Páginas

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Uma Segunda Oportunidade

Há alguns dias atrás foi-me concedida a oportunidade de ir ver um filme em que o ator principal a certa altura clamava com alguma ansiedade que lhe fosse concedida uma segunda oportunidade que, mais tarde, lhe viria a ser concedida. Em abono da verdade, algumas vezes, em certos momentos da nossa vida, gostaríamos que nos fosse concedida uma nova oportunidade. Quem sabe, reconstruir sonhos desfeitos. Mas será mesmo assim? Ou na realidade, gostaríamos de usufruir de uma nova possibilidade, mas já na posse dos conhecimentos adquiridos, da nossa experiência de vida, dos contributos da sociedade, das novas competências que entretanto adquirimos, enfim, de todas as mais-valias, que vivenciar a vida, no seu dia-a-dia nos deparou e que de algum modo nos transformou enquanto seres sociais, inseridos numa família, num grupo, numa comunidade, num estabelecimento de ensino ou num local de trabalho.

Na semana que findou, tive oportunidade de almoçar com uma amiga, que já se encontra reformada, tendo exercido um cargo de relevo, num lugar de prestígio. Queria agora fazer render os seus conhecimentos e experiência em prol do grupo-alvo dos idosos. Enquanto decorria o almoço recordou os projetos que tinha desenvolvido com sucesso, os esforços desenvolvidos para os levar a bom porto. Claro que outros não terão tido o mesmo impacto já que os resultados obtidos não dependem exclusivamente da vontade própria. Existe todo um contraditório que pensa de um modo diferente, que não partilha das nossas ideias, a mesma visão sobre o projeto o que muitas vezes impossibilita o seu desenvolvimento em tempo útil. Culpar quem? Na verdade, umas vezes ganhamos, outras nem por isso, tornando-se necessário recomeçar uma e outra vez.

Esta minha amiga almejava uma segunda oportunidade, de elaborar um novo projeto, que se revestisse de grande utilidade para os indivíduos com mais idade, sempre numa perspetiva intergeracional. Sabia do meu interesse já manifestado por esta área. Pediu-me para a acompanhar ao lançamento do Programa Cidadãos Ativos que teria lugar na Fundação Gulbenkian, no sentido de dar algum contributo face à minha experiência anterior. Claro que anuí de imediato por dois motivos. Um para rever a minha amiga e usufruir da sua companhia, por outro lado no sentido de procurar ser útil. É sempre de louvar ver alguém que quer colocar os seus talentos a render em prol do bem comum. Já sentadas, no Auditório 2 da Fundação Gulbenkian, ouvimos com o maior interesse todos os depoimentos, trocando algumas ideias e colocando algumas dúvidas que posteriormente seriam esclarecidas. Para um melhor conhecimento e esclarecimento deste programa ficámos de ler com atenção o seu Regulamento, bem como o Manual do Promotor, podendo ainda consultar-se para uma informação mais detalhada o site: www.cidadaos-ativos.pt. Este Programa, segundo a brochura distribuída, tem o intuito de fortalecer a sociedade civil e a cidadania ativa, e a capacitação de grupos vulneráveis em Portugal, mas também estimular a cooperação entre a sociedade civil portuguesa, as entidades dos países financiadores (Islândia, Liechtenstein, e Noruega) e organizações intergovernamentais através de Iniciativas de Cooperação Bilateral. Constituído por recursos públicos provenientes dos países mencionados (EEA Grants) o Active Citizens Fund, em Portugal totaliza 11 milhões de euros e está a ser gerido pela Fundação Gulbenkian em parceria com a Fundação Bissaya Barreto, no âmbito do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu e decorre entre 2018-2024, destinado a Organizações Não Governamentais (ONG). O acesso e financiamento são feitos através de concursos anuais, com regras de elevada exigência, contendo 4 Eixos de Intervenção do Programa: 1- Fortalecer a Cultura Democrática e a Consciência Cívica. 2- Apoiar e Defender os Direitos Humanos. 3- Empoderar os Grupos Vulneráveis. 4- Reforçar a Capacidade de Sustentabilidade da Sociedade Civil.

Em virtude de ter considerado a bondade do Programa que pode contribuir para ajudar muitas Organizações Não Governamentais a levar os seus projetos a bom porto e a encontrar a sua sustentabilidade em prol do bem-estar da humanidade Tomei a decisão de o divulgar. Fui entretanto ouvindo as explicações e as experiências enriquecedoras que nos eram facultadas. Tomei imensas notas. Fui olhando para o exterior verdejante coberto de relva, de árvores e de rosas. Como era bonito! De vez em quando um avião sobrevoava o local em direção ao aeroporto. Senti-me a partir. Como uma amiga referiu: “Passado Pisado”. Como revelava ser verdade este ditado. Entretanto tinham-se-me aberto outros horizontes que me motivavam mais, independentemente de poder dar o meu contributo. Olhei para a assistência maioritariamente jovem, dinâmica, interessada e empenhada. Pensei na importância das relações entre gerações. Eventualmente, poderia contribuir com a minha experiência. O trabalho no terreno, já teve o seu tempo. Antevia com alguma clareza todas as fases dos projetos. O enorme entusiasmo sentido a par das dificuldades com as quais nos vamos confrontando e que se torna necessário ultrapassar. Todo o trabalho burocrático a desenvolver para implementar o projeto. Tudo se torna motivador quando nos encontramos empenhados, a vivenciá-lo de alma e de coração. Torna-se necessário possuir disponibilidade interior e força para superar os obstáculos com os quais nos vamos confrontando ao longo do projeto, almejando que um dia, se venha a tornar numa estrutura. Também a enorme alegria quando conseguimos concretizar um objetivo sabendo que é bem que nos move. Entretanto a sessão findou. Depois de parabenizados e aplaudidos os organizadores, deixámos o Auditório tendo em mente tomar um café para trocarmos impressões sobre o evento.

Mas surgiram algumas dúvidas, e a informação recolhida era muita. Optámos por ler atentamente o Regulamento e o Manual do Promotor. Trocámos ideias sobre histórias de vida de idosos com algumas lacunas existentes que importa corrigir. Despedimo-nos com a esperança de nos revermos em breve com ideias mais estruturadas. Ou talvez não. O futuro a Deus pertence. De qualquer modo tinha sido um dia extremamente motivador e profícuo.

Termino dando ênfase a que é no dia 1 de Outubro que se comemora o Dia Internacional do Idoso. Um dos objetivos, segundo o NGO Committee on Ageing das Nações Unidas, que celebra este dia, é: Consagrar e Promover, Envolver e Mobilizar Defensores para os Direitos Humanos das Pessoas com mais idade. Também para recordar que nos encontramos a celebrar o 70º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Deus permita que a minha amiga venha a ter uma segunda oportunidade desenvolvendo, devidamente apoiada, um projeto que se revele útil. O Papa Francisco há algum tempo referiu que olhava para as pessoas idosas com afeto, gratidão e grande estima. Constituem parte essencial da sociedade e representam as raízes e a memória de um povo. As Instituições e demais realidades sociais ainda podem fazer muito mais para ajudar os idosos.



Maria Helena Paes



Sem comentários:

Enviar um comentário