Repressão cria dilema ao Vaticano
O cardeal Joseph Zen, bispo emérito de Hong Kong, de 90 anos e um grande defensor do movimento pró-democracia, foi preso pelas autoridades de Hong Kong na terça-feira, 10 de maio, acusado de “conluio com forças estrangeiras”, noticiou a Reuters. Zen foi solto sob fiança no dia seguinte, por volta das 23h locais, como relatado por jornalistas de Hong Kong, que publicaram nas redes sociais fotos em que o bispo aparecia já no exterior da esquadra de polícia de Wan Chai, avançou o Vatican News.
De acordo com a agência Reuters, foram também detidas mais quatro pessoas – a estrela pop canadiano-Hong Kong Denise Ho, o académico Hui Po Keung e os ex-parlamentares da oposição Margaret Ng e Cyd Ho –, todos curadores do 612 Humanitarian Relief Fund, que apoiou os manifestantes pró-democracia a pagar multas e fianças.
“A Santa Sé tomou conhecimento com preocupação da notícia da prisão do cardeal Zen e está a acompanhar a evolução da situação com extrema atenção”, afirmou na tarde de quarta-feira o diretor da Sala de Imprensa vaticana, Matteo Bruni, em resposta às perguntas dos jornalistas.
Recorde-se que no domingo, 8 de maio, o ex-chefe da segurança, John Lee, foi nomeado como o próximo chefe-executivo de Hong Kong, sucedendo a Carrie Lam, que ocupou o cargo desde 2017. Tanto Lee como Lam são católicos batizados. Lee foi o máximo responsável pela violenta repressão das manifestações pró-democracia, pelo fecho dos media independentes de Pequim e pela prisão de centenas de opositores. A sua escolha foi vista como o reconhecimento por parte de Pequim de que a situação em Hong-Kong ainda não está completamente dominada e segura.
Em Inglaterra, Benedict Rogers, um ativista britânico de direitos humanos fundador da ONG Hong Kong Watch e convertido ao catolicismo, lamentou as prisões, afirmando à Catholic News Agency (CNA): “Condenamos as prisões destes ativistas cujo suposto ‘crime’ foi financiar a assistência jurídica aos manifestantes pró-democracia em 2019 (..) As prisões de hoje sinalizam, sem sombra de dúvida, que Pequim pretende intensificar a repressão dos direitos e liberdades básicos em Hong Kong.”
Para a CNA, a prisão do cardeal Zen “representa um dilema para o Vaticano que até agora evitou fazer críticas públicas à repressão em Hong Kong”. A agência recorda que o atual bispo de Hong Kong, Stephen Chow Sau-yan, disse na sua primeira entrevista, em fevereiro de 2022: “Acho inaceitável que a dignidade humana seja ignorada, pisoteada ou eliminada completamente. Deus deu-nos essa dignidade quando nos criou à sua imagem e semelhança. E, portanto, é universal porque vem do amor de Deus”. Com esta afirmação o bispo contradizia a filosofia política chinesa, reafirmando que os direitos humanos são universais e invioláveis.
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