Recebi
de outra leitora atenciosa a questão: “sente-se
satisfeito, realizado, feliz pelo que viveu neste ano de 2023?” Claro,
sinto-me muito grato, como o registei no meu livrinho “75 Diamantes”, mas deveria agradecer mais; sinto-me satisfeito,
mas espero não seja só pelo gosto de escrever, mas ainda pela missão de partilhar
o sentido de vida e estimular os leitores a fazer o bem. Sinto-me realizado e
feliz, mas sempre imperfeito. Que não seja só pela pequena vaidade e pretensão de
mérito, mas por ir renascendo pelo Espírito. Vale-me a desculpa dos os
leitores. Vão lendo, e dizem que lhes fez bem e eu devo agradecer e orar por
eles. A sua leitura é um presente que eles me oferecem e a quem digo: obrigado.
O apreço deles leva-me a continuar a escrever e testemunhar sentido de vida
para além do efémero e mundano em que vivemos.
O balanço deste ano
referia-se a três grandes datas celebradas: bodas de diamante de consagração
religiosa, 63 de ordenação e 94 de vida. Sobre o meu percurso de vida a leitora
é generosa: «membro da Ordem Hospitaleira
de S. João de Deus, psicólogo, pastoralista, escritor, conferencista, capelão,
ensaísta, conselheiro espiritual, coordenador/ organizador de projetos de
reabilitação psicossocial, viajante incansável pelo mundo, autor prolífico de
artigos que continua a publicar em diversos órgãos de comunicação…». Os
pontinhos são dela. Como não hei de agradecer? E pergunta qual “o segredo para tanto dinamismo e
criatividade?” Respondo: então, e eu sei? Mérito, não é só certamente. E um santo seria melhor.
São graças. Mas onde chega o dom, o esforço e o gosto? Não sei avaliar. Tudo
conta. Mais umas pitadas de orgulho, inspiração e ação de Deus em mim. São pequenas
maravilhas unidas pelo fiozinho do sim. Quem dera que este sim fosse semelhante
ao da Mãe do Menino Jesus do Natal! Como é que eu poderei discernir? Nem a
psicologia toda chega; ajuda a dizer o dizível, e menos, o transcendente divino
e indizível. Será o calor de uma luz espiritual que, por graça, não apagamos, e
nos cega a luzes mundanas e tapa a boca? S. Paulo ouviu palavras indizíveis no
Paraíso e não sabia se foi no corpo ou fora do corpo (cf.2 Cor.12. 3).
“Como encara os próximos tempos?” Insiste
a mesma leitora. “No dia 1 de junho passado, dizia que era a viver “no futuro da esperança”, no poema: “Saudade
alegre na esperança?” Sim, na esperança, mas tenho que distinguir de que
esperança se trata. No poema citado outros versos dizem: «Se a morte levou familiares e amigos//Não desesperar pela separação
(…) No espírito e alma, no além, fica união,//Amor-união divina que vence a
solidão». E esta perda aconteceu-me nas vésperas do Natal. Contudo, nos
próximos tempos: porque não publicar mais outros três livros, como neste ano, dos
já quase completos? Duas histórias de Casas de Saúde a que dei algo de mim
quando diretor, uma delas, agora, em centenário. Um livro ainda sobre envelhecimento
ativo, outro de poemas. E se a esperança terrena efémera não se cumprir? Não
têm importância; cumpre-se a eterna em que todo o bem se aperfeiçoa e completa; “envelhecer é morrer a enternecer//mas sem
saber como vai ser” (a eternizar-se), como diz outro poema. “Quem o poderá dizer// Senão
Aquele que depois da morte//Continua vivo e a ser // E a Vida a dar e
proclamar!”. Agora vemos como num espelho, imperfeitamente, depois conhecemos
como Deus nos conhece (cf.1 Cor. 13,12).
“Que
desejos ou votos deposita no calendário 2024?” Boa questão. Continuarei a
ser um “garoto sonhador” de “mil corridas” a “fazer bem, como Alguém ordenou” até passar “ao Sonho do real gozoso que não passa”, diz outro poema que publiquei
em livro da Editora Chiado. O que de mais importante desejo depositar nos
calendários do futuro em expressão de S. João de Deus (in Cartas), é confiar só em Jesus; e continuar a ser esse “garoto sonhador” que até agora “com doentes, pobres e frágeis se ocupou”
e “ouvir: vem, bendito! Na hora de passar
ao Reino infinito” onde os Meninos inocentes de Belém massacrados entraram,
antes de Jesus, com o seu corpo humano de glória, aí regressar.
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