Há alguns dias atrás foi-me
concedida a oportunidade de ir ver um filme em que o ator principal a certa
altura clamava com alguma ansiedade que lhe fosse concedida uma segunda
oportunidade que, mais tarde, lhe viria a ser concedida. Em abono da verdade,
algumas vezes, em certos momentos da nossa vida, gostaríamos que nos fosse
concedida uma nova oportunidade. Quem sabe, reconstruir sonhos desfeitos. Mas
será mesmo assim? Ou na realidade, gostaríamos de usufruir de uma nova
possibilidade, mas já na posse dos conhecimentos adquiridos, da nossa
experiência de vida, dos contributos da sociedade, das novas competências que
entretanto adquirimos, enfim, de todas as mais-valias, que vivenciar a vida, no
seu dia-a-dia nos deparou e que de algum modo nos transformou enquanto seres
sociais, inseridos numa família, num grupo, numa comunidade, num estabelecimento
de ensino ou num local de trabalho.
Na semana que findou, tive
oportunidade de almoçar com uma amiga, que já se encontra reformada, tendo
exercido um cargo de relevo, num lugar de prestígio. Queria agora fazer render
os seus conhecimentos e experiência em prol do grupo-alvo dos idosos. Enquanto
decorria o almoço recordou os projetos que tinha desenvolvido com sucesso, os
esforços desenvolvidos para os levar a bom porto. Claro que outros não terão
tido o mesmo impacto já que os resultados obtidos não dependem exclusivamente
da vontade própria. Existe todo um contraditório que pensa de um modo
diferente, que não partilha das nossas ideias, a mesma visão sobre o projeto o
que muitas vezes impossibilita o seu desenvolvimento em tempo útil. Culpar
quem? Na verdade, umas vezes ganhamos, outras nem por isso, tornando-se
necessário recomeçar uma e outra vez.
Esta minha amiga almejava uma
segunda oportunidade, de elaborar um novo projeto, que se revestisse de grande
utilidade para os indivíduos com mais idade, sempre numa perspetiva
intergeracional. Sabia do meu interesse já manifestado por esta área. Pediu-me
para a acompanhar ao lançamento do Programa Cidadãos Ativos que teria lugar na
Fundação Gulbenkian, no sentido de dar algum contributo face à minha
experiência anterior. Claro que anuí de imediato por dois motivos. Um para
rever a minha amiga e usufruir da sua companhia, por outro lado no sentido de
procurar ser útil. É sempre de louvar ver alguém que quer colocar os seus
talentos a render em prol do bem comum. Já sentadas, no Auditório 2 da Fundação
Gulbenkian, ouvimos com o maior interesse todos os depoimentos, trocando
algumas ideias e colocando algumas dúvidas que posteriormente seriam
esclarecidas. Para um melhor conhecimento e esclarecimento deste programa
ficámos de ler com atenção o seu Regulamento, bem como o Manual do Promotor,
podendo ainda consultar-se para uma informação mais detalhada o site: www.cidadaos-ativos.pt. Este
Programa, segundo a brochura distribuída, tem o intuito de fortalecer a
sociedade civil e a cidadania ativa, e a capacitação de grupos vulneráveis em
Portugal, mas também estimular a cooperação entre a sociedade civil portuguesa,
as entidades dos países financiadores (Islândia, Liechtenstein, e Noruega) e
organizações intergovernamentais através de Iniciativas de Cooperação Bilateral.
Constituído por recursos públicos provenientes dos países mencionados (EEA Grants) o Active Citizens Fund, em Portugal totaliza 11 milhões de euros e
está a ser gerido pela Fundação Gulbenkian em parceria com a Fundação Bissaya
Barreto, no âmbito do Mecanismo Financeiro do Espaço Económico Europeu e decorre
entre 2018-2024, destinado a Organizações Não Governamentais (ONG). O acesso e
financiamento são feitos através de concursos anuais, com regras de elevada
exigência, contendo 4 Eixos de Intervenção do Programa: 1- Fortalecer a Cultura
Democrática e a Consciência Cívica. 2- Apoiar e Defender os Direitos Humanos.
3- Empoderar os Grupos Vulneráveis. 4- Reforçar a Capacidade de Sustentabilidade
da Sociedade Civil.
Em virtude de ter considerado a
bondade do Programa que pode contribuir para ajudar muitas Organizações Não
Governamentais a levar os seus projetos a bom porto e a encontrar a sua
sustentabilidade em prol do bem-estar da humanidade Tomei a decisão de o
divulgar. Fui entretanto ouvindo as explicações e as experiências
enriquecedoras que nos eram facultadas. Tomei imensas notas. Fui olhando para o
exterior verdejante coberto de relva, de árvores e de rosas. Como era bonito!
De vez em quando um avião sobrevoava o local em direção ao aeroporto. Senti-me
a partir. Como uma amiga referiu: “Passado Pisado”. Como revelava ser verdade
este ditado. Entretanto tinham-se-me aberto outros horizontes que me motivavam
mais, independentemente de poder dar o meu contributo. Olhei para a assistência
maioritariamente jovem, dinâmica, interessada e empenhada. Pensei na
importância das relações entre gerações. Eventualmente, poderia contribuir com
a minha experiência. O trabalho no terreno, já teve o seu tempo. Antevia com
alguma clareza todas as fases dos projetos. O enorme entusiasmo sentido a par
das dificuldades com as quais nos vamos confrontando e que se torna necessário
ultrapassar. Todo o trabalho burocrático a desenvolver para implementar o
projeto. Tudo se torna motivador quando nos encontramos empenhados, a
vivenciá-lo de alma e de coração. Torna-se necessário possuir disponibilidade
interior e força para superar os obstáculos com os quais nos vamos confrontando
ao longo do projeto, almejando que um dia, se venha a tornar numa estrutura. Também
a enorme alegria quando conseguimos concretizar um objetivo sabendo que é bem
que nos move. Entretanto a sessão findou. Depois de parabenizados e aplaudidos
os organizadores, deixámos o Auditório tendo em mente tomar um café para
trocarmos impressões sobre o evento.
Mas surgiram algumas dúvidas, e a
informação recolhida era muita. Optámos por ler atentamente o Regulamento e o
Manual do Promotor. Trocámos ideias sobre histórias de vida de idosos com
algumas lacunas existentes que importa corrigir. Despedimo-nos com a esperança
de nos revermos em breve com ideias mais estruturadas. Ou talvez não. O futuro
a Deus pertence. De qualquer modo tinha sido um dia extremamente motivador e
profícuo.
Termino dando ênfase a que é no dia
1 de Outubro que se comemora o Dia Internacional do Idoso. Um dos objetivos,
segundo o NGO Committee on Ageing das Nações Unidas, que celebra este dia, é:
Consagrar e Promover, Envolver e Mobilizar Defensores para os Direitos Humanos
das Pessoas com mais idade. Também para recordar que nos encontramos a celebrar
o 70º Aniversário da Declaração Universal dos Direitos Humanos. Deus permita
que a minha amiga venha a ter uma segunda oportunidade desenvolvendo,
devidamente apoiada, um projeto que se revele útil. O Papa Francisco há algum
tempo referiu que olhava para as pessoas idosas com afeto, gratidão e grande
estima. Constituem parte essencial da sociedade e representam as raízes e a
memória de um povo. As Instituições e demais realidades sociais ainda podem
fazer muito mais para ajudar os idosos.
Maria Helena Paes |
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