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quarta-feira, 27 de novembro de 2024

Documento do Sínodo é “orientação autorizada” para mudanças na Igreja Católica

Papa Francisco publica nota de esclarecimento

 | 26 Nov 2024

Sínodo, Papa Francisco,

Palavras finais do Papa no encerramento do Sínodo sobre a sinodalidade: “Reconhecendo o valor do caminho sinodal concluído, entrego agora à Igreja todas as indicações contidas no Documento Final (…)” Foto © Vatican Media


“Reconhecendo o valor do caminho sinodal concluído, entrego agora à Igreja todas as indicações contidas no Documento Final, como restituição do que amadureceu ao longo destes anos, através da escuta e do discernimento, e como orientação autorizada para a sua vida e a sua missão”.

A declaração formal é do Papa Francisco e acaba de ser publicada numa “Nota de acompanhamento” do Documento Final da XVI Assembleia Geral Ordinária do Sínodo dos Bispos, que constitui uma explicação complementar da atitude inédita que o Papa tomou no último dia dos trabalhos sinodais, quando os membros da Assembleia concluíram a votação de cada um dos pontos daquele Documento. Nesse momento, o Pontífice tomou a palavra e declarou que fazia seu o documento, que prescindia de fazer uma “exortação apostólica pós-sinodal, e que o conteúdo da matéria aprovada passava a ser “orientação autorizada” para a vida e missão da Igreja Católica.

O Documento, explica agora o Papa, “recolhe os frutos de um caminho marcado pela escuta do povo de Deus e pelo discernimento dos pastores”. “Toda a Igreja, observa ele, foi chamada a ler a sua própria experiência e a identificar os passos a dar para viver a comunhão, realizar a participação e promover a missão que Jesus Cristo lhe confiou”.

“Também eu aprovei [o Documento] e, assinando-o, ordenei a sua publicação, unindo-me ao nós da Assembleia”, faz notar Francisco.

A “Nota de acompanhamento” dá, depois algumas indicações específicas, que se podem sumariar nos pontos seguintes:

  • O Documento aprovado “não é estritamente normativo” e “a sua aplicação exigirá diversas mediações”. Porém, “isto não significa que não comprometa as Igrejas a partir de agora a fazer escolhas coerentes com o que nele é indicado”.
  • Às igrejas locais cabe agora “implementar, em diferentes contextos, as indicações de autoridade contidas no Documento, através dos processos de discernimento e de tomada de decisões previstos na lei e no próprio Documento”.
  • O Documento contém indicações e orientações básicas que “já podem ser implementadas nas igrejas locais e nos agrupamentos de Igrejas, tendo em conta os diferentes contextos” e “aquilo que já foi feito e que falte fazer para aprender e melhorar cada vez mais o estilo da Igreja sinodal missionária”.
  • Noutros casos, será possível, “através de um discernimento sinodal e no quadro das possibilidades indicadas pelo Documento Final, “ativar criativamente novas formas de ministerialidade e de ação missionária, experimentando e submetendo as experiências à verificação”.
  • Nas suas visitas periódicas ao Papa e aos dicastérios da Cúria (ad limina), os bispos deverão, doravante, no relatório previsto, dar conta de “quais as escolhas feitas, as dificuldades encontradas e os frutos obtidos na Igreja local de que é responsável, em relação ao que está indicado no Documento final.

O Papa Francisco alude ainda, nesta Nota, a dois outros aspetos. O primeiro diz respeito ao que poderá ainda resultar dos dez grupos de estudo que estão a profundar temas mais delicados e polémicos e que, por isso, requerem “tempo para chegar a escolhas que envolvam toda a Igreja”. Neste ponto, o Pontífice chega a admitir a possibilidade de acrescentar outros grupos novos aos já existentes, “em vista das decisões necessárias”.

O outro ponto, que vai exigir muito discernimento e trabalho preparatório, refere-se a algo que o Francisco já deixou entreaberto a propósito Amoris laetitia (2016) e que surge com clareza no Documento deste Sínodo: “nem todas as discussões doutrinárias, morais ou pastorais devem ser resolvidas com intervenções do magistério”. “Naturalmente, explica o Papa, a este respeito, na Igreja é necessária uma unidade de doutrina e prática, mas isso não impede que existam diferentes formas de interpretar alguns aspetos da doutrina ou algumas consequências que dela derivam. Isto acontecerá até que o Espírito nos conduza à verdade completa (cf. Jo 16,13), ou seja, quando nos introduzir perfeitamente no mistério de Cristo e pudermos ver tudo com o seu olhar”.



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