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quarta-feira, 3 de fevereiro de 2016

Director da pastoral universitária de Roma: “Não aos direitos e liberdades sem responsabilidade para com os outros”

Na sua carta de Fevereiro, dom Lorenzo Leuzzi alerta os alunos sobre a cultura do efémero


Pixabay CC0

Reproduzimos abaixo, na íntegra, a carta deste mês de Fevereiro escrita por dom Lorenzo Leuzzi, director da pastoral universitária da diocese de Roma, para os universitários da cidade.

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Queridos universitários,

Uma semana atrás, nosso Senhor chamou a minha mãe para a vida eterna. Foi uma experiência que me ajudou muito a repensar a minha vida. Devo dizer que experimentei a alegria da acção de graças.

Abraçando os amigos, que, com tanta benevolência, me deram forças, eu procurei encontrar o núcleo desta minha experiência de filho, que durou 60 anos. Veio à minha mente uma frase, famosa, de Aldo Moro:

“A estação dos direitos será efémera se não nascer uma nova estação dos deveres. Este país não se salvará, a estação dos direitos e das liberdades se revelará efémera se, na Itália, não nascer um novo senso de dever”.

Queridos amigos, nunca como na hora da morte emerge o grande julgamento sobre a nossa vida: efémera ou eterna!

Quando Aldo Moro pronunciou essas palavras, a sociedade italiana estava diante de uma encruzilhada: ou continuar no caminho da reconstrução, difícil, mas envolvente, ou escolher o caminho da complacência narcisista, até legítima, mas sem qualquer perspectiva para o futuro.

Quando se é jovem, é fácil escolher o segundo caminho, o dos direitos e das liberdades, livre de responsabilidades para consigo mesmo e para com os outros.

Eu tive o grande dom de acreditar que o hoje é sempre ambíguo, não exaustivo da própria existência. Confiar-se ao hoje significa construir sobre a areia, sobre o efémero.

Quando estudei o existencialismo, de qualquer inspiração cultural que fosse, inclusive religiosa, fui sempre céptico. Sim ao hoje! Mas e o amanhã?

Queridos amigos, o efémero é o hoje vivido sem passado e sem futuro. É o aqui e agora daqueles que não sabem que têm uma origem e que podem caminhar ao encontro de uma meta. A morte está diante de mim para me lembrar que eu tenho de escolher entre confiar no efémero ou ter um projecto de vida que permanece e nunca se apaga.

Quem pode me libertar do efémero?

Só o amor de Cristo!

Muitos tentaram resolver a questão com propostas de grande espessura religiosa ou social. Penso no projecto do marxismo, na utopia do progresso contínuo, nas experiências de introspecção psicológica ou de vida espiritual: tudo interessante e fascinante. Mas e eu, por que eu tenho que me comprometer se tudo é efémero?

Os cristãos também sofreram o desapontamento de uma experiência de fé efémera, forte e agressiva, mas vazia quando, por trás dela, não está Ele, o Senhor da história.

Queridos amigos, a próxima Quaresma, que começará neste dia 10 de Fevereiro, dentro do Jubileu extraordinário da Misericórdia, é um grande presente para cada um de nós. É o momento em que a minha existência, como a de todos os baptizados, se coloca na posição de não ter medo daquilo que é efémero, mas de acolhê-lo e entregá-lo a Ele.

Sim, queridos amigos, a Quaresma é o tempo em que, finalmente, eu não tenho que me esconder; é o tempo em que eu tenho que descobrir que nosso Senhor preparou um novo projecto, uma nova estação, da qual tantas vezes eu duvidei: talvez o efémero, no fim, seja mais gratificante e mais novo…

Este é o dilema: a novidade do efémero ou a novidade da vida em Cristo? Em outras palavras: vivo no hoje ou vivo na eternidade?

A Quaresma é o tempo em que o Senhor nos revela o que fez por nós, para que possamos viver para sempre. É o hoje da plenitude da minha existência, e não o hoje que passa.

Você quer passar ou quer permanecer?

Com Cristo você pode dizer: tudo passa, mas eu permaneço. Sim, porque o efémero passa, mas o baptizado não.

Queridos amigos, faço votos de que vocês vivam o itinerário quaresmal abrindo o seu coração e a sua mente para a Palavra que nos comunica um amor incomensurável, o amor d’Aquele que deu por você tudo o que tinha: a própria vida.

Confie n’Ele! Ele não quer “alistar” você, mas sim que você viva plenamente.

Por isso, Aldo Moro podia dizer com franqueza: a estação dos direitos e das liberdades, sozinha, não é suficiente para construir a história. É necessário algo mais importante: o amor de Cristo, que nos liberta daquilo que é efémero.

Só Ele pode nos dar os olhos para vermos a vida com o mesmo amor com que Ele a vê.

Espero vocês nesta quarta-feira, 3 de Fevereiro, às 20h, na Basílica da Santa Cruz de Jerusalém para nos prepararmos para o caminho quaresmal.

Com amizade,

+ Lorenzo, bispo


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