessoas de antecipar a morte para que a mesma tenha ´dignidade` (…). Sobre que valores iremos construir a sociedade em que queremos viver e que desejamos legar?” Dr. José Manuel Silva, Presidente da Ordem dos Médicos
“A eutanásia legalizada representa a ruptura do laço simbólico entre as gerações: filhos, netos e, doravante, bisnetos – já que vamos tornar-nos uma sociedade a quatro gerações – saberão que podem desembaraçar-se dos idosos. No momento em que essa perspectiva se admitir e se tornar objecto de consenso social, os mais jovens não poderão deixar de considerar os mais velhos como objectos a deitar fora. Quando os “velhos” já não servirem, por estarem deprimidos ou por ainda não terem encontrado uma enfermaria capaz de não os deixar sofrer, decidir-se-á que é muito simples e, até, caridoso desembaraçarem-se deles. Nestas condições, as ligações intergeracionais que há hoje, por diversas razões, se tornam cada vez mais frágeis, enfraquecerão ainda mais. Isto já teve e continuará a ter consequências particularmente danosas para a transmissão das regras da vida em família e na sociedade e, por conseguinte, para a transmissão dos ritos, da moral, da solidariedade na qual as famílias já não são capazes de educar os seus filhos nem de inculcar-lhes regras mínimas de conduta, decide, além disso, que é legal livrar-se dos anciãos ´em alguns casos`. Este pensamento não pode deixar de conduzir à anarquia e a um generalizado afrouxamento da moral” Lucien Israel, médico oncologista.
Nas nossas sociedades há muitos anciãos, muitas pensões a pagar, muitos cuidados a prestar e na mente deste autor insinua-se uma dúvida inquietante e provocatória. E se a eutanásia e o que gira à sua volta fosse uma “solução económica”, uma resposta técnica a um problema prático, que se esconde atrás de uma morte digna? Afinal é um “tratamento” rápido e barato para os Estados e as clínicas de eutanásia passarão a ser um negócio altamente rentável, legalizado e asséptico…
Neste dia 26 de Julho em que celebramos o Dia dos Avós tenhamos bem presente a riqueza que representa para cada um de nós e de toda a humanidade em geral, a Juventude que eles foram acumulando aos longo dos muitos anos de vida, em paralelo afectos, esforços, trabalhos, preocupações, alegrias e tristezas, ingredientes básicos na vida de todas as famílias.
O homem é o único ser que sabe que vai morrer, que enterra ou queima os seus entes queridos e lhes presta culto e homenagem. Não quebremos a cadeia dum passado tão humano como natural, não comprometamos a nossa paz de consciência que, em alturas de luto, é tão imperiosa quanto cruel em remorsos ou desassossegos, que só geram transtornos emocionais, jurídicos e psíquicos. Por favor não matem os avózinhos, eles não são velhos, só têm muita juventude acumulada, mas são nossos, representam a memória dum passado ao qual pertencemos, são um baluarte do presente em que existimos, o qual se reflectirá no futuro que queremos construir e prolongar para além dos nossos filhos, netos e bisnetos…
Maria Susana Mexia
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