Páginas

segunda-feira, 10 de junho de 2013

«O aborto é um holocausto»: Chris Aubert, judeu católico, filho de um sobrevivente de Auschwitz


Pagou por abortar dois filhos... Horrorizou-se depois

Actualizado 17 de Maio de 2013

P. J. Ginés/ReL

Há quem se zangue quando se compara o aborto com um genocídio ou o Holocausto, o extermínio dos judeus às mãos dos nazis.

Mas Chris Aubert sabe de que fala quando compara ambos os horrores, porque o seu pai viveu um e dois dos seus filhos morreram no outro... E ele pagou para que os matassem.

A criança do violino nos crematórios
Quando se fala de prisioneiros judeus tocando o violino enquanto filas inteiras entravam nos fornos crematórios e nas câmaras de gás, não se faz uma ligação poética. O pai de Chris era um desses judeus que tocava o violino.

Chamava-se Henri, tinha crescido na França e Polónia, os nazis encerraram-no no campo de Buchenwald, na Alemanha, e não o mataram porque divertia as SS tocando o violino.

"Forçaram-no a tocar o violino para as tropas durante a marcha mortal que levou os seus pais e irmã ao crematório", recorda Chris. Tinha 14 anos quando o transferiram para Auschwitz, pouco antes de acabar a guerra: conseguiu sobreviver.

Uma educação judia tíbia
Emigrou para Nova Iorque, conheceu uma rapariga de família católica, pouco devota, e casaram-se. Em 1957 nasceu Chris. E dois anos depois, separaram-se. Quando Chris tinha 5 anos, a sua mãe conheceu outro judeu, converteu-se ao judaísmo por ele, de novo sem devoção, e educaram Chris como judeu pouco religioso: iam ao templo só em grandes festas, e só até que fez o Bar Mitzvah com 13 anos. Pouco depois, com 14 anos, o pai de Chris morreu de cancro cerebral.

Chris foi para uma universidade "muito judia", Tulane, em Nova Orleães, mas para ele não havia mais religião nem mais moral que o útil e imediato. "Todos o fazem, não magoa ninguém, que problema tem": esse era o seu lema aplicável ao sexo sem amor, às festas sem limite "e a muitas outras coisas das que hoje me arrependo".

Depois de um tempo como locutor desportivo, estudou direito, e em 1984 trabalhava como advogado numa empresa grande e ganhava dinheiro.

Os seus dois abortos: nem ver, nem entender

Em 1985 deixou grávida uma rapariga. Ela decidiu abortar. "É o seu corpo, que faça o que quiser, só é um tecido inviável", pensou ele. E, com mentalidade de advogado, "o Tribunal Supremo diz que é legal". Nem sequer a acompanhou à clínica: passou-lhe um cheque por debaixo da porta da sua casa e esqueceu-se dela.

Em 1991, deixou grávida outra rapariga, desta vez uma namorada mais estável. Acompanhou-a à clínica, pagou-lhe a factura do aborto e depois levou-a a almoçar. "Creio que não falámos muito, mesmo nada, do que acabávamos de fazer. Ainda hoje recordo esse silêncio estranho. Ainda que estivesse de acordo com esse aborto, inclusive de forma ansiosa, havia algo nele que me parecia erróneo".

O Holocausto fê-lo pensar

Foi por essa altura quando ouviu alguém dizer que o aborto era "o holocausto americano". Judeu, filho de um sobrevivente de Buchenwald e Auschwitz, neto de vítimas do holocausto nazi, Chris não se ofendeu, mas sim pensou: que tem o aborto para que alguém o compare com o Holocausto?

Chris Aubert encontrou Deus quando
nasceu a sua primeira filha
Em 1992 começou a sentir curiosidade pelo cristianismo. Em Nova Orleães as pessoas eram muito cristãs, e pela forma de ser dos sulistas, católicos e protestantes falavam da fé com naturalidade. Deu-se conta de que tinha 35 anos, era um advogado culto, mas não sabia nada de Jesus nem da Bíblia. Nem sequer tinha uma, nunca a tinha lido. Pareciam coisas importantes para alguns dos seus amigos. Porquê?

Começou a investigar sobre o cristianismo, os seus valores, e encontrou-lhe certo atractivo. Mas acreditava que a religião organizada não tinha sentido, e que, em todo o caso, ele era judeu, ou pelo menos isso dizia se alguém lhe perguntava.

Também nesse ano conheceu a que seria sua mulher, Rhonda, católica de toda a vida... Mas nada devota. Nessa época só era, diz Chris, "católica-quando – convêm".

O bebé e os ultra-sons
Casaram-se em Junho de 1994, e dois meses depois ela estava grávida. Muito contentes e animados, foram ao ginecologista, e pela primeira vez viu o que era um bebé por ultra-sons.

"Recordo vivamente que apontei o ecrã emocionado e disse em voz alta: ¡a ver que pessoa pode dizer que isso não é um bebé! Nunca tinha pensado nisso com tal força antes. Inundou-me a emoção dos meus dois abortos, que me convenceram do mau que era o aborto. Era realmente o holocausto americano, não muito diferente ao que meu pai havia sobrevivido, ou ao que ele temia que pudesse chegar outra vez".

E quando a pequena Christine nasceu, e enquanto lhe pegava com os seus deditos, Chris compreendeu horrorizado: "havia permitido que desmembrassem os meus dois primeiros filhos, que os atirassem para um balde do lixo, porque não fui suficientemente homem, e não fiz nada; inclusive tinha pagado por esse privilégio", lamenta.

Há bem, há mal: o relativismo afunda-se
Deu-se conta de que o seu bebé aproximava de um mistério: o amor de Deus, a vida, algo sagrado... Coisas que nunca tinha pensado. E que havia coisas realmente boas e outras horrendas, que eram verdades absolutas que não encaixavam no seu relativismo. Tinha 38 anos e todo o seu sistema moral hedonista se afundava.

A sua mulher inscreveu-o num curso de iniciação cristã para adultos numa paróquia católica, e assim, na Vigília Pascal de 1997, Chris baptizou-se como católico. A fé converteu-se em algo importante para o matrimónio.

Chris Aubert, sua esposa e o cardeal DiNardo
Conheceu depois protestantes que lhe falaram mal da doutrina católica, que ele apenas conhecia, mas com a dedicação de um advogado decidiu estudar a doutrina, e convenceu-se de que "não importa qual seja a acusação anticatólica: a Igreja Católica já a ouviu antes e tem uma resposta que só a Igreja que Jesus iniciou poderia dar".

A curiosidade leva a conhecer
Hoje Chris é um evangelizador e defensor da vida, que colabora dando palestras e explicando o seu testemunho. Às pessoas que não tem fé e se definem como cépticas, saúda-as com especial carinho porque se considera um deles. "Se Deus não me tivesse dado como bênções a minha curiosidade e o meu cepticismo, nunca se me teria ocorrido estudar porque há gente que deixa a Igreja", diz: nunca se teria formado.

Mas fê-lo, e por isso pode ajudar hoje os outros.


in

Sem comentários:

Enviar um comentário