INDIGNAÇÃO
Nota da Associação
de Juristas Católicos
A Associação de Juristas Católicos acaba
de ver recusado o seu pedido de audição parlamentar no âmbito da discussão dos
projetos de lei relativos à legalização da eutanásia e do suicídio assistido. A
recusa funda-se no facto de esta associação já ter sido ouvida na legislatura
anterior a propósito de outros projetos de lei sobre a mesma matéria.
Queremos manifestar o nosso repúdio e a nossa profunda indignação perante esta
recusa, de todo injustificada.
Não se trata de completar o processo legislativo interrompido na legislatura
anterior, trata-se de um novo processo que culminará numa votação em que
participam alguns deputados só agora eleitos e não sujeitos a uma disciplina de
voto previamente definida.
Os projetos em discussão são agora claros no sentido do alargamento do campo de
aplicação da lei para além das situações de doença terminal e morte iminente
(uma situação que alguns designam como “antecipação da morte”), abrangendo
também situações de doença incurável (para além das situações de deficiência,
já contempladas anteriormente), que seriam compatíveis com o prolongamento da
vida por muitos anos. Trata-se de uma mudança substancial que nos aproximará
dos sistemas legais mais permissivos, como foi salientado pelo Senhor
Presidente da República.
Esta recusa:
Ofende gravemente, numa questão do maior
relevo ético, político e jurídico, os princípios da democracia participativa e
não dignifica o próprio Parlamento;
Impede cada um dos Senhores deputados, os que já o eram na legislatura anterior
e os que só nesta iniciaram funções, de exercer o seu voto de forma livre e
consciente, porque esclarecida por um diálogo plural;
Revela desprezo pela sociedade civil e desvaloriza a participação dos cidadãos
no processo legislativo. Quando tantas vezes se lamenta o défice de
participação política dos cidadãos portugueses, recusas como esta só podem
incentivar esse défice.
É este o motivo da nossa indignação, que queremos afirmar de forma veemente.
Temos esperança de que a democracia seja reposta, repensando-se esta triste
decisão e, assim, ouvidas as instituições da sociedade civil.
Lisboa, 8 de julho de 2022
A Associação dos Juristas Católicos
associacaodosjuristascatolicos@gmail.com
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