Fomos concebidos no coração de Deus e por esse facto cada um
de nós é amado, é necessário. S. João, na sua primeira
epístola (1 Jo 3, 18) refere: “Não amemos com palavras mas com obras e com
verdade”. Torna-se necessário olhar para o nosso interior com simplicidade,
sinceridade e naturalidade.
A simplicidade constitui o sal da nossa formação. Por outro
lado, devemos viver a “pobreza”, isto é, não nos encontrarmos tão apegados aos
bens materiais, viver no desprendimento, sem grande ruído, com verdade, não
aparentando sermos mais do que o que somos na realidade.
Neste momento em que vivencio alguma fragilidade face a um
problema de saúde de um familiar, sinto-me fraquejar. Os acontecimentos com os
quais me confronto são recorrentes. Parece que não é justo voltar a passar pelos mesmos processos relativos
a uma doença oncológica que ainda se encontram bem latentes no meu coração e no
meu pensamento, ainda que em condições diferentes. Mas o caminho terreno constrói-se
no dia-a-dia, sendo que a cada dia, são atribuídas graças para combatermos as adversidades
que certamente irão surgir. Cada caso é um caso.
Posto isto, não merece muito a pena, preocuparmo-nos com o
dia de ontem que já passou e ao qual não podemos de todo regressar, nem com o
dia de amanhã que ainda não chegou, pois nem sabemos se chegará. O melhor mesmo
é vivermos com toda a intensidade o dia de hoje, para o qual nos foram
concedidas as graças necessárias para o superar. É um tempo para procurar dar
um sentido de maior profundidade à nossa vida, já que os desgostos que a vida
nos proporciona ensinam-nos a manter o silêncio, a compreender melhor o próximo,
a ser solidário com o seu sofrimento, tentar ser positivo e sobretudo recriar a
esperança no futuro.
Senhor, eu creio, adoro, espero e amo-vos… O importante é
lutar sempre. Recordo-me que alguém terá referido que a nossa vida é como uma
tapeçaria muito bonita na parte da frente, mas pelo avesso é composta de fios e
nós. Por analogia, simboliza assim a nossa vida, em que se torna necessário manter
a fortaleza mesmo nos piores momentos, a paciência, a firmeza, a mansidão, a
humildade, permanecendo sempre centrados nos objetivos a atingir, neste caso, a
recuperação do familiar, suportando as contrariedades da vida, com constância tendo
em vista um bem supremo, ou seja, ser um ombro de apoio, um regaço onde ficam
as dores e as penas.
Amo muito o mundo, com tudo o que tem de bom, tendo procurado
fazer, na medida do que me era possível, o que se encontrava ao meu alcance
para ajudar quem mais precisava. Com muita luta, sofrimento, empenho, alegrias,
dores… Mas mais uma vez, um familiar de grande proximidade adoece com uma
doença oncológica…. Ó meu Deus, permite-me este desabafo sentido. Passar uma e
outra vez por processos semelhantes. Mas se Tu queres, eu também o quero. Tudo
posso n´Aquele que me conforta. Acredito que a medicina se encontra a evoluir
bastante neste domínio. Deposito, pois, a maior esperança na sua recuperação. Unem-nos
não só os laços familiares, mas também o amor que sentimos uma pela outra,
esquecendo tudo o que nos separa. Coração, coração na Cruz! Na verdade, o nosso
Pai do céu é muito generoso connosco. Acontece que com algum grau de frequência
recordamos o mal que nos aconteceu e que de algum modo nos marcou. Isto é, o
mal tenta-nos convencer de que a morte é o fim de tudo. Mas Jesus ressuscitado,
abre-nos um novo horizonte, que temos de conquistar na terra. A vida eterna. Logo,
acredito que, apesar de não entender algumas vezes, procuro ver a mão de Deus
nos acontecimentos, já que não nos dá mais sofrimentos do que o que possamos
humanamente suportar e sabe o que nos convém a cada momento ocupando-se de nós.
Não resisto a referir um testemunho pessoal, que me marcou
pela positiva. Tinha perdido o contacto de uma pessoa amiga, com quem precisava
de falar com algum grau de urgência. O número do telemóvel já não se encontrava
atribuído. Por outro lado os emails
eram devolvidos. Em desespero de causa, um dia, em que ia assistir a uma
palestra espiritual, coloquei, enquanto intenção particular, conseguir restabelecer
o contacto com a pessoa em questão. Entrei no auditório, coloquei o telemóvel
na posição de silêncio, fiz as minhas orações. Também me encontrava preocupada
pela ausência de notícias de um dos meus filhos. A palestra começou. O tema que
o sacerdote abordava, muito interessante, era subordinado à fortaleza. De
repente, o meu telemóvel começou a tocar. Era o meu filho. Ficámos de falar
mais tarde. Confirmei se o telemóvel se encontrava na posição de silêncio e
entrei novamente no auditório. Pouco depois o telemóvel voltou a tocar mas com
um som inusitado, muito alto, que chamou a atenção de todos os participantes.
Tive de abandonar o auditório o mais depressa possível. O número era
desconhecido. Em situações normais não atenderia, mas inconscientemente, atendi
o telemóvel. Do outro lado respondeu a pessoa que procurava ansiosamente. A
alegria perante o reencontro foi enorme, bastante efusiva mesmo. Falámos
durante algum tempo colocando as novidades em dia. Trocámos os novos contactos.
Felizes com a reaproximação, agendámos um próximo encontro. Quando desliguei o
telemóvel verifiquei que se encontrava na posição de silêncio. Resolvi deixá-lo
na receção. Não o queria desligar porque não tinha presente o seu número.
Regressei para o auditório, ainda incrédula com as duas graças extraordinárias.
Mais tarde pedi a uma amiga para me ligar no sentido de detetar se o telemóvel
na posição de silêncio estava com alguma avaria, não tendo o mesmo tocado.
Este acontecimento trouxe-me ao pensamento a frase de Jesus:
“Se tiverdes fé nem que seja do tamanho de um grão de mostarda direis a esta
montanha para ir daqui para lá e ela irá”. Na verdade, a nossa fé, quantas
vezes é pequena! S. Josemaria no
ponto 411 de Forja escreveu: “Não são a mesma coisa um vento suave e um
furacão. Pequenas contrariedades, escassez, dificuldades… Suportava-los
gostosamente… Mas meu pobre filho, chegou o furacão, e sentes um sacudir, um
bater que arrancaria árvores centenárias. Tem confiança, não poderá arrancar a
tua Fé e o teu Amor nem tirar-te do caminho… se tu não te afastares”.
Senhor meu Deus, coloco-me incondicionalmente in manus tuas, acompanhada pela mão de
Maria, mãe de Jesus, que caminha pela terra iluminando-nos com a sua luz,
constituindo um porto de abrigo e um caminho seguros, para chegarmos, quando
chegar o nosso momento, em segurança, a Jesus.
Maria Helena Paes |
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