Difunde-se cada vez mais a chamada ideologia do género.
Porém, nem todas as pessoas se apercebem disso e muitos desconhecem o seu
alcance social e cultural, que foi qualificado como verdadeira revolução
antropológica. Não se trata apenas de uma simples moda intelectual. Diz
respeito antes a um movimento cultural com reflexos na compreensão da família,
na esfera política e legislativa, no ensino, na comunicação social e na própria
linguagem corrente.
Mas a ideologia do género contrasta frontalmente com o acervo
civilizacional já adquirido. Como tal, opõe-se radicalmente à visão bíblica e
cristã da pessoa e da sexualidade humanas.
A pessoa humana é a totalidade unificada do corpo e da alma,
existe necessariamente, como homem ou mulher. Por conseguinte, a dimensão
sexuada, a masculinidade ou feminilidade, é constitutiva da pessoa, é o seu
modo de ser, não é um simples atributo. É a própria pessoa que se exprime
através da sexualidade. A pessoa é, assim, chamada ao amor e á comunhão como
homem ou como mulher. E a diferença sexual tem um significado no plano da
criação: exprime uma abertura recíproca à alteridade e à diferença, as quais,
na sua complementaridade, se tornam enriquecedoras e fecundas.
A ideologia do género surge, assim, como uma antropologia
alternativa, quer à judaico-cristã, quer às outras culturas tradicionais não
ocidentais. Nega que a diferença sexual inscrita no corpo possa ser
identificativa da pessoa; recusa a complementaridade natural entre sexos;
dissocia a sexualidade da procriação; sobrepõe a filiação intencional à
biológica; pretende desconstruir a matriz heterossexual da sociedade (a família
assente na união entre um homem e uma mulher deixa de ser o modelo de
referência e passa a ser um entre vários).
Como para esta ideologia, o género é uma construção social,
este pode ser desconstruído e reconstruído. O género deixa de corresponder ao sexo,
mas pertence a uma escolha subjectiva, ditada por instintos, impulsos,
preferências e interesses, o que vai para além dos dados naturais e objectivos.
No plano estritamente científico, obviamente, é ilusória a
pretensão de prescindir dos dados biológicos na identificação das diferenças
entre homens e mulheres. Estas diferenças partem da estrutura genética das
células do corpo humano, pelo que nem sequer a intervenção cirúrgica nos órgãos
sexuais externos permitiria uma verdadeira mudança de sexo.
É certo que a pessoa humana não é só natureza, mas também é
cultura. E também é certo que a lei natural não se confunde com a lei
biológica. Mas os dados biológicos objectivos contêm um sentido e apontam para
um desígnio da criação, que a inteligência pode descobrir como algo que a
antecede e se lhe impõe e não como algo que se pode manipular arbitrariamente.
A pessoa humana é um espírito encarnado numa unidade
bio-psico-social. Não é só corpo, mas é também corpo. As dimensões corporal e
espiritual devem harmonizar-se, sem oposição. Do mesmo modo, também as
dimensões natural e cultural. A cultura vai para além da natureza, mas não se
lhe deve opor, como se dela tivesse de se libertar.
A
ideologia do género não só contrasta com a visão bíblica e cristã, mas também
com a verdade da pessoa e da sua vocação. Prejudica a realização pessoal e, a
médio prazo, defrauda a sociedade. Não exprime a verdade da pessoa, mas
distorce-a ideologicamente. (Carta Pastoral da Conferência Episcopal Portuguesa,
A propósito Da Ideologia Do Género)
Gustavo de Almeida
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