1 - Queridos irmãos e irmãs:
O Verbo fez-Se carne e habitou entre nós e nós vimos a Sua glória! Vimos a Sua glória! Certamente reparastes na força destas palavras. Elas acentuam a novidade do Novo Testamento em relação ao Antigo. Nesse, as palavras que convidam a escutar têm a primazia. Basta lembrarmos a oração que o povo de Israel reza três vezes ao dia… Escuta Israel, o Senhor nosso Deus é o único Senhor. Cristo é a Palavra que podemos escutar na Criação inteira, na história de Israel, na Lei de Moisés. Mas nós reconhecemos que essa Palavra se fez carne, se fez homem, homem que podemos não apenas escutar, mas ver. Nós vimos a Sua glória! Ver a glória do Verbo Encarnado significa reconhecer o Seu peso e a Sua importância, saborear a Sua beleza e sabedoria. Felizes de nós, irmãos e irmãs, que acreditamos em Jesus Cristo Nosso Senhor. N’Ele, nas Suas palavras e nos Seus gestos, podemos ver o Deus invisível. Quem Me vê, vê o Pai, disse Jesus aos Seus discípulos.
2 - Na primeira leitura tirada do livro de Isaías, o profeta convida as ruínas de Jerusalém a gritarem de alegria, porque veem com os próprios olhos o Senhor que volta para Sião. O Senhor descobre o Seu santo braço à vista de todas as nações e todos os confins da terra verão a salvação do nosso Deus. Respondemos a esta profecia com uma frase correspondente do Salmo 97: Todos os confins da terra viram a salvação do nosso Deus! Esta mesma certeza é professada por nós no Prefácio da Missa de Natal com estas palavras: Pelo Mistério do Verbo Encarnado nova luz da Vossa glória brilhou sobre nós, para que, contemplando a Deus visível aos nossos olhos, sejamos arrebatados no Amor do que é invisível.
Ouvíamos há momentos, na proclamação do Evangelho, que o Verbo era a Luz verdadeira que, vindo ao mundo, ilumina todo o homem. Estava no mundo, e o mundo, feito por Ele, não O conheceu. Veio para o que era Seu e os seus não O receberam. Mas àqueles que O receberam e acreditaram no Seu nome, deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. É um grande mistério a rejeição do Filho de Deus por parte do povo de Israel e, hoje também, por parte de tantas e tantos batizados em Seu nome. Mas é coisa maior, é mistério mais sublime, a consequência positiva dessa rejeição: àqueles que O receberam deu-lhes o poder de se tornarem filhos de Deus. Para isso veio ao mundo o Senhor: para nos dar o Seu Espírito que nos faz participantes da Sua mesma natureza divina e para nos dar a comunhão cheia de graça e de verdade, com Ele e com o Pai.
3 - Celebrar o Natal hoje, é celebrar o Nascimento de Cristo Ressuscitado em nossas vidas, é cultivarmos a vida de Jesus, Filho Unigénito de Deus, de modo que vivamos neste mundo como filhos adotivos de Deus Pai, imitando as obras e os gestos do Seu Filho, Jesus. Ele viveu na comunhão com o Pai, alimentando-Se diariamente com fazer a Sua vontade, Ele amou-nos a todos servindo-nos e dando a Sua vida por nós.
Como ouvíamos há momentos,
também no Evangelho, a Deus ninguém O viu. O Seu Filho foi quem O deu
a conhecer. O Seu Filho é quem, também hoje, O dá a conhecer por meio dos
membros do Seu Corpo, que somos nós, praticando as obras de misericórdia, tanto
corporais como espirituais: dando de comer a quem tem fome e de beber a quem
tem sede, vestindo os nus, dando pousada aos peregrinos, visitando os presos, assistindo
os enfermos, sepultando os mortos, ensinando os ignorantes, dando bom conselho,
corrigindo os que erram, consolando os tristes, perdoando as injúrias, sofrendo
com paciência as fraquezas do nosso próximo, rogando a Deus por vivos e
defuntos. Estas obras de misericórdia são obras de Deus, obras que o Seu
Espírito realiza por meio daqueles que acreditam em Jesus. Disponhamo-nos,
irmãos, a praticá-las, tornando-nos dóceis ao Espírito Santo e reveladores do
amor divino do Senhor por toda a humanidade.
4 - A docilidade ao Espírito Santo, ou seja, deixarmo-nos guiar pelo Espírito é coisa própria dos filhos adotivos de Deus. Como Jesus depois de ser proclamado filho de Deus ao ser batizado no rio Jordão, Se deixou conduzir pelo Espírito ao deserto, assim também deve acontecer na vida daqueles cujos corações são habitados pelo Espírito Santo. Sendo membros do Povo de Deus, membros do Corpo de Cristo e pedras vivas do Templo do Espírito Santo, sendo Igreja doméstica, a nossa vida deverá estar marcada pelo culto espiritual que Jesus veio inaugurar neste mundo. Trata-se, neste culto novo, de nos oferecermos a nós mesmos a Deus, unidos a Cristo, como vítimas vivas, santas e agradáveis. Trata-se de vivermos na terra como cidadãos do céu. Para isso é fundamental não nos adaptarmos a este mundo e transformarmo-nos pela renovação do nosso espírito, para conhecermos a vontade do Senhor nosso Deus e a pormos em prática. Quem tem esta vida nova tem um coração humilde e agradecido a Deus, e cheio de amor ao próximo.
Neste ano que iniciaremos daqui a oito dias iremos celebrar em Lisboa e também na nossa diocese e em todo o Portugal a Jornada Mundial da Juventude. Preparemo-nos para participar nesse acontecimento acolhendo os jovens de outros países que nos visitarão. Contamos que serão dias de intensa comunhão fraterna. Recordo-vos esta palavra que nos ensina a receber os irmãos com amor: é dando que se recebe.
5 – Queridos irmãos e irmãs: sem Deus não há verdadeiro Natal. Sem Deus Pai, fonte da Vida, Jesus é apenas um homem; sem o Espírito Santo Cristo não é senão um homem, um homem bom e sublime, mas apenas homem. No entanto Ele, que foi gerado pelo Espírito Santo no seio da Virgem Maria, é verdadeiramente filho de Deus e verdadeiro filho de Maria. N’Ele, Deus e o Homem são um só. N’Ele se cumpre a verdadeira Religião, n’Ele, oferecido ao Pai no Altar da Cruz se realizou, de uma vez por todas, o Sacrifício pelo qual foram pagas as dívidas dos pecados do mundo. N’Ele, ressuscitado pelo Pai, a nossa morte foi vencida, foi transformada em óbito, quer dizer, no encontro com Ele ressuscitado, em passagem deste mundo para o Pai. Perante estas maravilhas que Deus nos oferece no Seu Filho Encarnado, como não devemos louvar e bendizer o Senhor pelo Seu amor para connosco?
Sim, irmãos e irmãs, louvemos o Senhor celebrando a Eucaristia, e pedindo-lhe a graça de vivermos o Natal e os outros momentos da vida do Senhor como dons para o nosso crescimento espiritual como seus filhos adotivos e herdeiros.
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