No
centro de Boston há um memorial em bronze alusivo aos irlandeses que chegaram
na região, no século XIX, acuados pela fome. Uma placa aos pés da peça que
mostra um casal e seu filho, famintos, lembra que alguns fatores que provocaram
a grande fome ainda existem no mundo e
que a lição irlandesa deve ser aprendida para que a história pare de se
repetir. Outro conjunto mostra uma família ereta, a exalar dignidade. A placa
que a ela corresponde informa que apesar da rejeição dos bostonianos da época,
aqueles irlandeses miseráveis, com sacrifícios e trabalho, venceram. E um de
seus descendentes tornou-se o primeiro presidente católico do país.
Kennedy
graduou-se em Harvard e foi o mais jovem presidente norte-americano. Tivemos a
felicidade de visitar o museu John Kennedy, na baía de Boston, e de assistir
inúmeros discursos em que se percebe a forma simples e firme de expor suas
ideias. Frasista de primeira grandeza, num dos debates televisivos da campanha
em que bateria Nixon por pouco mais de cem mil votos, num colégio eleitoral de
sessenta milhões, Kennedy lembra uma frase de Lincoln em que este questiona
como poderia um país viver com uma metade escrava e a outra metade livre. Afirmou,
então, que a pergunta mudara: como poderia o mundo viver com uma metade livre e
a outra metade escravizada? Tomava por escravos os miseráveis e os que viviam
sob a bota comunista. Hoje, como sabemos, os candidatos a escravos são os que
não detêm tecnologia.
Com
filmes da época, o museu revive momentos importantes e perigosos daquele
período, como a crise dos mísseis em
Cuba, a corrida espacial e o racismo. A segregação racial nos Estados Unidos era
tamanha que George Wallace, governador do Alabama, estado no qual dois
estudantes negros haviam sido impedidos de frequentar a universidade,
manifestou-se por forma inacreditável. Disse que a segregação existia e
continuaria a existir, para sempre. Foi necessária a intervenção federal para
garantir o que deveria ser respeitado como um direito natural.
Estivemos também no Massachusetts Institute of
Technology (MIT). Casualmente era dia de formaturas e pudemos observar
a alegria de graduados e doutorados naquela que é referência mundial em ciência
e tecnologia. Numa das fotos que bati, capturei um pai a fotografar o filho,
togado, diante de uma placa com o nome da instituição. Era possível apalpar o
orgulho daquele pai. Foi decididamente uma cena bonita, como o é sempre a
conquista pelo mérito. Um momento que guardei no peito, primeiro como pai e
depois como brasileiro. Foi inevitável lembrar que no Brasil a lei do menor
esforço tem preponderado e que muitas políticas públicas têm enfraquecido o
povo, tornando-o dependente e pouco competitivo.
Convivi
profissional e academicamente com brasileiros doutorados pelo MIT, todos
merecedores da minha admiração. Um deles, graduado também pelo ITA, migrou para
o Canadá. Os demais mantiveram-se ligados à Universidade de São Paulo e fazem,
ou fizeram, bem menos do que poderiam, sobretudo porque o país não aproveita da
melhor forma seus filhos mais competentes.
Por
conhecer esta realidade bem de perto, a lamento com pesar tão profundo quanto
quase desesperançado. Luto contra esta derrota de alma, aquela que nos faz
perder a fé no país, mas é forçoso reconhecer que os últimos anos têm sido
verdadeiros murros no queixo de nosso futuro, que dobrou os joelhos e está nas
cordas. Para os que se contentam em produzir commodities, para os que não se
importam que nossa produção tecnológica e científica seja medíocre, tudo corre
muito bem. Para os que se contentam em viver num país estacionado, para os que
têm como objetivo maior apenas sentar num automóvel moderno ou de vez em quando
desfrutar dos prazeres que o mundo desenvolvido oferece, tudo vai bem e nada
precisa mudar.
Mas os que sonharam com um Brasil competente e não se renderam, estes
devem persistir na luta e empreender no país. Ainda que sejamos governados por alguns
desonestos e sobretudo por boçais e incompetentes, nos resta esperar que os
brasileiros que cada vez mais viajam para o exterior deixem de se comportar
como deslumbrados e enfim decidam fazer do Brasil um país melhor. Se seguirmos
o que Benjamin Franklin apregoou para a educação, daremos o grande passo: “Me fale e eu esqueço, me ensine e eu posso
lembrar, me envolva e eu aprendo”.
J. B. Teixeira |
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