Páginas

domingo, 24 de dezembro de 2023

O Mistério do Natal

O Natal está à porta! Já encontramos, por toda a parte, os sinais daquela alegria festiva própria desta época, as mesmas ruas iluminadas, as montras com os mesmos enfeites coloridos, os presentes, os doces e, claro, os pais natais com os seus fatos vermelhos, os trenós e as renas. E encontramos, também, os presépios com a Sagrada Família e o Menino Deus, e é, então, que se põe a pergunta: o que estamos a festejar? Talvez, para muitos, o que importa é a mensagem que as figurinhas do Presépio nos trazem na alegria própria do Natal: ser solidário, partilhar, ser amigo, fazer bons votos (saúde, bem-estar) e desejar a paz. Sim, é belo, mas, na verdade, o Natal traz algo mais!

Santa Teresa Benedita da Cruz escreveu numa belíssima meditação sobre a essência do Natal: “Quando os dias ficam cada vez mais curtos, quando caem os primeiros flocos de neve, então, surgem suavemente os primeiros pensamentos natalinos. Mesmo os que têm uma fé diferente, ou os ateus, para os quais a antiga história da criança de Belém nada significa, preparam-se para a festa e pensam em como acender um raio de alegria em toda a parte. É como uma correnteza quente de amor perpassando toda a terra. Uma festa de amor e de alegria.” E mais adiante, continua: “O mistério da encarnação e o mistério do mal vão juntos. Esta é uma grande e séria verdade, que não podemos encobrir por causa do encanto poético da criança no presépio.”

Edith Stein, filha de judeus, filósofa, professora, conferencista, converteu-se ao cristianismo após a leitura do Livro da Vida de Santa Teresa de Ávila. Em 1934 tornou-se Carmelita com o nome de Teresa Benedita da Cruz, em 1942 morreu na Câmara de Gás em Auschwitz. Foi canonizada em 1988. Talvez, justamente pelo seu percurso de vida em tempos horríficos, ela tenha entendido tão profundamente o ser humano na ligação do mal ao bem, da dificuldade da preferência pelo bem entre os homens; talvez, também por isso, o seu pensamento seja, hoje, tão nosso, tão atual. Estamos num mundo em guerra e sabemos quão longe estão os valores cristãos ou sequer os humanistas.

Para os cristãos e, principalmente, para os cristãos católicos, no Presépio está “a criança, que traz a paz para a terra.” A arte cristã nos inúmeros quadros, nos cânticos antigos conta-nos o milagre da noite santa: Os anjos cantam, Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens do seu agrado. A “Glória de Deus” existe; não depende da vontade do homem, a verdade, o bem, a beleza são realidades que existem em Deus e isto é verdadeiramente motivo de alegria. E a “paz na terra”? Hoje, como Santa Teresa Benedita da Cruz também nós perguntamos: “Onde está a paz na terra? Mas, nem todos os homens são do seu agradoo mistério do mal cobriu a terra com a escuridão. Ele veio como a luz, que iluminou as trevas, mas as trevas não O conheceram. Àqueles que O acolheram, Ele trouxe a luz e a paz, a profunda paz do coração. Mas não aos filhos das trevas.” Sim, olhamos o mundo em crise e entendemos que essa paz que é a essência do Natal, veio para os homens do agrado de Deus. Bento XVI, torna clara esta questão: “Mas, nem todos os homens são do agrado de Deus? Que homens são do agrado de Deus e porquê? …As pessoas do seu agrado são aquelas pessoas que copiam o comportamento do Filho, tal como Ele em comunhão com a vontade do Pai.”

Diante do Menino no presépio, os espíritos dividem-se. O Natal do Menino Jesus põe à prova a nossa liberdade, coloca-nos diante da decisão entre a luz e as trevas. O Natal fala-nos da Glória de Deus, de Liberdade, Paz, Luz. Tudo isto, porém, pode parecer um balbuciar incompreensível.

Vejamos como Santa Teresa Benedita da Cruz, inunda de luz o Mistério do Natal: “O Deus-Menino tornou-se o nosso permanente mestre para nos dizer o que devemos fazer. Para que a vida humana seja inundada da vida divina, não basta uma vez por ano, ajoelhar-se diante do presépio e deixar-se cativar pelo encanto da Noite Santa. Para isto, devemos estar em comunicação diária com Deus, ouvir a Palavra que nos foi transmitida, e segui-la. E, antes de tudo, rezar, como o Salvador mesmo ensinou: Senhor, seja feita a Tua vontade.”

A vontade concretizada de verdade, de bem, de beleza, de paz, para muitos será a alegria acesa na sua alma, para outros pode parecer um desejo demasiado radical. Mas deve ser assim! E quem uma vez a entendeu, não voltará atrás.

Rosa Ventura
Professora de música


Sem comentários:

Enviar um comentário