Páginas

sábado, 24 de dezembro de 2022

Natal - 2022 - Homilia da Missa da Noite na Sé

1 - Caríssimos irmãos e irmãs: é Noite de Natal!

Com o solstício do Inverno em que os dias começam a crescer, celebramos a vitória da luz sobre as trevas.

As leituras que escutámos falam-nos da luz que surpreendeu o povo que andava nas trevas. Falam-nos do fim do cativeiro de Babilónia que permitiu ao Povo de Israel regressar a Jerusalém para reedificar o templo e as muralhas da cidade. As trevas em que esse povo vivia mergulhado eram a triste situação do cativeiro, eram as guerras e a morte, e também as idolatrias que não lhe permitiam vislumbrar um futuro digno, um futuro de paz. A luz, a grande Luz, que brilhou para esse povo está resumida num Menino recém-nascido. Porque um Menino nasceu para nós, um Filho nos foi dado. Tem o poder sobre os ombros e será chamado Conselheiro admirável, Deus forte, Pai eterno, Príncipe da paz.

2 - A nós cristãos, este Menino, Príncipe da Paz, foi revelado como sendo Jesus de Nazaré. Ele, no dizer da carta do apóstolo S. Paulo a Tito, manifestou-nos a graça de Deus, fonte de salvação para todos os homens e ensinou-nos a renunciar à impiedade e aos desejos mundanos para vivermos, no tempo presente, com temperança, justiça e piedade, aguardando a ditosa esperança da Sua segunda vinda. O Nascimento de Jesus manifesta-nos a graça, quer dizer, o amor gratuito com que o Senhor nos ama. Jesus Cristo Nosso Salvador entregou-Se por nós, para nos resgatar de toda a iniquidade e preparar para Si mesmo um povo purificado, zeloso das boas obras.

Caríssimos irmãos: reconhecei-vos amados, gratuitamente, por Deus. Na Sua misericórdia, no Seu amor que nós não merecemos, Ele resgatou-nos do pecado, dá-nos o Seu Espírito e coloca-nos, como Seus filhos adotivos, a viver na prática do bem.

3 - Os dois sinais que os anjos dão aos pastores para poderem reconhecer o Salvador, foram estes: Um Menino recém-nascido envolto em panos e deitado numa manjedoura. Estes sinais manifestam-nos a presença de Jesus nascido nas nossas vidas. Envolvido em panos pode significar para nós a Sua debilidade e a necessidade de obedecermos à Lei. Deitado numa manjedoura, como num pequeno túmulo, Jesus apresenta-Se-nos como alimento espiritual. De facto, Ele nos convida, desde o Seu Nascimento, a vermos o Seu corpo como o novo maná, como o Pão vivo descido do céu, que todos precisamos de comer para termos a Vida Eterna.

4- E que podem significar para nós as palavras cantadas pelos anjos: Glória a Deus nas alturas e paz na terra aos homens por Ele amados? Para que haja paz na terra é necessário que os homens deem glória a Deus. Quando cada um busca a sua própria glória e se coloca no lugar de Deus, fomenta a guerra. Dar glória a Deus, desistir cada um de aparecer como deus e aceitar-se como ser humano com as suas limitações, leva-nos, necessariamente, a ver os outros como irmãos e a viver com eles em paz.

Como todas as festas do Senhor que celebramos, também o Seu Natal nos situa corretamente na nossa vida. Jesus nasce para nós, para nos dar a Vida verdadeira e nos ensinar a verdadeira Sabedoria, para nos libertar da escravidão e das trevas do pecado e nos iluminar com a prática do bem. Agradeçamos-Lhe, caros irmãos e irmãs, e peçamos-Lhe a graça de sermos anunciadores do Seu Amor salvífico neste mundo. Quantas vezes, ao longo destes dois mil anos, as palavras do Evangelho amaciaram os corações endurecidos e lhes deram a Sabedoria que fez aparecer a Caridade onde antes só existiam ódios. Peçamos ao Senhor o fim da guerra atualmente em curso entre a Rússia e a Ucrânia. Para que a Sua Paz cresça e triunfe, demos a Deus toda a honra e toda a glória.

5 – Entre nós, o Natal é a festa das famílias. É a festa em que se encontram, às vezes vindos de longe, os familiares que vivem dispersos. É a festa das prendas, a festa da Consoada em que revivemos alguns momentos mais simpáticos da nossa infância. Queridos irmãos e irmãs: como estão diferentes as famílias neste nosso tempo! Quantos casais divorciados, quantas pessoas recasadas, quantas crianças não têm a alegria de viverem com o pai e com a mãe, quantos idosos estão em lares, longe dos filhos e dos netos…Não lhes falta nada, mas tantas vezes não têm o calor de um abraço dos seus familiares. Rezemos por eles! Amemo-los lembrando-nos deles não apenas no tempo do Natal, mas ao longo de todo o ano.

Rezemos, unamo-nos no Senhor, no Seu amor. Essa prenda podemos dá-la tão facilmente, e oferecemo-la tão pouco!

Dar glória a Deus é também suplicar-Lhe pelos nossos irmãos e amigos.

Caros irmãos e irmãs que viestes á Missa do Galo. Alegremo-nos no Senhor! E com o mesmo Espírito de Jesus que sendo Deus Se fez homem próximo de nós, aproximemo-nos também nós daqueles que mais precisam, levando-lhes a paz e a alegria do Senhor.

E assim, levando Jesus aos nossos irmãos, teremos um santo Natal.

+ J. Marcos, bispo de Beja


Sem comentários:

Enviar um comentário