Creio já ter referido que gosto
imenso de fazer caminhadas na cidade de Lisboa. Aproveito a oportunidade para
ter um momento cultural, visitando algum monumento e usufruindo da beleza da
sua história. Quantas vezes não nos passam despercebidos, sem os valorizar e
dar a importância que merecem. Por mim falo, mea culpa. Há alguns dias recebi via facebook a notícia de um “Passeio por Lisboa: Do Monumento a
Pinheiro Chagas ao Torel, passando pela Igreja de S. José dos Carpinteiros”.
Este passeio despertou a minha curiosidade, já que não conhecia a referida igreja,
juntando em simultâneo o útil ao agradável, ou seja, caminhar, adquirir
conhecimentos, estar em boa companhia, voltar a socializar depois de tanto
tempo em confinamento. Em abono da verdade, constituiu uma experiência riquíssima
que não hesito em partilhar graças ao valioso contributo da orientadora Maria
José Rebelo. Como era possível ter passado tantas vezes pela Avenida da
Liberdade e não me ter apercebido da belíssima estátua da Morgadinha de Vale
Flor e do busto de Pinheiro Chagas, trabalho em bronze da autoria de Costa
Motta inaugurado em 1908. Fica situada quase em frente de um belíssimo edifício,
agora sede da EPAL.
Bem perto, reparei que os bancos
de madeira existentes ao longo da avenida, alguns deles continham escondidos debaixo,
rolos de papelão com algumas roupas, indiciando que, numa das avenidas mais caras
de Lisboa, certamente haveria alguns sem abrigo a pernoitar nestes bancos.
Veio-me ao pensamento as palavras do Santo Padre aos Movimentos Populares
reunidos na segunda sessão do seu IV Encontro Mundial, apelidando os sem-abrigo
de poetas sociais, referindo: “Chamo-os assim por terem a capacidade e a
coragem de suscitar esperança onde reinam rejeição e exclusão”. O Papa referiu
ainda que a atual situação, causada pela pandemia precisa de novos encontros,
discernimento, escolhas e ação conjunta, os povos foram afetados por tantas
desigualdades sociais, o nosso modo de vida mudou drasticamente tanto em
família como entre amigos… Mais de 20 milhões de pessoas caíram em
pobreza…”ignorar estes nossos irmãos é ignorar a nossa humanidade”… É preciso
construir pontes de amor.
Bem, voltando ao excelente passeio,
num dia ameno e solarengo, prosseguimos rumo ao Largo da Anunciada onde se
situa a igreja de S. José da Anunciada. No séc. XIII existiu nesse local um
convento de frades agostinhos descalços de Santo Antão. No séc. XVI foi
reedificado no mesmo local um convento de dominicanas com a invocação de Nossa
Senhora da Anunciada, que ficou completamente destruído com o terramoto de
1755. Só bem mais tarde, no ano 1863, prolongando-se até ao ano 1886, por
iniciativa da Irmandade do Santíssimo Sacramento, se iniciou a sua
reconstrução, com o objetivo de vir a constituir a sede da paróquia dado que a
Igreja de S. José dos Carpinteiros, situada perto, se ter tornado pequena. O
projeto inicial seria em cruz latina, mas tal não foi possível concretizar,
tendo a nave ficado cortada, dando em lugar, origem a um parque. Aconselho
vivamente uma visita a esta Igreja, destacando, entre outros, o Presépio da
Anunciada. Segundo o letreiro existente ao lado do Presépio, possui
particularidades que prefiguram uma manufatura tardia. A Sagrada Família
apresenta-se mais hirta e solene do que as peças de gosto flamengo dos Ferreira,
contrastando, pela sua pose, com o aspeto característico dos camponeses. Estas
características poderiam levar-nos a apontar como seu possível autor Silvestre
Faria Lobo (1725-1786). O Presépio da Anunciada possui duas cenas especiais e
de execução mais requintada: A cena da Anunciação, sendo esta a única representação
registada nos presépios portugueses, e a Fuga para o Egito, onde a Sagrada
Família se encontra no interior da muralha, ao contrário de todas as outras
onde surge representada fora de Jerusalém. Este presépio é de uma enorme
beleza. Já que o Natal vem a caminho, considero uma oportunidade, a considerar
vivamente, visitar os belíssimos presépios existentes em Lisboa e em diferentes
cidades.
E o passeio continuou pelas ruas
de Lisboa. A nossa orientadora, conhecedora da história da cidade, foi-nos
revelando e chamando a atenção para alguns aspetos e pormenores dos edifícios por
onde passávamos, e visitámos a belíssima Igreja de São José dos Carpinteiros, que
resistiu praticamente toda ao terramoto, a não ser s sua fachada agora em
estilo pombalino, a Casa dos 24 que se encontra sediada mesmo ao lado desta
Igreja desde o terramoto de 1755. Todo o conjunto se reveste de uma enorme
beleza. A entrada da Casa dos 24 situa-se na Rua da Fé, 53, dando acesso à
Igreja quando esta se encontra fechada. Refiro apenas que existe uma belíssima
imagem de Nossa Senhora da Fé na capela lateral da Igreja de São José dos
Carpinteiros.
Continuámos o nosso percurso até ao Jardim do Torel com a sua enorme escadaria que, em cada patamar que possui, revela um panorama cada vez mais deslumbrante, direi mesmo de cortar a respiração, sobre a cidade de Lisboa. Foi, na realidade, uma manhã extremamente enriquecedora e profícua em muitos aspetos. Senti-me extremamente agradecida por ter feito esta visita, sobretudo, numa época em que recomeça o ano letivo e em que se fala da importância da formação contínua. E a propósito de jardim; “Se uma planta não consegue viver de acordo com a sua natureza, ela morre, assim também o homem”.(Henry David Thoreau) Se não progredirmos no conhecimento, de algum modo, encontramo-nos a regredir, não se alcançando um maior conhecimento e crescimento interior. Às vezes, carecemos de alguma motivação, mas temos de ter objetivos na vida e procurar nunca perder a esperança em alcançá-los. Alguém referiu: Agora choro enquanto a confusão do mundo se regozija ao lado do meu sofrimento. Como me alegrarei quando desaparecerem todas as minhas preocupações terrenas. Brilharei como sol e a minha felicidade não se abalará, abandonando-me nas mãos de Deus, com Jesus, José e Maria. Vale muito a pena ansiar por ir para o Céu! Como São Tiago recomendou: “Recebei com mansidão a Palavra em vós semeada a qual pode salvar as vossas almas”.
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