Na sua carta de Fevereiro, dom Lorenzo Leuzzi alerta os alunos sobre a cultura do efémero
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Pixabay CC0 |
Reproduzimos abaixo, na íntegra, a carta deste mês de Fevereiro
escrita por dom Lorenzo Leuzzi, director da pastoral universitária da
diocese de Roma, para os universitários da cidade.
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Queridos universitários,
Uma semana atrás, nosso Senhor chamou a minha mãe para a vida eterna.
Foi uma experiência que me ajudou muito a repensar a minha vida. Devo
dizer que experimentei a alegria da acção de graças.
Abraçando os amigos, que, com tanta benevolência, me deram forças, eu
procurei encontrar o núcleo desta minha experiência de filho, que durou
60 anos. Veio à minha mente uma frase, famosa, de Aldo Moro:
“A estação dos direitos será efémera se não nascer uma nova estação
dos deveres. Este país não se salvará, a estação dos direitos e das
liberdades se revelará efémera se, na Itália, não nascer um novo senso
de dever”.
Queridos amigos, nunca como na hora da morte emerge o grande julgamento sobre a nossa vida: efémera ou eterna!
Quando Aldo Moro pronunciou essas palavras, a sociedade italiana
estava diante de uma encruzilhada: ou continuar no caminho da
reconstrução, difícil, mas envolvente, ou escolher o caminho da
complacência narcisista, até legítima, mas sem qualquer perspectiva para
o futuro.
Quando se é jovem, é fácil escolher o segundo caminho, o dos direitos
e das liberdades, livre de responsabilidades para consigo mesmo e para
com os outros.
Eu tive o grande dom de acreditar que o hoje é sempre ambíguo, não
exaustivo da própria existência. Confiar-se ao hoje significa construir
sobre a areia, sobre o efémero.
Quando estudei o existencialismo, de qualquer inspiração cultural que
fosse, inclusive religiosa, fui sempre céptico. Sim ao hoje! Mas e o
amanhã?
Queridos amigos, o efémero é o hoje vivido sem passado e sem futuro. É
o aqui e agora daqueles que não sabem que têm uma origem e que podem
caminhar ao encontro de uma meta. A morte está diante de mim para me
lembrar que eu tenho de escolher entre confiar no efémero ou ter um
projecto de vida que permanece e nunca se apaga.
Quem pode me libertar do efémero?
Só o amor de Cristo!
Muitos tentaram resolver a questão com propostas de grande espessura
religiosa ou social. Penso no projecto do marxismo, na utopia do
progresso contínuo, nas experiências de introspecção psicológica ou de
vida espiritual: tudo interessante e fascinante. Mas e eu, por que eu
tenho que me comprometer se tudo é efémero?
Os cristãos também sofreram o desapontamento de uma experiência de fé efémera, forte e agressiva, mas vazia quando, por trás dela, não está
Ele, o Senhor da história.
Queridos amigos, a próxima Quaresma, que começará neste dia 10 de Fevereiro, dentro do Jubileu extraordinário da Misericórdia, é um grande
presente para cada um de nós. É o momento em que a minha existência,
como a de todos os baptizados, se coloca na posição de não ter medo
daquilo que é efémero, mas de acolhê-lo e entregá-lo a Ele.
Sim, queridos amigos, a Quaresma é o tempo em que, finalmente, eu não
tenho que me esconder; é o tempo em que eu tenho que descobrir que
nosso Senhor preparou um novo projecto, uma nova estação, da qual tantas
vezes eu duvidei: talvez o efémero, no fim, seja mais gratificante e
mais novo…
Este é o dilema: a novidade do efémero ou a novidade da vida em Cristo? Em outras palavras: vivo no hoje ou vivo na eternidade?
A Quaresma é o tempo em que o Senhor nos revela o que fez por nós,
para que possamos viver para sempre. É o hoje da plenitude da minha
existência, e não o hoje que passa.
Você quer passar ou quer permanecer?
Com Cristo você pode dizer: tudo passa, mas eu permaneço. Sim, porque o efémero passa, mas o baptizado não.
Queridos amigos, faço votos de que vocês vivam o itinerário quaresmal
abrindo o seu coração e a sua mente para a Palavra que nos comunica um
amor incomensurável, o amor d’Aquele que deu por você tudo o que tinha: a
própria vida.
Confie n’Ele! Ele não quer “alistar” você, mas sim que você viva plenamente.
Por isso, Aldo Moro podia dizer com franqueza: a estação dos direitos
e das liberdades, sozinha, não é suficiente para construir a história. É
necessário algo mais importante: o amor de Cristo, que nos liberta
daquilo que é efémero.
Só Ele pode nos dar os olhos para vermos a vida com o mesmo amor com que Ele a vê.
Espero vocês nesta quarta-feira, 3 de Fevereiro, às 20h, na Basílica
da Santa Cruz de Jerusalém para nos prepararmos para o caminho
quaresmal.
Com amizade,
+ Lorenzo, bispo
in
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