Coordenador dos trabalhos diocesanos para o Sínodo dos Bispos lamenta «desmobilização» e pouca participação
“Nesta paróquia, onde estou há 15 anos, tenho uma igreja em Grândola, mas nesta freguesia, tenho sete pequenas comunidades, onde não há igreja física mas há Igreja pessoas que celebram nos centros comunitários, em espaços que nos são cedidos por associações. Esta é uma zona que tem um povoamento muito disperso, com aldeias e bairros, e foi um dinamismo que foi surgindo, tem criado frutos, num espirito sinodal que acontece”, explica à Agência ECCLESIA o pároco de Grândola.
O responsável dá conta de alguma “desmobilização”, reconhece que “alguns dinamismos e órgãos que não têm estado efetivamente a funcionar”, mas lembra que a diocese aguarda a chegada do novo bispo, D. Fernando Paiva, cuja ordenação está marcada para o dia 7 de julho.
A comissão diocesana para acompanhar o processo “mobilizou-se” e procurou desenvolver atividades que chegassem a todos – grupos, movimentos, catequeses, jovens: “Houve contributos, é claro que nós gostaríamos que fossem muitos mais, porque se um dos lemas do Sínodo era a participação, quanto mais participação, melhor”.
O coordenador da comissão reconhece zonas onde a participação foi maior, “o litoral da diocese e a cidade de Beja”, não necessariamente locais onde a prática religiosa é maior: “A prática religiosa da diocese rondava os 5%, e algumas zonas do interior têm uma taxa até superior, mas, de facto, não houve muita adesão, e nós ficámos um bocado tristes com este facto. Esta igreja, até do ponto de vista humano, é uma igreja envelhecida, estamos numa zona em que a taxa de natalidade, se a do país é baixa, aqui é muito mais baixa”, apresenta.
O padre Manuel António Guerreiro fala na dificuldade de mobilizar mas apresenta contributos interessantes focados nos relatórios enviados à comissão diocesana, que pedem a escuta de “pessoas com outras sensibilidades cristãs”, lamentam uma Igreja “muito clericalizada e rubricista em alguns aspetos, pouco dinâmica, pouco missionária”.
“A diocese tem menos jovens, menos crianças também, predominam as mulheres, e há vários anos existe a preocupação de como chegar aos homens, porque em muitas zonas a presença masculina é menor”, regista.
O responsável nota ainda que os relatórios dos grupos na Diocese de Beja apontaram a falta de “sentido de comunhão” entre grupos e movimentos, que “trabalham para si”, e pediram “maior comunhão entre o clero” que “é pouco e envelhecido”.
Precisamos de ser uma Igreja muito mais atenta aos sinais dos tempos, à ação do Espírito Santo, aos apelos que ele vai fazendo. Não podemos ser uma Igreja fechada sobre si própria, não podemos refugiar-nos dentro das fronteiras da Igreja, dentro das nossas seguranças, dentro dos nossos grupos que são muito bons e estamos muito bem, com o coração aquecido… mas, e a evangelização?”.
O padre Manuel Guerreiro nota que a sinodalidade pode marcar um novo capítulo na história da diocese, com uma “metodologia de maior envolvimento” e a chegada de D. Fernando Paiva crie “mecanismos” e se retome a “energia para evangelizar o Alentejo”.
“Não podemos ser apenas cristãos da prática sacramental, do domingo, mas temos que ser, sobretudo, cristãos de vida, e acho que é preciso um dinamismo novo que coloque os cristãos no meio do mundo, no meio das tarefas. Este é o tempo dos leigos, e acho que o sínodo veio dizer isto, não podemos ser uma Igreja clerical, uma Igreja fechada, uma Igreja de capelinhas que não contactam entre si, pelo contrário, temos que ser uma Igreja de irmãos, uma Igreja fraterna, uma Igreja onde se viva autenticidade, porque isso é fundamental para a evangelização”, explica.
A conversa com o padre Manuel António Guerreiro e o processo sinodal na Diocese de Beja vai estar no centro do programa Ecclesia, este sábado na Antena 1, pelas 06h00.
PR/LS
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