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terça-feira, 31 de janeiro de 2017

Uma bela Igreja situada em Telheiras, Lisboa

Não sabia o local que iria escolher para batizar a minha neta. Alguém referiu esta igreja paroquial como sendo muito bonita, simples, acolhedora com uma linda história que não resisto a contar.

*Por volta de 1578 D. João de Cândia, conhecido como o Príncipe Negro, que nasceu em Cândia na ilha do Ceilão (atual Sri Lanca), filho do Rei D. Filipe, rei de Cândia. É batizado no ano de 1588 em Goa. Forçado a abandonar o seu reino em 1582, procurou proteção, junto dos portugueses. Viveria cerca de 15 anos no Colégio dos Reis Magos, perto de Goa. Em 1610 vem para Portugal a seu pedido e por ordem de D. Filipe II. Fica inicialmente no Convento de S. Francisco em Lisboa.

Em 1611 recebe ordens sacras. Por volta de 1625 adquiriu um terreno em Telheiras que será conhecido como a Quinta do Príncipe. Nesse ano funda a Irmandade de Nossa Senhora da Porta do Céu e do Glorioso S. João Batista, de que é o primeiro irmão e juiz. Em 1626, renuncia aos seus direitos, aos reinos de Cândia, Cota, Ceitavaca e Setecorlas, no Ceilão, recebendo do Rei Filipe III mais de 4000 cruzados anuais em pensões eclesiásticas.

Mandou erigir em Telheiras pelos anos de 1625, um Oratório e posteriormente um Convento, sob a invocação de Nossa Senhora da Porta do Céu, que entrega aos franciscanos, destinando-se à convalescença dos religiosos. Doa ao convento grande número de alfaias preciosas destinadas ao culto litúrgico. Morre em 1642, tendo sido sepultado na sua ermida de Telheiras. Por volta de 1700, o Convento é objeto de uma campanha de obras.

O governo do Convento é então entregue a Frei Manuel da Esperança. Em 1708, os frades procederam à trasladação dos ossos de D. João de Cândia. Foi sepultado em carneiro sob o altar-mor. Os restos iriam ser trasladados para o lado esquerdo da capela-mor onde foram colocadas as suas pedras sepulcrais tendo por baixo uma legenda: “Aqui se encontram sepultados os ossos do Príncipe de Cândia que fundou esta sagrada casa de Maria”. O Marquês colocá-los-á num túmulo que o Príncipe se havia destinado. O brasão e a lápide serão retirados em 1927 para o Museu do Convento do Carmo. Com o restauro de 1941, os ossos do Príncipe assim como de todos os outros defuntos que jaziam na capela-mor foram colocados em carneiro primitivo, onde indiscriminadamente ainda se encontram.

Os reis visitavam e frequentavam o Oratório. A nobreza acompanhou a realeza, e Telheiras enobreceu-se. Em 1752, o Convento conhece um período áureo. D. José I e D. Mariana Vitória eram Juízes da Irmandade de Nossa Senhora da Porta do Céu. O futuro Marquês de Pombal, Sebastião José de Carvalho, presidente da Mesa desta Irmandade, ordenou a sua rápida reconstrução na sequência do terramoto de 1755, tendo as obras ficado concluídas em 1768. Em 1833, no quadro da guerra civil, o convento é ocupado pelo exército liberal: os frades abandonam o local sendo a Igreja saqueada e a biblioteca destruída. Em 1834 é decretada a extinção do convento. Em 1910, por ocasião da instauração da República, as dependências conventuais são ocupadas por diversas famílias sendo instalada na Igreja uma serralharia civil. Em 1940, é dada a ordem de restauro da Igreja. A campanha de obras tem início em 1941, permitindo a sua reabertura ao culto.

Em 2004, é criada a Paróquia de Nossa Senhora da Porta do Céu. Em 2006 são realizadas profundas obras de restauro através de financiamento público e privado, os quais deram à igreja uma nova visibilidade. Ainda mais umas palavras sobre a Igreja de Nossa Senhora da Porta do Céu: Trata-se na realidade de uma invocação pouco comum, como titular de uma igreja, embora já conhecida desde os primeiros cristãos. A Virgem é representada com o Menino ao colo e uma chave na mão fazendo alusão à sua intercessão como porta de entrada no céu.

A imagem com esta invocação terá sido encomendada por D. João de Cândia “a um primoroso escultor, do qual tinha conhecimento que havia nas Índias de Castela”, segundo Frei Agostinho de Santa Maria. Foi introduzida nesta Igreja em camarim e trono de talha dourada. A chave de prata que a Virgem tinha na mão circulava entre as casas dos doentes da zona, sendo em particular depositada nas mãos dos moribundos, para que Nossa Senhora lhes abrisse as portas do céu. Esta devoção ainda se mantém hoje em dia.

A capela-mor é presidida por esta imagem. Dos dois lados da capela-mor, existem corredores que dão acesso às tribunas, que ligavam a igreja ao convento. A sepultura do Príncipe de Cândia está atualmente assinalada pela pedra funerária que se encontra diante do altar-mor.

Gostei imenso da história desta Igreja. Se Deus quiser, o batizado da minha neta terá aqui lugar, quando Deus quiser. Será excelente, quando a Maria Luísa, numa cerimónia simples passe a fazer parte da Igreja.

De repente, recordei que já tinha lido algures, uma narrativa sobre Maria-Porta do Céu. Pesquisei um pouco tendo conseguido encontrar. “Conta-se que Frei Leão, um leigo que acompanhava sempre S. Francisco de Assis, que, depois da morte do Santo, depositava todos os dias sobre o seu túmulo flores e meditava sobre as verdades eternas. Certo dia, adormeceu e teve uma visão do dia do Juízo. Viu que se abria uma janela e aparecia Jesus, o amável Juiz, acompanhado por S. Francisco. Fizeram uma escada vermelha, que tinha os degraus muito espaçados, de tal maneira que era impossível subir por ela. Todos tentavam e pouquíssimos conseguiam subir. Ao cabo de um certo tempo, como subia da terra um grande clamor, abriu-se outra janela, à qual apareceram novamente Jesus e S. Francisco, mas com a Virgem ao lado do Senhor. Lançaram outra escada, mas esta era branca e tinha os degraus mais juntos. Todos, com imensa alegria, iam subindo. Quando alguém se sentia especialmente fraco, Santa Maria animava-o, chamava-o pelo nome, enviando algum dos seus anjos que a serviam, para que o ajudassem. E assim todos foram subindo um atrás do outro”.

Não deixa de constituir uma lenda piedosa, que, no entanto, nos ensina uma verdade essencial e consoladora, conhecida desde sempre pelo povo cristão: com Maria, a santidade e a salvação tornam-se mais fáceis. Sem Nossa Senhora tudo se torna, não só mais difícil… pois Deus quis que Ela fosse “a dispensadora de todos os tesouros que Jesus conquistou… A Virgem não é só a porta do Céu - Ianua caeli - mas também uma ajuda poderosíssima para o alcançar… Ela está sempre disposta a conceder-nos tudo o que lhe queiramos pedir e possa ser útil à nossa salvação”. (F. Fernandez-Carvajal, FALAR COM DEUS)

Maria Helena Paes







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