Acredito que muitos de nós vivenciámos estupefactos o que se passou com o pequeno Alfie Evans na tentativa de lhe prolongar a vida nem que fosse por mais algum tempo. Como pode a lei sobrepor-se aos apelos dos pais? Não é justo, não ter sido concedida a oportunidade de esgotar todas as possibilidades de tratamento. Nem ao Santo Padre que se disponibilizou para o transferir a custo zero, suportadas todas as despesas pelo Hospital Infantil Bambino Gesù em Roma deram ouvidos. O meu coração chora, como o de milhões de pessoas que acompanharam a dor e o sofrimento destes pais. Quando se gosta de alguém, queremos a todo o custo prolongar a sua vida, a sua permanência entre nós, enquanto há vida, há esperança, logo, presumo que desconhecem esta virtude. “Eu Sou a Mãe do Amor Formoso, em mim está toda a esperança da vida e da virtude”, diz-se no Antigo Testamento, aplicando-se a frase à Virgem Maria. Nos perigos, nas angústias, nas dúvidas invoquemos Maria. Se Maria te estende a mão, não cairás, nada terás a temer, chegarás a bom porto. Acreditamos que sim.
Teria Deus outros planos para o pequeno Alfie? O seu lindo rosto, cândido, inocente, de uma extrema pureza e ternura, fez passar uma mensagem ao mundo, em particular aos que o deixaram morrer, destruindo a última réstia de esperança, através da indiferença, salvaguardados por uma lei desumana e dura. Mas o Amor vence. Esse, existente no fundo do nosso coração, não há lei humana que o possa proibir. Acredito que o pequeno Alfie se tornará um símbolo em prol da bondade e dos direitos da criança. Descansa em paz, querido Alfie, na vida eterna, nos braços de Jesus e de Maria e reza agora por todos nós, em particular pela tua família acompanhando-os no seu indiscritível sofrimento neste momento de separação física, mas que se verá reconfortada. Mais uma estrelinha no Céu, a sua, que nos iluminará a todos.
Pela minha mente surgiu um momento vivenciado há poucos anos, com um familiar que sofria de uma doença terminal, um melanoma. Foi aberto e fechado na sala de operações. Não havia nada a fazer. Encontrava-me presente quando o cirurgião veio dar a triste notícia. Mas a família juntou-se e lutou com todas as suas forças para lhe prolongar a vida. E assim partiu para o estrangeiro tendo entrado num programa experimental apesar da gravidade do seu estado. E perante o nosso espanto ganhou nova energia e vitalidade. Não parecia o mesmo. Chegou mesmo a partir para o estrangeiro de férias com a família. Mas uma infeção ditaria o seu fim no dia de Natal. Na minha mente ecoam ainda as palavras de uma enfermeira que muito nos apoiou, bem como toda a equipa médica que foi incansável: “As famílias sofrem muito nestes momentos!” O que gostaria de enfatizar é que, na realidade, não houve nenhuma lei que nos impedisse de cuidar a sua vida, o que não aconteceu ao pequeno Alfie. O meu familiar partiu, quando Deus o chamou. À família foi-lhe concedida a oportunidade de lutar até ao último momento.
Acredito que a medicina evoluirá muito neste campo. Também num campo tão necessário e urgente como seja, cada vez mais, o dos cuidados paliativos face ao envelhecimento da população. Recentemente, o Papa Francisco referiu que o abandono de pessoas idosas é uma eutanásia disfarçada. Apesar de todas as dificuldades relacionadas com o envelhecimento, os idosos podem ser como uma árvore que continua a dar frutos. Na Holanda, segundo Teo A. Boer, especialista na matéria da eutanásia, afirmou em sede de conferência na UCP, que “sem critérios bem definidos” poderemos entrar em “terreno pantanoso”. Para além de doenças terminais, a eutanásia começou a ser utilizada neste país para situações de pessoas com “distúrbios psiquiátricos, demência, doenças cardiovasculares” e mesmo doentes com doenças associados à “solidão”. Este especialista em Ética nos Cuidados de Saúde, que integrou a Comissão de Supervisão da Lei sobre a Eutanásia na Holanda, recomendou a Portugal não legalizar a eutanásia e apostar na criação de cuidados paliativos mais adequados e acessíveis a todos (in Agência Ecclesia).
O Papa Francisco referiu na sala Paulo VI, por ocasião da receção dos participantes da conferência subordinada ao tema “Unidos para Curar”: “Quando vejo representantes de culturas, sociedades e culturas diferentes unir as forças, para empreender um caminho comum de reflexão e compromisso em prol de quem sofre, fico muito feliz, pois a pessoa humana é ponto de encontro e instrumento de unidade… é preciso criar sinergias entre pessoas e instituições para superar os preconceitos e cultivar maior consideração pela pessoa doente”.
Termino este artigo como o comecei: “A Enorme Bondade Existente em Alguns Locais”. Todos nós gostaríamos que, num período mais complicado da nossa vida, existissem serviços de qualidade, a preços acessíveis para todos, com profissionais de saúde acolhedores, humanos e solidários, empenhados em ajudarem os doentes, bem como as famílias, a superar a doença ou, se for caso disso, a partir em paz rumo à Vida Eterna, sem necessidade sequer de se pensar na Eutanásia, em prol do bem-estar da humanidade. Acredito sinceramente que nesta terra de Santa Maria, conhecida pela sua enorme generosidade, paz, harmonia, empreendedorismo, inovação, amor ao próximo, seremos capazes de surpreender o mundo pela positiva, com medidas adequadas às necessidades com as quais nos confrontamos presentemente e no futuro.
Maria Helena Paes |
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