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sexta-feira, 17 de maio de 2024

Corrida de estafetas

Neste artigo, o tema principal, por ser o mais importante na vida humana, é o amor. Que tem isso a ver com o desporto? É a esta natural pergunta que tentarei responder com a metáfora da corrida de estafetas.

Nos animais irracionais, pode existir um sentimento de atração e proteção, mas é sempre o instinto que impera.   Aos peixes, por exemplo, nada lhes importa a sua descendência, mas nos mamíferos já reconhecemos cuidados paternais.

O amor é um sentimento muito rico e abrangente no ser humano. Começa por ser um impulso dirigido a algo que agrada: a terra, a natureza, o belo, a arte... Até aqui já nos apercebemos de que, na natureza humana, existe algo mais do que o instinto e que esse algo é superior ao instinto. Ignorar esse algo desumaniza o homem que fica então limitado na sua espiritualidade, essa componente do Homem que protege e secunda o desenvolvimento do seu corpo. São a inteligência e o trabalho humanos que ajudam a sobreviver às inclemências do meio ambiente. Também no que respeita ao amor.

O amor humano é um sentimento que tem um projeto, uma meta que necessita de tempo e reciprocidade para se desenvolver, seja ele a sobrevivência individual ou familiar, o cuidado da terra, a defesa da pátria. Se o amor de alguém o leva a afirmar “amo-te porque és assim, enquanto fores assim” e abandona o seu projeto quando o outro perde a beleza, a saúde, a riqueza, essa pessoa nunca chegou a amar.

É aqui que entra a nossa metáfora da corrida de estafetas. O amor é a corrida, uma vida partilhada com outros aos quais se passa o testemunho. O “testemunho” é a vontade, um desejo forte de alcançar a meta superando dores e sacrifícios. A corrida pode ser curta, como certas vidas, mas deve ser rápida (vivida com empenho) para ser eficaz. O primeiro estafeta deve partir com o “testemunho” bem seguro na mão.

O “testemunho” da vontade deve ter o tamanho certo: grande para ser passado ao estafeta seguinte sem o deixar cair, pequeno para não pesar demasiado na corrida. A vontade deve fazer parte de um dos estafetas que corre; se o deixar cair, por exemplo na recepção do testemunho de outra mão para a sua, tem de voltar atrás para o recolher, mas pode ser ajudado pelo anterior. Na vida, no amor, não pode ser só um a correr, a ter vontade. A vontade, ser é exígua, pode não ser suficiente. A vontade pesada pode levar à exaustão. A partilha do percurso por vários estafetas, nos momentos previstos, permite maior rapidez e cooperação na chegada à meta. É a vontade que leva o amor do marido a cozinhar quando a mulher está cansada, que leva o amor dos filhos a ajudar nos trabalhos da casa e nos assuntos dos pais.

É necessário que todos os estafetas recebam o testemunho, embora de modo diferente. Cada estafeta tem defeitos e qualidades distintas. Há o rápido, o resistente, o que passa ou recebe o testemunho com maior segurança, há o nervoso e o calmo... Porém, todos devem ter a vontade de chegar à meta. Alcançar a felicidade de vencer para si, para a sua equipa, para os seus fãs.

O sentimento é o motor, mas a vontade é o combustível que dá energia a cada pessoa. Sem a vontade, o sentimento não avança. Os dois juntos constroem o amor. Ao chegar à meta da vida, pode avistar-se um campo florido, uma família feliz, trabalhadores que serviram a sociedade, países em paz... estafetas que alcançaram a santidade.

OBS: Ideias baseadas no livro “Antropología Filosófica” de José Ramón Ayllon, Ariel

Isabel Vasco Costa


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