Nos animais irracionais, pode existir um
sentimento de atração e proteção, mas é sempre o instinto que impera. Aos peixes, por exemplo, nada lhes importa a
sua descendência, mas nos mamíferos já reconhecemos cuidados paternais.
O amor é um sentimento muito rico e
abrangente no ser humano. Começa por ser um impulso dirigido a algo que agrada:
a terra, a natureza, o belo, a arte... Até aqui já nos apercebemos de que, na
natureza humana, existe algo mais do que o instinto e que esse algo é
superior ao instinto. Ignorar esse algo desumaniza o homem que fica
então limitado na sua espiritualidade, essa componente do Homem que protege e secunda
o desenvolvimento do seu corpo. São a inteligência e o trabalho humanos que
ajudam a sobreviver às inclemências do meio ambiente. Também no que respeita ao
amor.
O amor humano é um sentimento que tem um
projeto, uma meta que necessita de tempo e reciprocidade para se desenvolver,
seja ele a sobrevivência individual ou familiar, o cuidado da terra, a defesa
da pátria. Se o amor de alguém o leva a afirmar “amo-te porque és assim,
enquanto fores assim” e abandona o seu projeto quando o outro perde a beleza, a
saúde, a riqueza, essa pessoa nunca chegou a amar.
É aqui que entra a nossa metáfora da corrida
de estafetas. O amor é a corrida, uma vida partilhada com outros aos quais se
passa o testemunho. O “testemunho” é a vontade, um desejo forte de
alcançar a meta superando dores e sacrifícios. A corrida pode ser curta, como
certas vidas, mas deve ser rápida (vivida com empenho) para ser eficaz. O
primeiro estafeta deve partir com o “testemunho” bem seguro na mão.
O “testemunho” da vontade deve ter o
tamanho certo: grande para ser passado ao estafeta seguinte sem o deixar cair,
pequeno para não pesar demasiado na corrida. A vontade deve fazer parte
de um dos estafetas que corre; se o deixar cair, por exemplo na recepção do
testemunho de outra mão para a sua, tem de voltar atrás para o recolher, mas
pode ser ajudado pelo anterior. Na vida, no amor, não pode ser só um a correr,
a ter vontade. A vontade, ser é exígua, pode não ser suficiente.
A vontade pesada pode levar à exaustão. A partilha do percurso por
vários estafetas, nos momentos previstos, permite maior rapidez e cooperação na
chegada à meta. É a vontade que leva o amor do marido a cozinhar quando
a mulher está cansada, que leva o amor dos filhos a ajudar nos trabalhos da
casa e nos assuntos dos pais.
É necessário que todos os estafetas recebam o
testemunho, embora de modo diferente. Cada estafeta tem defeitos e qualidades
distintas. Há o rápido, o resistente, o que passa ou recebe o testemunho com
maior segurança, há o nervoso e o calmo... Porém, todos devem ter a vontade
de chegar à meta. Alcançar a felicidade de vencer para si, para a sua equipa,
para os seus fãs.
Sem comentários:
Enviar um comentário