Na missa em São Pedro, o Papa exorta a ser “homens e mulheres do
encontro” e fazer “escolhas corajosas e proféticas”. Encontro surpresa
na Basílica
“Ai do costume na vida espiritual; ai do cristalizar os nossos
carismas em uma doutrina abstracta: os carismas dos fundadores não são
para trancar em garrafas, não são peças de museu”. Com efeito, deve-se
“fazer escolhas proféticas e corajosas”, seguindo o exemplo de seus
fundadores que “não tiveram medo de sujar-se as mãos com a vida quotidiana e os problemas das pessoas”.
Nessas poucas linhas se resume o mandato que o Papa Francisco confiou
a sacerdotes, freiras, religiosos e religiosas na conclusão do Ano da
Vida Consagrada. Um ano – diz o Pontífice na Missa na Basílica de São
Pedro – “vivido com muito entusiasmo” e que agora “como um rio, desagua
no mar da misericórdia, neste imenso mistério de amor que estamos
experimentando com o Jubileu extraordinário”.
No final destes doze meses encontramos um ícone, diz o Papa, “um fato
simples, humilde e grande”: Jesus levado por Maria e José ao templo de
Jerusalém. “Uma criança como tantas, como todos”, mas que é “única”, “O
Unigénito vindo por todos” para levar “a misericórdia e a ternura de
Deus”.
“No templo Jesus vem a nós e nós vamos a Ele”, destacou o Santo Padre
na festa de ontem, que, no Oriente é chamada de festa do encontro. No
Evangelho de hoje, Cristo encontra Simeão e Ana que representam “a
espera e a profecia”, enquanto Ele “é a novidade e o cumprimento”. Jesus
– explicou o Papa – “se apresenta a nós como a perene surpresa de Deus;
nesta criança nascida por todos se encontram o passado, feito de
memória e de promessa, e o futuro, repleto de esperança”. E nisso
podemos ver “o começo da vida consagrada”, porque consagrados e
consagradas são chamados, principalmente, a ser homens e mulheres do
encontro”.
“A vocação – reitera o Papa – não começa com um projecto pessoal
‘planeia’, mas por uma graça do Senhor que nos alcança, através de um
encontro que muda a vida”, que não te permite “permanecer igual que
antes”. Quem vive este encontro “se torna testemunha e faz possível o
encontro aos outros”; e se faz também “promotor da cultura do encontro,
evitando a auto referencialidade que nos faz permanecer fechados em nós
mesmos”.
O exemplo é sempre Cristo, que não hesitou em partilhar a nossa
condição humana. “Jesus não nos salvou ‘de fora’, não ficou fora do
nosso drama, mas quis compartilhar a nossa vida”, observou Francisco. O
mesmo os consagrados e consagradas “são chamados a serem sinais
concretos e proféticos desta proximidade de Deus, desta partilha com a
condição de fragilidade, de pecado e de feridas do homem do nosso
tempo”.
Todas as formas de vida consagrada, sem excepção, e cada uma de acordo
com suas características, devem, portanto, estar “em estado permanente
de missão”, compartilhando “as alegrias e as esperanças, as tristezas e
as angústias dos homens de hoje, dos pobres especialmente e de todos
aqueles que sofrem”.
Além disso, o Papa indica um outra virtude: a maravilha. Nós,
cristãos, “somos guardiões” de tal maravilha que – observa – “pede para
ser sempre renovada”. Os fundadores das várias ordens religiosas o
fizeram, “sujando-se com a vida quotidiana, com os problemas das
pessoas”, e “percorrendo com coragem as periferias geográficas e
existenciais”.
Eles “não pararam diante de obstáculos e incompreensões dos outros,
porque mantiveram no coração a maravilha do encontro com Cristo. Não
domesticaram a graça do Evangelho; sempre tiveram no coração uma
saudável preocupação pelo Senhor, um desejo pungente de leva-lo aos
demais”.
“Também nós somos chamados hoje a fazer escolhas proféticas e
corajosas”, reiterou Bergoglio. E concluiu exortando a viver também a
gratidão: “pelo encontro com Jesus e pelo dom da vocação à vida
consagrada”. “Como é belo – observa o Papa – quando encontramos o rosto
feliz de pessoas consagradas, talvez já idosas como Simeão ou Ana,
felizes e cheios de gratidão pela própria vocação”.
Três são, portanto, as perspectivas que se abrem para os consagrados
na conclusão do Ano dedicado a eles: “Aumentar em cada um o desejo do
encontro, a guarda da maravilha e a alegria da gratidão”. Então –
garante o Papa Francisco – “outros serão atraídos pela sua luz, e
poderão encontrar a misericórdia do Pai”.
No fim da Missa, o Santo Padre reservou um agradável surpresa para
todos os presentes na celebração, encontrando-os no átrio da Basílica
para uma breve saudação. Um gesto inesperado, durante o qual Bergoglio
quis agradecer aos presentes pela sua missão, pelo seu serviço e pelo
seu trabalho, convidando-os a “continuar a trabalhar sempre…”. O Papa
também pediu aos presentes para não esquecerem nunca da beleza do
primeiro chamado, e de fazê-lo com simplicidade e lealdade, sem nunca
cansar-se, mas olhando adiante com esperança. Todos juntos, antes de
concluir, rezaram uma Ave Maria.
in
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