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sexta-feira, 18 de março de 2016

O verdadeiro amor de si mesmo

"Quem não sente a ânsia de ser mais, não chegará a ser nada." Miguel de Unamuno
 
A ideia positiva ou negativa que temos de nós mesmos depende do auto-conhecimento e do cumprimento das metas que cada um se propõe atingir. Estas partem, em boa medida, dos modelos de homem ou mulher que desejamos alcançar e que se nos apresentam de modos muito diversos, por exemplo, através da educação recebida no lar, dos comentários de amigos ou conhecidos e das ideias predominantes numa determinada sociedade. 

É importante definir os nossos pontos de referência sabendo que se são altos e nobres vão contribuir para uma adequada auto-estima. Convém também identificar quais são os modelos que circulam na nossa cultura porque, mais ou menos conscientemente, influem na forma como nos consideramos.

Podemos super-valorizar-nos depois de alguns êxitos, que nos parecem reconhecidos pelos demais, mas também nos pode ocorrer o contrário, desvalorizar-nos por não havermos atingido determinados objectivos ou por não nos sentirmos considerados em certos ambientes. Estas avaliações erradas são, em grande parte, o resultado de olhar demasiado para quem qualifica a trajectória pessoal exclusivamente em função do que se consegue, tem ou possui.

Para avaliar verdadeiramente, é fundamental conhecer-mo-nos. Esta tarefa é complexa e requer uma aprendizagem que, em certo sentido, nunca termina. Começa por superar uma perspectiva exclusivamente subjectiva − "a meu ver", "na minha opinião", "parece-me" − para ter em conta outros pontos de vista. Se nem sequer sabemos com exactidão como é a nossa voz ou a aparência física e temos que recorrer a ferramentas, como um gravador ou um espelho, quanto mais será indispensável admitir que não somos os melhores juízes para avaliar a nossa própria personalidade!

Além da reflexão pessoal, conhecer-se a si mesmo é fruto do que nos ensinam os outros sobre nós. Isto consegue-se quando sabemos abrir-nos a quem nos pode ajudar, aceitando as suas opiniões e considerando-as em relação a um bom ideal de vida. Neste âmbito também influem a interacção com quem nos rodeia, as modas e os costumes da sociedade. Um ambiente que promove a reflexão favorece o desenvolvimento dos recursos de introspecção; enquanto um ambiente com um estilo de vida superficial, limita esse desenvolvimento.

A verdadeira autoestima implica reconhecer que nem todos somos iguais e aceitar que outras pessoas podem ser mais inteligente, tocar melhor um instrumento musical, ser mais desportistas... Todos temos boas qualidades que podemos desenvolver mas temos de admitir que as dificuldades externas e as próprias imperfeições limitam as nossas realizações.

Partindo das limitações pessoais e da capacidade de aprender do ser humano, rectificar pressupõe uma melhoria, um enriquecimento pessoal que, por sua vez, reverte no que o rodeia e em quem o rodeia, contribuindo simultaneamente para incrementar a confiança em si mesmo e no meio ambiente. Não é prudente quem nunca se engana, mas quem sabe corrigir os seus erros. “Errar é humano, mas corrigir-se é divino”.

A autoestima cresce com a ajuda da humildade, porque esta é a virtude que nos ajuda a conhecer simultaneamente a nossa miséria e a nossa grandeza. Se falta esta atitude da alma, não é raro que cheguem problemas de estima pessoal. Mas quando se cultiva, a pessoa enche-se de realismo e avalia-se corretamente: não somos homens nem mulheres impecáveis, mas também não somos seres corrompidos! Somos seres humanos e sobre as nossas limitações alicerça-se uma dignidade surpreendente.

Maria Susana Mexia
 

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