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segunda-feira, 10 de junho de 2013

As festas e o jogo não acalmavam o seu mal-estar... Mas Deus curou os seus medos: «Já não me perturba nada»

Alfredo García Huetos
 

O livro "O regresso do filho pródigo" de Henri J. M. Nouwen foi um primeiro passo para mudar de vida e unir-se a um grupo de oração que lhe descobriu uma experiência viva de Deus.

Actualizado 17 de Maio de 2013

ReL


Alfredo García Huetos foi seminarista nos seus tempos jovens, mas depois de sair da vida religiosa "congelou" Deus durante mais de 20 anos. Mas nessa fuga permanente do Senhor, Deus estava procurando-o com ânsia. Esta é uma história de hoje do regresso do filho pródigo à casa do Pai:

Saída do seminário
Há um momento na nossa vida que marca para sempre um antes e um depois. Pelos oitenta, a minha prática religiosa (anos atrás tinha deixado o seminário) começava a declinar. Fascinado pelo vendaval da vida eu afastei-me de Deus. Ainda que de cara aos meus amigos passava por ser uma pessoa feliz, e inclusive religiosa, a realidade era muito diferente; mas um perfeito domínio de mim mesmo, permitia-me dissimular a ondulação interior da minha tormenta.

Calar o mal-estar com festas...
Detectava em mim uma lenta traição ao que tinha sido básico na minha vida; e necessitava calar o meu mal-estar em festas, saídas, viagens ou em actos literários onde ser reconhecido e admirado.

Deus preparava o caminho de volta
Começava-me a atazanar uma angústia difusa e o meu carácter tornava-se cada vez mais irritável. Sem dúvida, no meio desta cadeia de infelicidade, Deus estava-me preparando o caminho de regresso ao seu lar, ainda que antes teria que derramar todavia muitas lágrimas.

Propósitos que fracassam uma e outra vez
Os meus propósitos de dar uma mudança de rumo e iniciar uma nova vida afundavam-se sucessivamente, e a minha dependência de todo o exterior mantinha-me manietado. Pelos noventa o quadro de desassossego tinha piorado e inclusive se somatizava: fui intervencionado de um pólipo nasal, assim como de um tumor na bexiga e sofri uma grave paralisia facial.

Ainda que por fortuna recuperei-me fisicamente, uma crescente sensação de desassossego continuava atanazando-me. Uma inquietude interna impulsionava-me a sair fora de casa.

Um livro agitou o coração

Também comecei a gastar dinheiro em jogos de azar. Interiormente, por vagas, experimentava uma nostalgia de Deus, mas requeria-se uma volta íntima que me lançasse até à luz e reorientasse o sentido da minha vida. Por então, caiu nas minhas mãos “O regresso do filho pródigo” comovedor testemunho de Henri J. M. Nouwen, com cuja história me senti identificado. Uma ténue luz vislumbrava-se no meu horizonte. Algo dentro de mim se agitava.

A obscuridade volta de novo
Sem dúvida, quando as coisas pareciam aclarar-se, um evento inesperado rompia de novo os meus esquemas: a minha mãe falecia de uma queda, em consequência de um golpe na cabeça. Crise total, sentimento de culpabilidade, e obscuridade de novo. Os anos perdidos se agitavam dentro de mim como um lodo que produzia náuseas. Sem dúvida, esse evento, em aparência absurdo, ia ser o revulsivo que me faria despertar do meu extravio religioso. Aproximava-se o momento crucial na minha vida.

Confissão e mudança de vida
Naquela mesma tarde - de corpo presente ainda minha mãe -, senti no meu interior que devia deixar para trás o passado velho. Saí da morgue e dirigi-me a uma igreja com a intenção de confessar-me. No meio de soluços e de lágrimas, tive uma profunda sensação de arrependimento, de conversão e graça.

Oração num grupo carismático
Ainda que se seguiram momentos de aridez e de grande desassossego, senti que a ferida infectada dos anos estava chegando ao ponto de fazer crise. Naquela situação, uma amiga tinha-me convidado para um grupo carismático. Fui ali e sentava-me no final de tudo em completo anonimato. Devido à forma tão chamativa de oração, sentia um pouco de vergonha, mas começava a notar que algo dentro de mim se agitava. Experimentava uma vaga doce que me fazia bem. Em ocasiões, fechava as pálpebras e deixava-me levar por um murmúrio de orações que eu não entendia. Uma sensação de paz estranha invadia-me, e em tudo isso experimentava um efeito misteriosamente curativo.

`Como novo Pentecostes´
O caminho do retorno - já imparável - até uma vida nova tinha começado. Depois de tanto afastamento de Deus, um fortíssimo impulso, uma nostalgia profunda de algo perdurável bulia no meu interior. Tinha lido `Como novo Pentecostes´, um livro da jovem Patti Gallagher Mansfield, sobre uma experiência poderosa do Espírito sobre um grupo de estudantes norte-americanos, lá pelos anos sessenta. Casualmente, a dita autora vinha a Madrid a uma Assembleia Carismática em 1999. Intrigado por saber quem era, apresentei-me ali livremente; não conhecia ninguém e me dava apuro exteriorizar os meus sentimentos. O testemunho desta mulher comoveu-me. Num dado momento, convidou a porem-se de pé as pessoas que decidiram mudar para uma vida nova. Eu fi-lo. Durante a missa, depois da consagração, a impressão vivíssima da custódia dando a volta ao Pavilhão de Desportos do Real Madrid no meio de aplausos e milhares de braços levantados, trouxeram-me a emoção aos olhos e chorei.

Experimentar Deus
Era como se vinte anos se tivessem rebobinado luminosamente num minuto. Todas as lágrimas me serviram para conhecer a realidade desse Deus que, na minha fuga, procurava-me, e cuja graça voltaria a experimentar profundamente pouco depois. Desde então, a minha vida decorre serena, como nunca tinha sucedido em muitos anos. Não seria justo dizer que estou atravessando um bom momento: na realidade, permaneço no tempo perdurável e amoroso de Deus. Todo o passado foi redimido. Fisicamente estou restabelecido, desapareceram velhos traumas e complexos; a minha vida unificou-se e não fica em mim nenhum rancor. Jesus Cristo é meu Senhor. Já não me perturba nada. Finalmente, sinto-me tão querido e tão curado no mais profundo do meu ser, que devo dar as graças ao Espírito Santo por ter-me transformado numa criatura nova».


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