Entrevista com o Vice-presidente da Federação Portuguesa pela Vida, António Maria Pinheiro Torres
Brasília, 05 de Junho de 2013
"A Federação Portuguesa pela Vida (FPV) agrupando
cerca de duas dezenas de organizações de carácter diferente e
espalhadas pelo país inteiro constituiu-se como um ponto de referência
institucional", disse em entrevista a ZENIT o vice-presidente da FPV, António Maria Pinheiro Torres.
Nessa entrevista António Torres explicou a situação da luta a favor
da vida em Portugal, como se articula o movimento Pró-Vida, quais são
os desafios e metas a serem conquistadas, como é que Portugal acompanha
as propostas de lei contrárias à vida no Brasil, entre outros assuntos.
A Federação Portuguesa pela vida, (fundada em 2002) é uma Instituição
que reúne em vínculo federativo Associações e Fundações que tenham por
objecto e finalidade a defesa da Vida Humana, desde o momento da
concepção até à morte natural, a promoção da dignidade da Pessoa Humana e
o apoio à Família e à Maternidade.
Leia a primeira parte publicada segunda-feira, (3).
Publicamos a seguir a última parte da entrevista:
***
ZENIT: O Aborto, a eutanásia, as experiências com embriões...
são realidades já aprovadas em Portugal? Há movimentação dos
portugueses para tirar essas leis?
António Torres: A eutanásia não se encontra ainda em discussão em
Portugal embora se perceba movimentações nesse sentido pelo mesmo sector
de sempre nosso adversário em todas as restantes matérias e obedecendo á
lógica inevitável da sucessão de leis já descritas.
Quanto aos restantes temas existem de facto movimentações em dois
planos distintos: do suporte á existência da Vida (através de uma
miríade de associações desde as que se ocupam da dissuasão de última
hora ou oração junto aos locais de prática do aborto ás que apoiam
mulheres e crianças em risco ou então ao planeamento familiar) ou de
defesa desta nos campos social e político: petições ao parlamento
(quatro desde 2009 e das quais duas de iniciativa da Federação), uma
Caminhada pela Vida (em Maio de 2012), a participação na vida partidária
ou nas eleições (em dois partidos de centro-direita, que integram o
actual Governo, ou num pequeno partido pró-vida), algumas acções de rua
em datas aniversárias significativas, intervenção junto da Comunicação
Social, participação na iniciativa da Petição europeia Um de Nós, e um
largo etc.
ZENIT: Na realidade política de Portugal, de onde é que mais tem vindo essas propostas contrárias à vida e à família?
António Torres: Vem sobretudo de três sectores: da extrema-esquerda
(que em Portugal tem expressão eleitoral significativa: 8 deputados em
230) ou esquerda caviar, dos partidos socialista e comunista, e dos
sectores “modernaços” dos partidos de centro-direita (que, em Portugal,
embora tendo uma tradição de defesa da dignidade humana, está a perder a
sua identidade, parte em consequência da abstenção de participação dos
sectores sociais e políticos que são a base das nossas movimentações
cívicas). Vem também da maior parte dos pertencentes á Maçonaria hoje
preponderante em todo o sistema partidário, com excepção do partido
comunista e da extrema-esquerda.
ZENIT: Como é possível que uma proposta de adopção de
crianças por casais homossexuais esteja em pauta em Portugal, país
tradicionalmente católico?
António Torres: Por dois factores: a deseducação do povo católico e a
influência esmagadora da mentalidade comum veiculada por uma
comunicação social na qual os sectores moderado ou conservador são
minoritários ao nível dos respectivos profissionais e chefias. E também
deve-se reconhecê-lo pela abstenção da maioria silenciosa e a eficácia
de uma pequena mas determinada minoria que do ponto de vista
político-técnico “está de parabéns”.
ZENIT: Como os portugueses vêem a realidade de que países, como o Brasil, também estejam sofrendo os mesmos tipos de propostas?
António Torres: Com natural tristeza mas também uma serena convicção
de que ao lado destas ofensivas legislativas podemos ver comunidades
humanas florescentes, vidas individuais extraordinárias e que ainda que
com muitas perdas e sofrimentos (infligidos por estas leis) a realidade é
sempre mais forte do que a ideologia e que aquela inevitável volta
final que tudo isto levará (porque este quadro legal não contribui para
sociedades saudáveis nem homens felizes) não será nesse momento uma
ocasião isolada e própria, mas constituída de todos os nossos esforços
presentes.
ZENIT: Por quê lutar para que não se aprove a adopção de
crianças por casais homossexuais, não é homofobia e nem discriminação
dos homossexuais?
António Torres: Por três razões: porque o ponto de partida na questão
é o direito da criança a ser criada no ambiente mais propício a um
desenvolvimento harmonioso (onde exista uma dualidade sexual), porque
uma sociedade que trata bem as suas crianças é uma sociedade que
tendencialmente tratará bem todos os seus membros e porque de facto no
ânimo de quem se lhes opõem não existe nem objectiva nem subjectivamente
nenhuma adversidade por muito que lhes custe a acreditar. Já
infelizmente o contrário é de recear. Isto é, a classificação como
homofobia de qualquer juízo moral e/ou de simples humano demérito sobre a
homossexualidade (o que não equivale a estendê-lo á pessoa concreta e
muito menos a qualquer inadmissível atitude persecutória) e a oposição
aos “direitos” que invocam, arrisca trazer uma perseguição a todos os
que assim pensam como infelizmente vamos vendo cada vez mais acontecer
por esse mundo fora.
ZENIT: O que os Portugueses de boa vontade ainda podem fazer para dificultar a aprovação dessa lei?
António Torres: Pelos meios que entenderem manifestarem-se nos
âmbitos próprios (pessoal, profissional, familiar, social) contra esta
lei procurando-se informar adequadamente e sobretudo fazendo sentir aos
titulares da responsabilidade política a sua oposição a este projecto.
Fazerem-no também no interior dos próprios partidos e quando não
pertencendo a nenhum escolhendo o que mais lhes agrade e aí referir-se a
quem nesse campo já está na frente deste embate. As pessoas têm mais
poder do que supõem. Estas leis não vencem pela força dos seus
proponentes mas pela abstenção de quem se lhes opõem. Como dizia alguém:
“Nem tudo pode ser mudado. Mas nada é mudado se não for tentado”.
in
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