Congresso Eucarístico termina no Sameiro
A capacidade de mobilização dos católicos portugueses volta a ser testada este domingo, na peregrinação ao Sameiro, tradicionalmente um momento forte da Igreja Católica local, mas que este ano reúne crentes de todo o território nacional, marcando o encerramento do 5º Congresso Eucarístico Nacional (5CEN), que tem decorrido na cidade de Braga desde a última sexta feira.
Os devotos locais e pelo menos parte dos 1400 congressistas partirão a pé da Sé de Braga às 7h, acompanhando o andor da Senhora do Sameiro que desceu do monte na sexta-feira e regressará ao seu templo. À sua chegada haverá a Eucaristia final, presidida pelo enviado extraordinário do Papa, o cardeal José Tolentino Mendonça.
Da multiplicidade de atividades do segundo dia do 5CEN, destacaremos, precisamente, a conferência de Imprensa em que este destacado membro da Cúria romana respondeu às perguntas dos jornalistas, não sem antes sublinhar ser portador daquilo que “está no coração do Santo Padre – um grande amor a este país” e também a “sua bênção apostólica para a Igreja portuguesa e para todos os portugueses. Aproveitou também para observar que o Congresso Eucarístico “tem conseguido uma mobilização e uma qualidade verdadeiramente notáveis”.
Interrogado sobre se este Congresso constitui um passo em frente na vida da Igreja, como desejou o Papa Francisco, em mensagem enviada a propósito desta iniciativa, o cardeal começou por referir a Jornada Mundial da Juventude, notando que ela “mostrou-nos uma geração, a dos jovens, que hoje demonstra uma vontade de renovação, de construir a vida, de viver uns com os outros e de viver o evangelho de Jesus com uma frescura, uma beleza e uma alegria que nos contagiou a todos”. Esse foi um passo e este Congresso é outro, disse, e constitui “uma grande oportunidade”, já que “as transformações na Igreja acontecem quando ela aprofunda a sua dimensão espiritual”. A consciência da missão que daí decorre tornará a Igreja “mais viva, mais participativa e com uma capacidade de testemunhar o amor ainda mais forte”
Respondendo a outro jornalista, Tolentino Mendonça começou por observar que a eucaristia é “o pão repartido para um mundo novo”. E, a partir dela, acrescentou, “os cristãos assumem a responsabilidade de celebrar a memória de Jesus, através do rito e do culto, mas também através de uma cultura que passa pelo compromisso concreto no mundo com os homens e mulheres, na construção de uma história mais justa, mais fraterna e solidária”. Estas dimensões são tão mais necessárias, quanto, segundo disse, vivemos “tempos de tantas polarizações, onde um vento de pessimismo percorre os corações” e onde a Europa, “já hoje, se vê ameaçada por uma guerra que nos toca tão profundamente”. Neste quadro, “tudo aquilo que a eucaristia representa é uma cultura de paz, é uma mensagem necessária, num contexto divisivo, como é aquele em que o mundo hoje vive”.
O 7MARGENS questionou o cardeal Tolentino sobre a relação, que neste congresso não pareceu muito explícita, entre o atual processo sinodal da Igreja e a eucaristia, que é o centro das atenções no 5CEN. “Penso que o Sínodo”, respondeu ele, “nos impele a deixar um lugar comum que é pensar que os leigos ‘assistem’ à eucaristia e não são parte ativa da Eucaristia. Ora a eucaristia é o lugar por excelência da participação. De todos. E um dos aspetos que a primeira sessão do Sínodo salientou muito foi a necessidade de ativar uma Igreja mais ministerial e ter aí uma criatividade carismática, identificando formas de serviço e de testemunho que envolvam cada vez mais os leigos. Ora a Eucaristia é um ponto de convergência dessa Igreja carismática e ministerial e é um ponto de partida. Nesse sentido a eucaristia é, de facto, o lugar onde as estruturas da Igreja se renovam e nos descobrimos mais profundamente um povo de irmãos”.
Nesta linha, para Tolentino de Mendonça, “desde sempre a eucaristia é um lugar de portas abertas, é um lugar de inclusão. Naturalmente, há o caminho de fé, o catecumenato, a aprendizagem do que a eucaristia significa, mas, ao mesmo tempo, é uma mesa que não é mesa de exclusão, mas de integração”.
Desenvolvendo esta última afirmação, o cardeal português rematou: “Aquele todos, todos, todos que o Papa Francisco incansavelmente repete é sem dúvida uma lição que, em profundidade, nós aprendemos na celebração da eucaristia. Que é vivida como um momento certamente de responsabilidade individual e comunitária; mas ao mesmo tempo é o lugar do fazer da comunidade. É o momento da arquitetura da comunidade. E por isso a eucaristia tem de ser um movimento sempre mais amplo, um abraço cada vez maior, porque só assim é fiel ao abraço de Cristo à nossa humanidade”.
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