Há já algum tempo que almejava sentir-me como se fosse mais uma turista na cidade de Lisboa. Qual seria a minha sensação sobre a cidade? Aproveitei uma visita programada a uma amiga de longa data, que se encontra numa Residência, para apanhar o metro, saindo na Praça do Comércio. Daí seguiria para Belém ao seu encontro, para usufruirmos de um almoço tranquilo e colocarmos a conversa em dia. Deixei tudo um pouco ao acaso, ao sabor dos acontecimentos. Quando saí no Terreiro do Paço fiquei surpreendida com a quantidade de turistas. Misturei-me com eles. Mais uma vez admirei esta belíssima praça. Como era bonita e cheia de vida. Nas escadas da estátua do Rei D. José I encontravam-se descontraidamente sentados inúmeros jovens a usufruir da bela paisagem da cidade de Lisboa. De um lado o Rio Tejo. Uma suave brisa trazia um cheiro a mar. Um paquete atravessava o Rio Tejo bem como outras embarcações de recreio, de turismo e de transporte. As gaivotas também o sobrevoavam, neste dia em que o sol se tinha escondido. No lado oposto o Arco da Rua Augusta. Nos outros lados as esplanadas encontravam-se igualmente repletas de turistas a degustarem uma bebida neste local maravilhoso. Veio-me à memória Cracóvia com a sua belíssima praça, que muito me impressionou pela sua beleza bem como a escadaria da Praça de Espanha em Roma que constitui um ponto obrigatório ao visitar esta cidade. Claro que cada local, tem a sua particularidade, mas o Terreiro do Paço, possui um encanto muito especial. Fazia-se tarde. Resolvi apanhar o elétrico que fazia a ligação com Belém. Havia uma fila enorme de turistas à espera. Ainda assim consegui adquirir o bilhete a uma funcionária que se encontrava no local a fornecer informações e a vender bilhetes. Escusado será dizer que quando chegou rapidamente ficou repleto com turistas em pé. Tive muita sorte em ter arranjado um lugar sentado. Ainda bem que este elétrico possuía ar condicionado e era confortável. Misturada com os turistas, questionaram-me se era de origem francesa. “Não, respondi, sou portuguesa!”. Devem ter ficado a pensar o que faria uma portuguesa neste local. Mas hoje queria sentir-me estrangeira em Lisboa, com uma pausa para o almoço. Fui usufruindo da paisagem possível porque os turistas em pé não me deixavam visualizar o outro lado. Que pena! Saí antes de chegar a Belém ao encontro da minha amiga que já me aguardava. O almoço seria prolongado. Queria conceder-lhe toda a atenção do mundo, sem horas, sem pressões. Só terminaria quando a vieram chamar para uma visita já programada ao Estoril. Fiquei feliz, porque a encontrei muito bem de saúde nos seus quase cem anos, extremamente lúcida, com uma memória de fazer inveja. Quando deixei a Residência estava sol. Resolvi que faria o percurso até Belém a pé. Subi uma ponte pedestre, tendo passado para o outro lado, ou seja, iria fazer uma caminhada à beira-rio. Foi um passeio extremamente agradável e revigorante. Fui admirando a paisagem, a ponte 25 de Abril, o Cristo-Rei de braços abertos a recordar que tinha sempre um lugar disponível para todos no seu coração. Jesus disse: “Eu sou o bom pastor e o bom pastor dá a vida pelas suas ovelhas”. O Papa Francisco na sua homilia para o IV domingo de Páscoa, deu ênfase a que nestes nossos tempos agitados Deus não cessa de vir ao nosso encontro, acompanha-nos nas estradas por vezes poeirentas da nossa vida e sabendo da nossa pungente nostalgia de amor e de felicidade, chama-nos à alegria abordando três tópicos: escuta, discernimento e vida. Recordando que não temos de esperar ser perfeitos para darmos como resposta “eis-me aqui”, nem assustarmo-nos com as nossas limitações e pecados, mas acolher a voz de Jesus com o coração aberto. Maria Santíssima a jovem menina que escutou, acolheu e viveu a Palavra de Deus feita carne, nos guarde e sempre nos acompanhe neste nosso caminhar. Que bom viver com generosidade, com paz e alegria de fazer a vontade de Deus, com uma visão positiva, sentindo-nos abertos para decidir com toda a liberdade que Jesus nos concedeu. “Faça-se, cumpra-se, a Vossa justíssima e armabilíssima vontade”. Muitas vezes questionaremos: “Senhor, que pensaste em mim desde a eternidade, que queres de mim?” Acredito que só no silêncio da oração encontraremos uma resposta para as nossas dúvidas, que nos ajudará a perceber a razão da nossa vida.
Bem, continuei a minha caminhada tendo passado pelo MAAT, pelo Museu da Eletricidade, pela Cordoaria Nacional, tendo seguidamente atravessado outra ponte pedestre para o lado de Belém, na zona do Museu dos Coches. Segui por dentro da Praça Afonso de Albuquerque e do Jardim Vasco da Gama, não sem antes ter observado o Palácio de Belém, mas apetecia-me usufruir deste belo jardim. Achei imensa graça porque ao passar junto de um banco de pedra, tinha escrito que ali tinha nascido o Clube de Futebol “os Belenenses”, em 23 de Setembro de 1919! Tanta história para contar e recordar. Somos mesmo muito ricos em património cultural. Do meu lado esquerdo podia observar o Padrão dos Descobrimentos, a Torre de Belém ao fundo. De fronte, e bem mais recente, o Centro Cultural de Belém. À minha direita em toda a sua majestade o Mosteiro dos Jerónimos e a sua belíssima Igreja de Santa Maria de Belém. Senti-me orgulhosa do meu país e de toda a sua história que importa valorizar e dar a conhecer. Bem, já me sentia um pouco cansada. O melhor era pensar em regressar e como regressar. Talvez fosse bom degustar primeiro um pastel de Belém acabado de sair do forno. Nem pensar. A fila era muito longa. O melhor seria apanhar um transporte tendo em vista sair novamente na Praça do Comercio e passear pelo Chiado, descendo depois até ao Rossio. Acabaria por apanhar um autocarro novamente repleto. Mas desta vez era demais, com outro tipo de população, ou seja, já com pessoas que regressavam dos empregos, num caminho interior com muitas curvas com altos e baixos. Um destino, dois percursos diferentes. Na realidade senti-me algo indisposta. Saí numa rua interior dado que não aguentava mais. Graças a Deus, fiquei perto do Cais do Sodré. Andei novamente à beira-rio, à procura de um lugar para me sentar encontrando um parapeito em frente ao rio. Que bom sentir uma leve brisa marítima. O céu estava novamente cinzento, bem como o mar. Tinha o seu encanto. Fez-me recordar a pintura em tons mais escuros de um pintor. Veio-me ao pensamento o quadro de Caravaggio “As sete obras de misericórdia” que se encontra exposta na Igreja Pio Monte della Misericordia em Nápoles, magistralmente concebida por este pintor. Uma obra que nos deixa encantados e com uma profunda admiração por este famoso pintor que tão bem as representou. Olhei ao meu redor procurando, de algum modo, fazer a ligação com este pensamento, para além do dia mais escuro. Encontravam-se sentadas no parapeito e nas escadas várias pessoas de diferentes nacionalidades, algumas com aspeto de alguma carência económica ao longo deste caminho situado na Av. da Ribeira de Naus a qual parecia formar nesta zona, uma pequena praia com algumas ondas a rebentar. Não eram só turistas. Alguns eram pequenos vendedores ambulantes que passavam, outros aproveitavam uma pausa para usufruírem de algum descanso neste lugar privilegiado e repensar a vida, procurar encontrar uma oportunidade, um donativo concedido por alguém que circule com boa vontade. Existem sempre os contrastes. Não muito longe uma esplanada sobre o rio que se encontrava repleta de turistas em pleno gozo de férias numa cidade linda, que tinha muito para oferecer.
Sentindo-me um pouco melhor, dirigi-me ao Terreiro do Paço que atravessei até à Rua Augusta, que se encontrava novamente repleta. Achei interessante observar uma casa com uma especialidade de pastéis de bacalhau enormes com queijo da serra ou simples. Mais à frente resolvi parar num café para beber uma água. Mas não foi só. Um pastel de bacalhau quentinho, fez as minhas delícias, matou as saudades e deu-me as forças necessárias para regressar a casa. O resto do passeio seria adiado, talvez para um dia com o céu azul e luminoso.
Maria Helena Paes |
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