A primeira
edição, publicada em 1979, reúne os textos que o autor escreveu para a
revista Brotéria, após o 25 de Abril de 1974. Porém, quase meio século volvido,
o pensamento do Pe. Manuel Antunes continua a ser de extrema atualidade, pelo que pode ser considerada um “manual de mesa-de-cabeceira para políticos”.
Louvando
o gesto revolucionário, o professor também alerta para os seus perigos e
denuncia os aproveitamentos desviantes do ideal mais puro que a revolução
anunciava não deixando de apontar para novas formas e ameaças de antigos e
novos totalitarismos, de censura e inquisição.
No texto
intitulado “Que democracia para Portugal”, afirma que “o passado não pode
voltar e o presente não deve continuar”. Nesse artigo, aponta para os problemas
do país na sua época. As assimetrias e os dualismos de fundo, “dos salários
reais, demasiado altos uns, demasiado baixos os outros”.
“É o
descrédito – terrivelmente perigoso – de uma classe política, pouco preparada,
que rapidamente ascendeu e, não menos rapidamente está a declinar a olhos
vistos, devido à incompetência, ao oportunismo, ao demagogismo e à excessiva
partidarização dos seus quadros. É o desencanto ante o muito que se prometeu,
no concernente à saúde, à educação, aos transportes, às assimetrias regionais,
à habitação, ao nível e estilo de vida, à justiça social para todos, o muito
que se prometeu e o muito pouco que se realizou em todos esses domínios”.
Descortinou
e previu os perigos que ameaçam a consolidação e a durabilidade da democracia:
a corrupção, o individualismo, o partidarismo ou egoísmo partidário, a ânsia do
poder, do ter, relativizando qualquer desvio ético ou moral que, eventualmente,
pudesse vir a pairar e a denegrir uma aparente presença de serenidade,
segurança e confiança.
“A democracia é
necessária traduzi-la, pelo esforço de todos – mas sobretudo daqueles a quem
assiste maior responsabilidade política, social, económica e cultural – a
democracia é necessário traduzi-la nos factos e nas instituições que objetivem
e encarnem a Verdade, a Justiça, a Fraternidade e a Liberdade”.
Uma
revolução política tem de conter no seu cerne honestidade, dignidade, decência,
numa palavra ser essencialmente uma “Revolução Moral”, em ordem a promover
solidamente a “interiorização da democracia”, do seu sucesso ao longo do tempo
em prol dos cidadãos.
Não pode
conter no seu seio comportamentos políticos pautados pelo infantilismo e pelo
primarismo, que geralmente descambam em decisões prejudiciais para o bem do
povo.
Para o autor do
livro Repensar Portugal é
imperioso “interiorizar os valores da democracia” para elevar o comportamento
moral da Nação, no interior do ser humano, no contexto social e no mundo.
Estado e
sociedade civil, pessoas e comunidades, todos são chamados à ideia de
“mudança”, como ato de consequências duráveis e não apenas promessa populista…
Na política, na economia, na sociedade e na cultura, o humanista aponta para a
sabedoria das medidas graduais e, sobretudo, para o sentido da responsabilidade
e da justiça.
Este
livro foi, e continua a ser, uma obra profética. Repensar, denunciar, organizar
e animar Portugal é um desafio muito útil e oportuno que o Professor Manuel
Antunes nos oferece para acalentar o que designa como um “Projeto-esperança
para Portugal”.
Projeto
de um país em progresso adiado, que deve ser repensado e reatualizado hoje,
aqui e agora, pois Portugal não é um projeto acabado, mas um país em
permanente necessidade de (re) construção, em direção a um futuro que se
deseja mais brilhante, mais luminoso e mais exemplar.
“Deus quer, o homem sonha, a Democracia nasce, mas Senhor, falta cumprir-se “Renascer Portugal”!
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