O
clero das Dioceses de Évora, Beja, Algarve e Setúbal, reunido no Hotel
Júpiter, Portimão, Algarve, nas décimas Jornadas de Actualização do
Clero, promovidas pelo Instituto Superior de Teologia de Évora, nos dias
16 a 19 de Janeiro de 2017, subordinadas ao Tema – Levar Cristo às periferias humanas e existenciais: os novos areópagos – em ambiente de recolhimento, estudo e convívio, com a colaboração de vários especialistas, partilha as seguintes conclusões:
1. O Papa Francisco, na Exortação Apostólica Evangelii Gaudium,
defende uma Igreja em saída, com as portas abertas (nº46), uma Igreja,
por vezes acidentada, ferida e enlameada por ter saído pelas estradas,
preferível a uma Igreja enferma pelo fechamento e comodidade de se
agarrar às próprias seguranças (nº 49).
2,
Na sua actuação pastoral, o Papa dá prioridade às periferias. Para ele,
a realidade entende-se melhor a partir das periferias, mais do que do
centro porque, no centro se está sempre mais protegido e defendido. A
sua insistência na Misericórdia, os seus gestos e as viagens apostólicas
que tem realizado, confirmam esta predilecção pelas periferias
geográficas, humanas e existenciais.
3.
Para levar Cristo às periferias é necessário integrar a mensagem cristã
na nova cultura digital e passar de uma pastoral de conservação para
uma pastoral sempre missionária. A era digital fez nascer uma nova
cultura, um novo modo de ser e de estar. Os suportes tecnológicos vieram
dar resposta e cumprir desejos sempre presentes no coração do homem:
conhecer, fazer novas experiências. O mundo da net não é simplesmente
virtual: é parte da realidade quotidiana da nossa vida. Não se pode
contrapor, de um modo simplista, o mundo virtual e o mundo real,
valorizando este último e desconsiderando o primeiro. Estes dois mundos
não existem em confronto: existe, sim, o físico e o digital; e os dois
são reais.
4.
Na acção pastoral, não adianta diabolizar a tecnologia. Não é a
mediação tecnológica que faz a realidade das experiências, ou a
fisicidade que as torna autênticas, mas o que se vive com o coração a
partir dessas mediações.
5.
O que está em causa é a comunicação da fé. Com a comunicação em rede o
imaginário das pessoas alterou-se profundamente. Já não estamos no tempo
de transmitir apenas conteúdos, de dar as respostas que se consideram
importantes para as pessoas, mas de perceber as perguntas que as pessoas
fazem. Há uma espiritualidade na compreensão das novas tecnologias:
compreendendo as perguntas fundamentais, a Igreja pode e deve
envolver-se nelas ajudando a fazer o discernimento.
6.
A Igreja não pode ignorar este mundo ou fingir que não tem nada a ver
com ele. Assume cada vez mais importância a pastoral do testemunho. A
natureza da net é social, de comunicação em rede, criando grupos de
amigos sempre a crescer. São pessoas que partilham, que confiam nos
testemunhos; partilham a vida, as suas interpretações e os seus
conhecimentos. Aqui entra também a fé: na escuta, nos diálogos e na
partilha dos problemas humanos.
7.
No diálogo com a cultura a Igreja assume que é cultura e representa a
cultura. Neste campo, considerar a Igreja como periferia é um
preconceito. A ruptura que a modernidade instaurou entre a Igreja, como
comunidade de fiéis, e o seu património cultural, não faz sentido. Tudo
tem o seu contexto e o património é um serviço relativamente ao que
recebemos dos nossos antepassados, é uma herança com memória que se
reflecte no presente das pedras vivas que são as pessoas.
8.
Nas diferentes manifestações culturais a Igreja foi sempre democrática
porque, nos períodos da história, permitiu às pessoas usufruir do belo e
do bom: os templos e a celebração eram o espaço onde as pessoas
desfrutavam das criações artísticas e a partir delas eram evangelizadas.
Hoje, a Igreja deve saber preservar todo o seu património e continuar a
ser criativa reconhecendo que há diferentes aspectos culturais onde ela
não tem que concorrer.
9.
Outras periferias existenciais e humanas às quais a Igreja não pode
ficar indiferente são os refugiados que chegam à Europa. Neste ponto, o
exemplo e as recomendações do Papa Francisco são para ser seguidos,
sobretudo agora que vão sendo ultrapassadas várias dificuldades do
princípio. Seria uma bela prenda oferecida ao Papa se, quando ele vier a
Portugal, em Maio próximo, as instituições eclesiais tiverem acolhido o
dobro dos refugiados que, até ao momento, foram recebidos no nosso
País.
Também
no vasto campo da religiosidade popular, as nossas comunidades têm que
fazer caminho, respeitando as motivações das pessoas, valorizando,
corrigindo e integrando as diversas manifestações que continuam a atrair
as pessoas e a celebrar momentos importantes do quotidiano.
10.
Em tantas situações, novas e velhas, o importante são as pessoas, o
reconhecimento e o respeito pelos que são diferentes, afirmando sempre
que o centro da nossa fé é Jesus Cristo e que o testemunho é o factor
fundamental, não impondo nada a ninguém, mas propondo sempre e em todas
as circunstâncias. A partilha levada a efeito entre as nossas Dioceses
na expressão popular do Cante Alentejano, nas iniciativas de preservação
do património e de envolvimento de artistas na criação de peças
religiosas, no campo da acção social e da atenção às pessoas
fragilizadas, demonstra o entusiasmo e o ardor que a Igreja coloca no
vasto campo da sua acção pastoral.
in
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