Na minha primeira ida a Fátima, em 1937, a pé,
com ela, e cento e tal da paróquia, encontrámos outra Mãe. Nas comidas,
encontros diários, nunca todos os três irmãos e as três irmãs, minha mãe, em
tempo de racionamento e guerra, enternecia-nos: «gosto mais de vos ver comer
que comer eu mesma». Nunca faltaram víveres da dezena de pequenos campos e dos
currais. As vendas permitiam, ainda, ter mercearia e sardinhas (uma ou só
meia); e artigos das feiras dos 12 e dos 24. Meu pai era um faz-tudo: molins,
cestos, baldes, carros de mão, colheres, serração braçal e carrinhos de
brincar. Minha mãe fiava e tecia: lã, linho e mantas de retalhos no tear,
“truca-truca”, horas a fio. A lã era das ovelhas do mini-rebanho; trapos
reciclados; e linho semeado e preparado por meu pai. Minha mãe era “a mulher
virtuosa…”: fiava e tecia lã e linho…dava pão à sua casa… e aos pobres, à
porta, a rezar a esmola (cf.Prov.31). E cedo me entregou
à Mãe de Nazaré, aos 18 anos; para
encontros, além tempo e espaço, no instante eterno.
sábado, 4 de maio de 2024
Ternos encontros com minha Mãe
A
minha mãe encontra em si o seu bebé e diz ao pai: já não contava. Ia eu fazer
sete, e ela, comigo ao lado, diz à amiga: este rapazito? «é o Aires, o meu mais
novo; já não o esperava». «Vai à escola este ano». Mais tarde fiz as contas.
Minha mãe sentiu-me em si, aos 44, sem me esperar. Meu primeiro encontro com
ela? Quando me deitava no berço, lembro-a a ensinar-me a rezar ao Pai do Céu:
«com Deus me deito, com Deus me levanto; em nome do Pai, do Filho e do Espírito
Santo». No regaço, acariciava-me a cabeça a ver se tinha piolhos. E antes dos
oito, sob carvalhos seculares, na ida à igreja, ensinava como confessar-me para
a primeira comunhão.
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