Cheias, incêndios, fenómenos anormais
Os meses de junho e julho e o que já vai de agosto têm sido pródigos em sinais poderosos de que o clima do planeta que é a nossa “casa comum” está em estado de emergência.
Não é tanto a sucessão de cheias devastadoras, como as da Alemanha, Índia ou China, ou dos incêndios devastadores como os da costa oeste do Canadá ou dos Estados Unidos da América. É o facto de, em vários destes episódios, se estarem a atingir e ultrapassar limiares nunca antes experimentados.
Nos anos mais recentes, a ultrapassagem de todas as fasquias que não poderiam ser ultrapassadas, sob risco de destruição da vida na Terra, incluindo da vida de milhares ou de milhões de humanos, tornou-se um tópico quase rotineiro. Os adjetivos do passado (“incêndios pavorosos”, “chuvas torrenciais”, entre outros) deixaram de dar conta da nova realidade de um planeta ameaçado e à beira do colapso.
Na Turquia, é verdade que se levantou uma onda de críticas contra o governo de Erdogan pela impreparação do país para estas situações extremas e contra a falta de medidas adequadas, mal a onda de fogos se espalhou. Mas também é verdade que em alguns locais a temperatura subiu acima dos 45 graus centígrados e estiveram oito graus acima da média para esta altura do ano.
E não assistimos, na semana passada, a um derretimento em larga escala do manto de gelo da Gronelândia, que pode ter implicações a curto e longo prazo no nível das águas do mar?
E não é também verdade que os cientistas estão a encontrar sinais de enfraquecimento progressivo dos movimentos da Corrente do Golfo que, avançando para paralisação, poderão deixar de aquecer as águas do norte do Atlântico e de resfriar as do sul? Numa situação sem precedentes pelo menos nos últimos 1600 anos, “tal evento teria consequências catastróficas em todo o mundo”, referia há dias o jornal inglês The Guardian.
Mas, como dizia o colunista de assuntos internacionais do jornal The Washington Post Ishaan Tharoor, na newsletter The WorldView desta quinta-feira, se achar que as manchetes dos media não são ainda suficientemente apocalípticas, prepare-se porque elas vão ficar pior.
Nesta segunda-feira, 8, o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC, da sua sigla em inglês), ligado às Nações Unidas, vai divulgar um estado da situação do clima, que atualiza, pelo menos parcialmente, uma análise semelhante produzida em 2013 e que, pela gravidade das conclusões, influenciou as medidas do acordo de Paris, dois anos depois.
De acordo com informações recolhidas pela agência Reuters junto de círculos próximos do Painel, desde 2013 as emissões de gases de efeito estufa e a temperatura média global não pararam de aumentar. Nesta linha, o relatório a apresentar agora calcula que quantidade de emissões pode ainda ser lançada na atmosfera antes de a temperatura global média aumentar mais de 1,5 graus Celsius.
Para o caso de esse limiar ser ultrapassado, os cientistas alertam para o tipo de eventos catastróficos que o planeta enfrentará, especificando alguns dos efeitos desastrosos a eles associados.
A revisão desse dado sobre o carbono pode, por outro lado, servir como guia para os governos mapearem os seus próprios planos de redução de emissões, antes da grande conferência climática da ONU de Glasgow, em novembro próximo.
O IPCC é uma organização científico-política criada em 1988 no âmbito da ONU, numa iniciativa do Programa das Nações Unidas para o Meio Ambiente (PNUMA) e da Organização Meteorológica Mundial.
Esta organização, que não produz pesquisa original reúne e trata resultados de investigações produzidas por cientistas e organizações científicas de diferentes partes do mundo. O seu objetivo é, assim, sumariar e disponibilizar o conhecimento mais avançado e validado sobre as mudanças climáticas que afetam o mundo, especificamente, o aquecimento global, apontando suas causas, efeitos e riscos para a humanidade e o meio ambiente. Tem, por isso, mais um papel de fornecer bases à ação política do que um carácter prescritivo ou normativo.
Uma participação recente da Organização Meteorológica Mundial no Twitter, na qual se procura evidenciar a extensão do degelo na Gronelândia entre 1981 e 2010 (média), por um lado, e em 2021, por outro. O episódio deste ano daria para cobrir com uma camada de 5 cm de água uma extensão equivalente à Florida.
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