Para alguns não será um adeus definitivo, porque será sempre possível
revistar o seu pensamento e visitar o local onde ficarão os restos mortais,
mas de uma forma pública, as últimas homenagens acontecem hoje, ao iniciar a
manhã, na Praça de São Pedro, local onde o Papa emérito Bento XVI tantas
vezes falou e saudou os fiéis. Mais de 160 mil
pessoas, desde segunda-feira, atravessaram a nave da Basílica para durante
pouco mais do que cinco segundos prestarem homenagem – o relato é do
vaticanista da Agência Ecclesia, Octávio Carmo, que fala da comoção
e do silêncio na despedida a Bento XVI. Hoje cerca de 100 mil
pessoas são esperadas nas cerimónias de carater inédito, que ficarão na
história. O futuro dirá quão inédita será a cerimónia… Se o passar dos dias
vai trazendo a serenidade e o distanciamento sobre a notícia da morte do Papa
emérito, diferentes vozes ajudam a vincar o legado e ajudam a construir a
História. O padre Federico
Lombardi, presidente da Fundação Joseph Ratzinger-Bento XVI, disse hoje à
Agência ECCLESIA que o falecido Papa esteve sempre “do lado da solução” na
crise dos abusos sexuais de menores, por membros do clero. “Para mim, seria uma
gravíssima injustiça acusá-lo, nesta matéria”, referiu
o sacerdote, antigo porta-voz do Vaticano, salientando que Bento XVI foi
“aquele que enfrentou a crise, durante muito tempo, e fez a sua parte,
segundo as respetivas competências”. Também o padre Manuel
Morujão, o antigo porta-voz da Conferência Episcopal Portuguesa e secretário
da CEP, em 2010, aquando da visita de Bento XVI a Portugal, disse à Agência
ECCLESIA que a cidade e o mundo se despedem de Bento XVI como “alguém da
família”. “As pessoas mostravam
saudades de alguém da família. Mais do que o intelectual, do professor, do
chefe de Estado, era o familiar próximo, que fica no coração, e isso é muito
belo”, sublinhou,
indicando o “avó comum, santo, sábio e carinhoso”. Na audiência desta
quarta-feira o Papa Francisco recordava “o grande mestre da catequese” e
valorizava o seu “pensamento perspicaz” e “não autorreferencial, mas
eclesial”. “Nestes dias
experimentamos de modo particular quanto a comunidade de fé é universal e não
termina, nem com a morte”, lembrou, convidando quem o acompanhava na Sala
Paulo VI a unir-se em homenagem ao Papa emérito Bento XVI. O arcebispo alemão
Georg Gaenswein, secretário particular de Bento XVI, relatou
os últimos momentos de vida do Papa emérito, até ao “último
suspiro”. Para D. Georg Gaenswein, a força do falecido Papa estava no
seu lema episcopal, “colaborador da verdade”, vivendo a fé que proclamava. “Ele sempre dizia: ‘A
fé deve ser uma fé simples, não simplista, mas simples. Porque todas as
grandes teorias, todas as grandes teologias são baseadas no fundamento da
fé’”, acrescentou. Não conheci, não
privei, nunca cruzei o meu olhar com Bento XVI, mas recordo bem o momento em
que ouvi o seu nome pela primeira vez, em abril de 2005, quando dava os
primeiros passos no jornalismo, desconhecendo que em 2010 acompanharia a sua
visita a Portugal. Nasci no mês e ano em que o mundo conheceu João Paulo II,
mas radico no pontificado de Bento XVI a vontade de dar razões da, e, à
minha, fé. E este é um caminho sem fim. Tenha um excelente
dia! |
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