Durante um passeio à beira-mar
num dia quente de primavera, admirei a liberdade, o ar majestoso de uma gaivota
branca que parecia refletir o sol voando sobre o mar azul. Parecia que
simbolizava o prenúncio do verão… Tinha vindo dar este passeio com uns
sobrinhos, procurando na sua companhia manter viva a presença de uma irmã que
tinha partido prematuramente.
Aproximava-se o Dia da Mãe, sabia quão penoso
seria sentir a sua ausência. Durante o passeio a minha sobrinha tinha comentado
a dificuldade que existe em se ser inteiramente feliz sem os entes queridos que
já partiram. Mas as crianças irrequietas exigiram a nossa atenção, queriam brincar
na areia. Posteriormente, almoçaríamos, num dos restaurantes informais, com vista
sobre o mar. Quando chegou o momento de pagar a conta o meu sobrinho abriu a
carteira de onde caíram umas fotografias que pedi para ver. Uma delas era da
minha irmã, tão viva, tão real, tão sorridente e feliz que imediatamente
exclamei: “Um sorriso desde a eternidade”. Parecia que nos tinha vindo visitar,
para nos recordar que não se encontrava ausente mas sim que nos acompanhava
desde o céu. Que bela prenda no Dia da Mãe!
Pela minha mente surgiram algumas
palavras do Papa Francisco: “Olhando para a Mãe somos encorajados a deixar
tantas bagatelas inúteis e reencontrar aquilo que conta. O dom da Mãe, o dom de
cada Mãe e de cada mulher… Mãe terna, humilde, pobre de coisas e rica de amor”.
Por outro lado recordei que no
próximo dia 15 de Maio se celebra o Dia Internacional da Família decretado pela
ONU em 1994. Esta decisão das Nações Unidas foi um dos sinais da tomada de
consciência cada vez mais viva dos perigos e dos riscos que corre a humanidade
e cada uma das nações com os riscos a que têm estado sujeitas a vida familiar.
Ao pensar na Família hoje em dia,
sentimos que, face a todas as mutações existentes, é patente a necessidade de
fomentar a união das famílias, a sua coesão. Precisamos de uma sociedade
empreendedora, com valores, atenta a todas as mudanças existentes, no sentido
de procurar restaurar o que não está bem, manter os laços familiares, promover
a confiança das famílias, através de um equilíbrio harmonioso, entre aquilo que
esperamos da sociedade, o que lhe damos e o que dela recebemos. Sabemos que as
famílias enfrentam momentos difíceis, que se encontram algo desorientadas, com
um sentimento de impotência e de injustiça, face a medidas que são tomadas e das
quais discordam, com todas as consequências imprevisíveis que acarretam para o
futuro da humanidade.
Albert Einstein escreveu: “É na
crise que se aflora o melhor de cada um, porque sem crise todo o vento e brisa
é suave. Falar de crise é promovê-la, e calar a crise é exaltar o conformismo.
Trabalhemos arduamente, acabemos de vez com a única crise ameaçadora, que é a
tragédia de não querer lutar para superá-la”. Questiono, será que nos
empenhamos o suficiente ou, indiferentes, ficamos no nosso conforto, à espera
que outros o façam por nós?
É possível, sim, reconstruir uma
nova cultura que nos ajude a colmatar as situações que as famílias vivenciam
presentemente, encontrar novas soluções que vão de encontro às necessidades
existentes, numa sociedade que se quer justa e democrática. Basta que nos
empenhemos o suficiente para defender os nossos valores e os nossos ideais bem
esclarecidos, para que a nossa
consciência não nos questione se não poderíamos ter feito algo mais em sua
defesa, quando as leis com as quais não concordamos passam no parlamento,
ficando ainda com a esperança que o presidente ou o tribunal as vete, e mais
tarde, se tal não acontecer enquanto país democrático, vê-la-emos entrar em
vigor, tornando-se assim numa realidade. Na verdade, e por mim falo, temos
forçosamente de deixar o nosso conforto, o nosso sofá, passar à ação, ainda que
nos custe, e ser mais interventivos.
Refiro-me mais precisamente à
discussão da lei da Eutanásia. Num país que foi praticamente o primeiro país na
Europa e a nível mundial, de que tanto nos orgulhamos, a abolir a pena de morte
para crimes políticos em 1852, e para crimes civis em 1867, cujo artigo 3º
refere: “Todo o individuo tem direito à vida, à liberdade e à segurança”. Não
será enão um contrassenso ver aprovada tal lei numa altura em que a pessoa
humana se encontra doente, mais fragilizada e carece de um maior apoio
especializado ao nível dos cuidados de saúde, sociais, de afeto, de amor? E
quais serão as consequências no futuro? Com o envelhecimento da população, a
baixa taxa de natalidade, não é difícil prever que, apesar de todos os
contraditórios existentes, esta se venha um dia a generalizar.
Há alguns dias uma amiga
enviou-me um artigo de Shiho Fukada que referia que no Japão, o país mais envelhecido
do mundo, “As Prisões São um Paraíso Para as Mulheres Mais Idosas”. (https://www.blomerang.com/news/features/2018-03-16/japan-s-prisons-are-a-heaven-for-elderly-women).
Não vou desenvolver o artigo mas antes questionar se o melhor não seria mesmo
começarmos a antecipar o envelhecimento da nossa população, criando medidas
preventivas para que estas situações não se tornem uma realidade no nosso país.
Empenhemo-nos a combater a solidão, e criar diferentes estruturas sociais, de
justiça, de habitação e ao nível da saúde, tais como as unidades de cuidados
paliativos, que possam ajudar a que mais uma vez tenhamos o maior orgulho no
nosso Portugal, nestas terras de Santa Maria. Não fiquemos indiferentes a esta nobre
causa. E assim poderemos receber “Um Sorriso Desde a Eternidade”.
Maria Helena Paes |
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